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Sexta-feira, 1 de Abril de 2016 | Horário: 20:49

Centro Cultural Vergueiro recebe exposição inédita de Antonio Benetazzo

Até o dia 29 de maio, a cidade de São Paulo recebe no Centro Cultural Vergueiro a exposição "Antonio Benetazzo, Permanências do Sensível", a mais completa mostra deste artista plástico, morto brutalmente durante a ditadura militar, em 1972. A exposição, com curadoria de Reinaldo Cardenuto, reúne cerca de 90 obras, incluindo os desenhos realizados em 1971, quando esteve na clandestinidade.

“Esta exposição é muito importante para que todos os brasileiros saibam quem foi Antônio Benetazzo e conheçam a sua obra. Todos merecemos conhecer esta história melhor”, afirmou o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Eduardo Suplicy.


 




Um dos principais objetivos da mostra, além de inserir Benetazzo na História da Arte brasileira, é incentivar os visitantes a refletir sobre o regime autoritário. Por este motivo também serão realizados debates abertos sobre o tema.

“Esta exposição está acontecendo no dia 1º de abril de 2016, 52 anos depois do golpe militar. Ela ganha importância e passa pelo simbolismo muito grande para fazer com que a gente reflita tudo o que aconteceu”, destacou o secretário especial de Direitos Humanos do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Rogério Sottili.

As obras estão divididas em seis partes, que revelam os eixos temáticos e as variedades estilísticas do autor com estudos, objetos pessoais e cópias do jornal Imprensa Popular, publicação oficial do Movimento de Libertação Popular (MOLIPO), redigido por Benetazzo.

“Este trabalho é uma oportunidade de vermos como a ditadura militar nos prejudicou durante muitos anos sobre tantos pontos de vista. A possibilidade de recuperarmos todo este material maravilhoso e expor permite fazer desse projeto um espaço de reflexão”, disse o secretário municipal de Cultura, Nabil Bonduki.

O acervo é considerado o maior número de obras de Benetazzo já encontradas e reúne desde os primeiros desenhos do artista em 1963 até a sua última colagem, em 1972.


 




“É uma alegria muito grande ver a obra do meu irmão pública e aberta. Eu convivi com parte dela guardada em armários e gavetas durante 40 anos. Vê-las aqui, em contato com o público, é muito reconfortante”, disse a irmã do artista, Nordana Benetazzo.

A exposição, parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura, Centro Cultural São Paulo e Instituto Vladimir Herzog, coroa o inédito projeto desenvolvido desde 2014 pela Coordenação de Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo (CDMV/SMDHC).


Documentário
Além da exposição, a pesquisa sobre a obra e vida de Benetazzo deu origem também ao documentário "Entre Imagens – (Intervalos)", filme-ensaio dirigido por André Fratti Costa e Reinaldo Cardenuto, recentemente exibido durante a 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes.

O projeto resultará também na publicação de um livro com artigos da curadoria, de especialistas e reproduções das obras selecionadas para a mostra. 

A exposição, o documentário e o livro relembram que a ditadura não só impediu a produção e circulação de obras críticas contra o regime, mas atacou e prejudicou a sociedade como um todo.

“Nós já conhecíamos o lado militante de Benetazzo na luta contra o regime autoritário, para reestabelecer a democracia, mas poucas pessoas conheciam seu lado artístico e muito menos a dimensão de sua obra”, disse a coordenadora de Políticas de Direito à Memória e à Verdade, da secretaria municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Carla Borges.


O artista
Uma das fases mais intensas da trajetória artística de Benetazzo ocorreu na segunda metade da década de 1960. Naquele período, o professor de Filosofia e de História da Arte no Cursinho Universitário e no Instituto de Arte e Decoração (Iadê), compôs mais de 150 obras, com variados estilos, motivos e técnicas.

Dessa época datam autorretratos, retratos de familiares e de amigos, representações do corpo e da sexualidade feminina, abstrações realizadas com cores vibrantes, colagens pop a partir de material publicitário e nanquins, em diálogo com a estética visual dos ideogramas.

Benetazzo se dedicou, ainda, à fotografia, incluindo vistas da cidade de Caraguatatuba, detalhes da arquitetura paulistana, cliques em banners espalhados por São Paulo e retratos de populares na rua.

Simultaneamente às atividades artísticas, Benetazzo ampliou o seu engajamento político. De 1965 em diante, rompeu com o Partido Comunista Brasileiro (PCB) – por ser contra a linha “pacifista” e institucional de resistência aos militares adotada pelo Partidão – e se aproximou da luta armada contra a ditadura.

Primeiro se envolveu com a Dissidência Universitária de São Paulo (DISP) e depois, a partir de 1968/69, com a Aliança Libertadora Nacional (ALN). Em 1968, Benetazzo ajudou a organizar o 30º congresso da UNE, em Ibiúna (SP).

Ingressando na clandestinidade em 1969, quando militava na ALN, Benetazzo mudou-se para Cuba, onde adquiriu treinamento de guerrilha e ajudou a fundar um novo grupo de esquerda, o Movimento de Libertação Popular (MOLIPO), que a partir de 1971 passou a realizar várias ações revolucionárias em luta contra o regime militar.

Retornou secretamente ao Brasil na segunda metade de 1971, quando continuou atuando na clandestinidade e ajudou a desenvolver inúmeras ações políticas pelo MOLIPO. No decorrer de 1972, redigiu praticamente todos os textos do Imprensa popular, jornal oficial do MOLIPO, no qual denunciava a ditadura e defendia a luta armada como projeto de resistência contra o regime militar.

Capturado por agentes da repressão no dia 28 de outubro de 1972, dois dias depois foi brutalmente assassinado a pedradas, no Sítio 31 de Março, em Parelheiros (zona sul) e enterrado como indigente no cemitério Dom Bosco, em Perus (zona norte).


Serviço:
Exposição: Antonio Benetazzo, permanências do sensível
Duração: De 1º de abril a 29 de maio
Local: Centro Cultural São Paulo – Piso Flávio de Carvalho
Endereço: Rua Vergueiro, 1000, Paraíso


Debates:
Dia 8 de abril, às 19h30
Contribuições culturais e releituras da luta armada no Brasil
Participantes: Ilana Feldman, Marcos Napolitano e Fernando Seliprandy

Dia 16 de abril, às 19h30
Conversa sobre o filme "Entre Imagens – (Intervalos)"
Participantes: André Fratti Costa, Irmail Xavier, Marta Nehring e Reinaldo Cardenuto

Dia 6 de maio, às 19h30
A obra e militância política de Antonio Benetazzo
Participantes: Alipio Freire, Fábio Magalhães e Paulo Reis

Dia 13 de maio, às 19h30
Políticas públicas de memória
Debatedores a confirmar


 


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Imagens para download:
Crédito: Leon Rodrigues/Secom


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