Subprefeitura São Miguel Paulista
Prefeitura agora acompanha online a execução de serviços de zeladoria
É possível tapar todos os 38 mil buracos da cidade nos próximos 40 dias? Por incrível que pareça, o filósofo e economista Antonio Modonezi de Andrade, 47, secretário das Subprefeituras, garante que sim.
O que lhe dá esta segurança é o computador Dell instalado sobre a sua mesa no topo do Edifício Martinelli, onde ele acompanha online todos os serviços de zeladoria que estão sendo executados neste momento na cidade.
Em poucos segundos, ele poderá informar quantos buracos já foram tapados pelas 80 equipes que estarão nas ruas com um exército de 1.280 funcionários terceirizados, assim como foi ou está a execução das 210.822 ordens de serviço expedidas de maio do ano passado até agora.
Ali ele controla também a limpeza nos 500 mil bueiros da cidade, em especial os 8.200 localizados em áreas de alagamento, que são checados duas vezes por semana, nas 210 “bacias”, as depressões formadas nas vias públicas.
Isso se tornou possível desde que a Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSUB) foi a primeira, em 2018, quando Modonezi assumiu o cargo, a implantar o Smart City, software desenvolvido pela IBM para “cidades inteligentes”, que estava na Prodam (Processamento de Dados do Município) desde a administração Fernando Haddad (PT).
“Era meu sonho quando vim para a secretaria pela primeira vez, dez anos atrás. Queria ter tudo informatizado. Quando o prefeito Covas me chamou para ser secretário, ele falou: ‘pode tocar teu plano’. Ninguém hoje controla a zeladoria das cidades brasileiras como São Paulo”, garante Modonezi, responsável por acompanhar todos os serviços das 32 subprefeituras, que contam com 9.000 funcionários e um orçamento anual de R$ 1,5 bilhão.
No início da gestão João Doria, em 2017, Covas foi também o secretário das subprefeituras, o que facilitou o entrosamento dos dois e levou o atual prefeito à decisão de transformar a zeladoria na prioridade da sua administração, segundo o plano de metas anunciado neste mês.
Obcecado por números e dados, o secretário entra todas noites no sistema da Secretaria da Fazenda para saber quanto já foi executado de cada contrato. E todas as manhãs passa pelo menos três horas rodando em uma das 32 subprefeituras para fiscalizar pessoalmente a execução dos serviços nas ruas.
A formação em filosofia, diz Modonezi, “ajudou a enxergar a cidade como um todo. Atrás de cada número tem gente na ponta. Não podemos nunca esquecer disso para cuidar melhor da cidade”.
A decisão de atacar primeiro o serviço de tapa-buracos nesta nova fase foi tomada a partir das 38 mil queixas de moradores feitas pelo 156. O número, ligado à Secretaria de Inovações Tecnológicas, centraliza o atendimento em 20 centrais telefônicas de todas as reclamações recebidas sobre os serviços de zeladoria, que alimentam as ordens de serviço.
Mais que tapar buracos, a principal reivindicação dos paulistanos, com 51 mil ligações, é a poda de árvores, mas este serviço não depende só da prefeitura. Precisa da colaboração da Enel para desligar os circuitos nas ruas porque quase todas as árvores estão sob os fios da rede elétrica. E isso sempre demora. No ano passado, um funcionário morreu eletrocutado.
As queixas sobre os buracos aumentaram neste ano após o fechamento, em janeiro, da usina de asfalto da prefeitura, que funcionava na Barra Funda desde 1951. A usina chegou a fornecer quase 2.000 toneladas por dia, mas teve a produção reduzida para 600 por ordem do Ministério Público, atendendo a queixas de moradores incomodados com a poluição ambiental e o barulho. Como os problemas persistiam, a prefeitura resolveu fechar o local de vez.
Para encontrar uma solução, Modenezi visitou as 40 usinas particulares da Grande São Paulo, antes de fazer uma licitação capaz de fornecer mil toneladas de massa asfáltica por dia, o suficiente para tapar mil buracos a cada 24 horas. Três empresas venceram a licitação.
Ao mesmo tempo, a secretaria toca o programa Asfalto Novo, que já recapeou 60% dos 400 km previstos até o final da gestão. O computador do secretário informa que São Paulo tem 980 milhões de metros quadrados asfaltados. Para recapear tudo, precisaria de mais de R$ 9 bilhões, mas a verba prevista até o final do programa é de R$ 550 milhões.
Desde que começou sua carreira no serviço público como sub-prefeito de Vila Mariana, em 2008, na gestão José Serra, o secretário diz ter aprendido que “não adianta reclamar de falta de verbas, a gente tem que se virar”.
“Nos últimos anos, foi tirado muito dinheiro da zeladoria e agora queremos reverter esse quadro de queda”, lembra ele.
Não será fácil. Sob a responsabilidade da SMSUB estão a conservação das 49.100 ruas, praças e avenidas da cidade, mais os 34 mil km de calçadas, outro motivo de constantes reclamações no 156.
Aqui o problema é que a prefeitura está autorizada pela Câmara a cuidar de só 16% das calçadas e fiscalizar as demais, que devem ser conservadas pelos próprios moradores.
Cabe também à secretaria zelar pelas áreas de risco, cada vez mais numerosas com as invasões de áreas de várzea à beira de córregos, principalmente nos bairros de Perus, Campo Limpo e Ipiranga.
Para conter a água das chuvas e evitar enchentes, que deixaram 13 vítimas no começo do ano, a cidade tem 22 piscinões, mas precisaria de pelo menos mais dez. O de Vila Prudente, o maior da cidade, com capacidade para 950 mil metros cúbicos, desta vez não deu conta do volume de chuvas (638 mm em média, três vezes mais do que nos primeiros meses do ano passado).
Pelo menos hoje a prefeitura tem a cidade na cabeça, ou melhor, nos computadores, e sabe quais as suas carências.
Numa cidade de 12 milhões de habitantes, que continua crescendo desordenadamente para os lados, a demanda por serviços públicos sempre será maior do que a oferta e o 156 precisará instalar mais centrais telefônicas para ouvir as reclamações.
“Temos hoje todos os indicadores e os controles para poder planejar os serviços de zeladoria e ter melhores resultados”, diz Modonezi, que enfeitou sua sala com mapas da cidade e uma camisa do São Paulo autografada.
Para provar o que diz, aceita o desafio da reportagem da Folha: dizer quanta grama foi cortada este ano em M´Boi Mirim. “Quinhentos e quarenta e seis mil metros quadrados”, responde após rápida consulta.