Secretaria Especial de Comunicação

Segunda-feira, 29 de Março de 2010 | Horário: 09:33
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Centro da Mulher de Itaquera faz 21 mil atendimentos em 4 anos

O Centro de Cidadania da Mulher de Itaquera comemora seu 4º aniversário nesta semana, prestando 21.488 atendimentos. As mulheres recebem acolhimento e amparo, e participam de oficinas voltadas ao lazer, geração de renda e resgate de coragem.
De longe é possível avistar as altas árvores do agradável quintal do Centro de Cidadania da Mulher de Itaquera (CCMI), uma paisagem que contrasta com as demandas nada agradáveis de boa parte das mulheres que cruzam o portão pela primeira vez. O local é um dos seis centros de cidadania da Cidade e oferece auxílio e orientação às mulheres vítimas de abuso e ameaças. Porém, muito mais do que acolher e amparar, o CCMI proporciona a elas oficinas voltadas ao lazer, à geração de renda e a chance de resgatar a coragem e a auto-estima.

Esta semana, o CCMI comemora seu quarto aniversário com aumento crescente no número de atendimentos. Muitas vezes um copo de água, um lenço, carinho e atenção podem significar muito. É o que conta a coordenadora do CCMI, Marilene Batista dos Santos, a Tia Lena, que aos 62 anos de idade enfrenta uma rotina repleta de emoções. “Este trabalho me realiza, pois, se eu não tiver coragem e afeto para tirar uma mulher de um estado de violência e submissão, não dormirei tranqüila”, explica.


Atendimentos

Nesses quatro anos de funcionamento, o CCMI prestou 21.488 atendimentos, dos quais 2.882 apenas no primeiro ano. Em 2009, esse número saltou para 7.500. O trabalho realizado é bem diversificado, vai do acolhimento e rodas de conversa a encaminhamentos para apoio psicológico, assistência jurídica, Delegacia da Mulher, Casas de Abrigo e outros programas sociais, quando se trata de casos de violência contra a mulher.

A equipe que recebe as usuárias e coordena as oficinas é formada por sete mulheres, dentre elas uma assistente social, uma pedagoga e uma psicóloga. Por causa das inúmeras solicitações, a Defensoria Pública passou a fazer plantão três vezes por semana no Centro de Cidadania. Seis defensores se alternam para receber queixas e entrar com as ações judiciais cabíveis.

De acordo com a coordenadora do CCMI, existem vários tipos de violência cometidos contra as mulheres. Além da violência física e sexual, também estão previstos no artigo 7º da Lei Maria da Penha a violência moral, patrimonial e, especialmente, a psicológica, que, por meio de ameaças, insultos, chantagens, vigilância, ridicularização e limitação do direito de ir e vir, acaba causando danos emocionais, além da diminuição da auto-estima da mulher e prejuízos a seu pleno desenvolvimento.

Uma mulher vítima de violência psicológica procurou o CCMI tempos atrás, sem o conhecimento do marido. “Ele escolhia até as sandálias que ela iria usar”, explicou Tia Lena, ao falar sobre um dos acolhimentos que mais a comoveram. Para a coordenadora, é preciso ter consciência e um olhar diferenciado sobre as condições de vida da mulher contemporânea, para que os atendimentos não sejam considerados “normais”. “Já se passaram 30 anos de trabalho e eu ainda fico indignada com a violência praticada contra as mulheres. Não perdi a sensibilidade”, confessa.

Sensibilidade parece ser mesmo uma espécie de palavra-chave e um amálgama entre as mulheres que freqüentam as oficinas. Foi com muito jeitinho que a aposentada Maria Lima Ortiz, de 83 anos, uma das primeiras usuárias do espaço, conseguiu convencer a vizinha, Bernarda Dias de Oliveira, de 75 anos, a freqüentar as aulas de tai chi chuan. Ela explica que estava desmotivada e não tinha vontade de sair de casa. “Parece que eu estava relaxada demais, não tinha vontade de fazer nada”, conta Bernarda. Maria relata o esforço para trazer a amiga ao CCMI. “Fiz muitas amigas aqui, eu tinha que mostrar a ela como isso é bom. Foi difícil convencê-la, mas agora ela chega antes de mim!”.

As palestras e os cursos ocorrem no próprio centro ou nas asociações de bairro e entidades comunitárias da região. Além disso, são realizadas permanentemente atividades corporais, socioculturais e passeios a centros históricos da Cidade, como o Theatro Municipal, Museu do Ipiranga e Museu da Língua Portuguesa. No mês de março, em comemoração do Dia Internacional da Mulher, elas promovem a já tradicional Caminhada pela Paz pelas principais ruas de Itaquera.

Como forma de agradecimento aos acolhimentos bem-sucedidos, Tia Lena e sua equipe têm recebido muitos abraços. É o que conta Regina Maximiano, servidora que atua no CCMI há mais de 3 anos, que lembra como a maioria das mulheres chega ao centro. “Elas ficam sabendo por propaganda boca a boca, por uma amiga ou uma colega. Às vezes chegam com um folder nosso todo amassadinho de tanto ficar no fundo da bolsa”, conta. Mas ela fica satisfeita quando vê que a mulher tem coragem de procurar por uma mudança, e sabe que os abraços são símbolos dessa realização.


Quem é Tia Lena

Com apenas oito anos, Marilene Batista dos Santos já vendia fruta. Aos 10 anos, confeccionava sapatos de crochê e, aos 14, já tinha carteira assinada numa loja na rua 25 de Março. Para não se afastar dos filhos, montou um salão de beleza em sua casa, onde trabalhou 13 anos consecutivos. Depois que os filhos cresceram, foi estudar pedagogia.

Em 1985, paralelamente ao trabalho de coordenadora pedagógica numa creche, Tia Lena encabeçava as lutas por asfalto, mais escolas e postos de saúde para o bairro. As lutas na comunidade rendiam cestas básicas e agasalhos para os mais necessitados.

Daí para a coordenação do CCMI foi um pulinho. “Quase todo mundo conhece uma mulher que precisa de ajuda”, afirma. Segundo ela, a divulgação da existência do CCMI e a denúncia são duas importantes armas no combate à violência e à discriminação. “Eu quero resolver os problemas”, conclui.


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