Notícia na íntegra
Saiba mais sobre a perda do olfato e paladar com a covid-19
A pandemia da covid-19 perdura e enfrenta um novo pico de casos e mortes. São mais de 91 milhões de infectados no mundo e, dos pacientes que se recuperaram, quase 90% apresentam sequelas. A alteração do olfato e paladar tem sido uma queixa constante e alvo de estudos no mundo todo.
Não são apenas os problemas cardiovasculares ou respiratórios como cansaço, falta de ar, dor de cabeça e no pulmão que acometem os pacientes na Síndrome Pós-covid. O sistema neuropsiquiátrico também é afetado. Tempos após terem superado a doença, muitos pacientes relatam não sentir cheiros ou sabores, não conseguir comer ou até sentir apenas um aroma estranho em alguns momentos do dia.
As alterações do olfato (anosmia ou hiposmia) e do paladar (ageusia ou disgeusia) são sintomas com alta prevalência na covid-19. Estudos apontam que cerca de 70% a 85% dos pacientes apresentam essas queixas durante infecção aguda.
“A maior parte dos pacientes apresenta recuperação dessas funções entre 4 a 16 semanas, mas uma parcela menor permanece com comprometimento do olfato e paladar por um tempo maior”, comenta o psiquiatra Marcelo Bruno Generoso, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Ele comenta que os estudos clínicos ainda não elucidaram se esse comprometimento será irreversível.
Sobre o “cheiro estranho” que algumas pessoas relatam sentir, a percepção de um odor sem um estímulo é denominada fantosmia e a percepção de um odor diferente do real é chamada parosmia. As duas condições são relatadas por pacientes durante ou depois da fase aguda da infecção, conta o psiquiatra que coordenou o Serviço de Saúde Mental do Trabalhador do Hospital de Campanha do Anhembi.
“Cabe ressaltar que o grande número de pacientes apresentando perda sustentada do olfato e do paladar relacionada à covid-19 é inédito. Grande parte da população mundial está experimentando o que até então afetava apenas uma parcela pequena de pessoas, cerca de 1% a 5%, o que chama atenção para a questão e provavelmente expandirá a pesquisa nessa área”, afirma Generoso.
O médico aponta que ainda não está claro qual será o impacto desses prejuízos na saúde mental, mas estudos não relacionados à covid-19 no passado já demonstraram a associação entre comprometimento do olfato e paladar com transtornos depressivos, transtornos de ansiedade e pior qualidade de vida.
Estudos recentes mostram que até 22% dos pacientes acometidos pela covid-19 apresentam manifestações neuropsiquiátricas como transtornos de ansiedade, transtornos depressivos, transtorno de estresse pós-traumático, insônia e cefaleia.
Os sobreviventes da covid-19, independentemente de faixa etária ou condição física, mas principalmente os que passaram por internação hospitalar, apresentam risco maior de piora de sintomas de transtornos mentais que já estavam em tratamento e também de desenvolver um novo transtorno mental nos três primeiros meses após a infecção.
No caso de comprometimento do olfato ou paladar persistente após a covid-19, o paciente deve ser avaliado por um médico. As pessoas em sofrimento psíquico podem buscar atendimento na UBS (Unidade Básica de Saúde) ou no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) de referência perto de sua residência. Os endereços podem ser consultados pelo Busca Saúde.
Os sentidos e os novos hábitos
A pandemia da covid-19 nos impôs o uso de máscaras, que cientificamente é o método mais eficaz de impedir a transmissão e a contaminação pelo coronavírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que a eficácia do seu uso correto é de 99%.
Contudo, muitas pessoas já usavam lentes ou óculos corretivos, passaram a fazem uso excessivo de fones de ouvido e aumentaram a higienização das mãos e o uso de álcool, sabonetes e outros produtos. Tudo isso, muitas vezes, ao mesmo tempo e por longos períodos, o que acaba de certa forma interferindo nos sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar.
Marcelo Generoso explica que todos os nossos sentidos são usados em nossas atividades do dia a dia e quando bloqueamos algum deles podemos ter dificuldade em realizar essas tarefas corriqueiras.
“Essa sincronia entre nossos sentidos e os estímulos a que somos expostos é precisa, então, qualquer privação pode exigir de nós um esforço muito maior para a interpretação de nossa realidade e execução de atividades como por exemplo participar de reuniões virtuais ou aulas. Intercalar interações virtuais e presenciais é um caminho para minimizar a possível fadiga relacionada, bem como usar com moderação dispositivos que prejudiquem a captação de estímulos”, recomenda o psiquiatra.
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