Secretaria Municipal de Cultura
Vozes da Independência | Dramaturgia 3D
"Vozes da Independência - Uma dramaturgia em 3D para o Parque da Independência" traz uma EXPERIÊNCIA CÊNICA IMERSIVA EM ÁUDIO 3D onde o público se torna personagem central da obra, disponibilizada de forma permanente e gratuita no Parque da Independência.
Enquanto visita a história oficial através de cenas em áudio trazendo dados, personagens e fatos marcantes do conhecido processo de ruptura com Portugal, a experiência cênica sonora é guiada por vozes invisíveis e esquecidas que também fizeram parte do processo de independência do país no século XIX: negros, mulheres, o povo comum, o carteiro Paulo Emilio Bregaro e até mesmo um dos primeiros trabalhadores presentes no início da construção do Museu do Ipiranga. Todos os personagens tem suas existências e memórias inspiradas pelo próprio coração, numa alusão poética ao coração de D. Pedro I, separado de seu corpo a partir de um pedido registrado em testamento.
O público é levado numa viagem através do tempo a partir de um formato de experiência estimulante que conta com 5 cenas sonoras 3D presentes em 5 totens espalhados pelo Parque, enquanto tem sua imaginação estimulada num encontro criativo, imersivo e educativo com um dos momentos mais importantes da história do Brasil.
Cena 1
Título: Estação Casa do Grito
Subtítulo: A Revolta dos Búzios
Ouça a cena na parte central do pátio usando fones de ouvido. Para uma melhor experiência, permaneça de pé durante a cena e feche os olhos quando quiser.
A Conjuração Baiana - também conhecida como Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios - foi um movimento emancipacionista, majoritariamente negro, ocorrido no final do século XVIII na Capitania da Bahia (hoje estado da Bahia), que propunha, além outras pautas, o fim da escravidão.
Em 12 de agosto de 1798, o movimento é desmontado quando alguns de seus membros são presos durante a distribuição de panfletos nas ruas de Salvador. Coagidos, delatam outros envolvidos. Mais de um ano depois, em 8 de Novembro de 1799, Luís, Lucas, João e Manuel, todos negros, são os únicos condenados à morte. Em 1822, o Brasil é declarado independente de Portugal. A escravidão só é abolida oficialmente 67 anos depois, totalizando mais de 350 anos de exploração.
Vicente, oficial de alfaiate e personagem imaginado através de uma aproximação poética com fatos históricos, traz notícias tristes enquanto discursa a seus companheiros patriotas, fazendo da cena um necessário espaço de memória sobre o massacre negro no Brasil e um manifesto sobre a dignidade, o existir e a liberdade.
Estação Casa do Grito - A Revolta dos Búzios | Clique aqui para ouvir
Cena 2
Título: Estação 2 de Julho
Subtítulo: Maria Felipa de Oliveira
Ouça a cena na parte de trás do Monumento à Independência usando fones de ouvido. Para uma melhor experiência, permaneça de pé durante a cena e feche os olhos quando quiser.
Em 1823, a Bahia conquistou sua independência e consolidou o processo de separação entre Brasil e Portugal, iniciado anos antes. Maria Felipa de Oliveira, mulher negra, liderou a defesa de Itaparica durante as violentas batalhas travadas contra os portugueses que tentavam reaver o controle da ilha - importante entreposto comercial - e que definiram os rumos da nossa História.
Mulheres fundamentais na emancipação e construção do país como Maria Quitéria, Dandara dos Palmares, Joana Angélica, Tereza de Benguela e a própria Maria Felipa têm, ainda hoje, suas causas, lutas e existências apagadas da história oficial. Na cena em áudio desta estação, a voz da mulher gigante, capoeirista e líder das vedetas da “cerca de pedra” é renascida e imaginada através do corpo de uma atriz negra, baiana, conectando o feminino através dos tempos e tornando este manifesto um monumento presente, indestrutível e grandioso.
Estação 02 de julho - Maria Felipa de Oliveira | Clique aqui para ouvir
Cena 3
Título: Estação 1823
Subtítulo: Arandu
Ouça a cena no centro da tribuna de concreto sobre as arquibancadas, de frente para o passeio principal, usando fones de ouvido. Para uma melhor experiência, permaneça de pé durante a cena e feche os olhos quando quiser.
Durante a Constituinte de 1823, pouco tempo depois do grito do Ipiranga - palavra de origem tupi-guarani que significa Rio Vermelho - discutia-se os pilares políticos e simbólicos da nação que começava a ser construída. A primeira Carta Magna do Brasil, que nunca chegou a ser promulgada já que contrariava os interesses totalitários de D. Pedro I, ficou conhecida como a “Constituição da Mandioca”. Permitia direito ao voto apenas a homens ricos e trazia em suas entranhas a continuidade de um projeto de poder excludente e violento para negros, mulheres e indígenas.
Para os povos Kaiowá e Guarani, o termo Arandu significa “ouvir o tempo”, “conhecimento”, ou, em uma palavra, “sabedoria”. Ocupando um corpo e um território que não são nossos, testemunhamos uma conversa imaginada entre dois Constituintes ao decidirem os interesses da nação a partir de sua perspectiva privilegiada. Passado e presente se misturam dentro de um sonho indígena invadido há mais de 500 anos, provocando o público a ouvir o tempo, a História e a si mesmo.
Estação 1823 - Arandu | Clique aqui para ouvir
Cena 4
Título: Estação 22
Subtítulo: A Nação
A cena no centro do passeio principal, entre os dois postes, usando fones de ouvido. Para uma melhor experiência, permaneça de pé durante a cena e feche os olhos quando quiser.
Quem somos nós? Essa pergunta de caráter existencial nos leva a uma percepção para além da língua, limites geográficos ou da soberania que constitui o Estado brasileiro. Nos obriga a olhar para um pertencimento simbólico e subjetivo, para os laços culturais e afetivos que nos aproximam. Fala sobre uma história complexa, compartilhada por cada um de nós desde o início dos tempos. Mas, que história é essa? Ela é capaz de nos fazer sentir parte do mesmo nessa terra imensa de desigualdades também gigantescas?
Viajando entre os anos de 1822, 1922 e 2022, somos levados a um inusitado encontro com uma presença confusa, dolorida, que deveria celebrar os marcos temporais da própria independência, mas que, cansada, não consegue mais. Em crise, ela tenta encontrar respostas, luta contra indícios comprometedores, se depara consigo mesma. Ela é um acontecimento etéreo que está em todos os lugares e ao mesmo tempo em lugar nenhum. É construída e desconstruída através dos tempos e chega na segunda década do século XXI perdida, esfacelada e buscando as respostas que nós, brasileiros, precisamos dar para salvá-la. Para nos salvarmos.
Estação 22 - A Nação | Clique aqui para ouvir
Cena 5
Título: Estação Monumento
Subtítulo: Cartas para Pedro
Ouça a cena na frente do Monumento à Independência, diante do painel de bronze principal, usando fones de ouvido. Para uma melhor experiência, permaneça de pé durante a cena e feche os olhos quando quiser.
As cartas são consideradas o meio de comunicação mais antigo do mundo. Através delas paixões floresceram, guerras permaneceram, histórias foram construídas.
Diante do monumento, um homem segura numa das mãos notícias urgentes do Rio de Janeiro. Noutra, leva uma parte do homem que agora o encara do topo de uma colina.
Fazendo alusão a viagem de Paulo Bregaro, considerado o patrono dos Correios no Brasil e a ponte entre Leopoldina, Bonifácio e Dom Pedro I no dia do grito, a cena, ao mesmo tempo que revela um 7 de setembro de 1822 diferente da memória criada pelo quadro de Pedro Américo, nos coloca diante de um dilema: apagar o passado e a história que nos contaram para que consigamos ser outros, ou revisitá-lo, sem idealizações, buscando encarar os fatos e reparar nossos erros para nos tornarmos o que podemos e precisamos ser?
Estação Monumento - Cartas para Pedro | Clique aqui para ouvir
VOZES DA INDEPENDÊNCIA
DRAMATURGIA 3D
Direção e Dramaturgia: Gustavo Vaz e Gabriel Spinosa
Texto e pesquisa: Gustavo Vaz
Gravação binaural: Gabriel Spinosa
Assistência Criativa: José Sampaio
ELENCO
Estação 2 de Julho: Clara Paixão
Estação 22: Bárbara Salomé
Estação 1823: Alexandre Cioletti, Thiago Andreuccetti e
Verônica Rocha
Estação Casa do Grito: Wesley Guimarães
Estação Monumento: Gustavo Vaz
Estúdio, edição e finalização de áudio: Mandril Áudio
Produção: Corpo Rastreado
Produção Executiva: José Sampaio e Gabriel Spinosa
Realização: ExCompanhia de Teatro
Agradecimentos: Amaurih Oliveira, Ana Mametto, BG, Camila
Castro, Carol Carvalho, Casa de Maria Felipa, Clayton
Nascimento, Dinne Queiroz Leão, Dudu de Oliveira, equipe
Mandril Áudio, Ella Nascimento, Érica Ribeiro, Fernanda
Ranieri, Goretti Ribeiro, Heraldo de Deus, Hilda Virgens, Kay
Sara, Lucas Oranmian, Leandro Resende, Maurício Oliveira
Pedreira, Roberto Montenegro, Tainá Paz, Taise Pain, Tatiana
Bastos, Teatro João Caetano, Trabalhadores da Segurança do
Parque da Independência, Vagner Jesus, Vanessa Melo, Vicka
Matos e Viviane Pitaya