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Quarta-feira, 26 de Novembro de 2008 | Horário: 11:05
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Seminário debate Educação de São Paulo com participação de educadores

Nos dias 24 e 25 de novembro, o Anhembi recebeu cerca de 1500 professores que debateram a educação municipal no seminário ''Olhares à Educação: fazer e aprender na cidade de São Paulo''. Também foram comemorados os avanços da rede de ensino.
Foi com ousadia que cerca de 1.500 professores debateram a educação municipal nos dois dias do seminário "Olhares à Educação: fazer e aprender na cidade de São Paulo", promovido pela Secretaria Municipal de Educação com o apoio da Fundação Padre Anchieta. Transmitido pela internet, o evento foi marcado por debates profundos e acalorados.

O encontro, realizado nos dias 24 e 25 de novembro, no Anhembi, serviu para comemorar os avanços promovidos na Rede Municipal de Ensino e para compartilhar o que tem sido feito de interessante nas escolas municipais.

As conferências tinham o objetivo de aproximar a teoria da prática. Paralelamente, os painéis mostraram um pouco mais da realidade que está sendo construída nas escolas.

"Um seminário tem sempre o objetivo de ser mais provocador. Mas tem de indicar um caminho. E isso aconteceu, já que cada tema discutido teve indicações desses caminhos", avalia a diretora técnica da Secretaria, Regina Lico.

As orientações curriculares para o Ensino Fundamental, elaboradas no ano passado, e os conteúdos conceituais, como os procedimentos necessários aos alunos para um aprendizado eficaz e progressivo, fizeram parte das discussões.

Os educadores se debruçaram sobre a continuidade do programa Ler e Escrever, mais liberdade de ação aos professores para adequar o ensino às peculiaridades regionais, metas de aprendizagem em cada escola e a desmistificação do estudo da matemática, assim como os projetos que vão do uso de novas tecnologias à relação da família com a escola.

O seminário ficará disponível na internet por uma semana. No dia 17 de dezembro, a TV Cultura exibirá, às 19h30, programa com o resumo dos debates.

As conferências foram mediadas pelo rapper Rappin' Hood. "O hip hop é uma atividade politizada, que faz pensar sobre as questões do negro e do pobre e que serve como instrumento de luta para os jovens da periferia", afirmou.


Diversidade

Apesar das muitas palmas, a conferência com a filósofa Márcia Tiburi causou polêmica. Para falar sobre diversidade, a professora se valeu de um telão onde apareceram 12 alunos da Rede para falar sobre diversidade. No ano passado, os alunos foram convidados pela TV Cultura para, com uma câmera na mão, apresentar suas escolas e famílias.

Márcia comparou a escola com um campo de concentração, o que desconcertou os presentes. "Não por ser um campo de extermínio, mas porque eram locais que incluem quando excluem". Para a filósofa, falta um projeto de educação em âmbito nacional. Reconheceu, contudo, que essa busca é amenizada "pelo trabalho de alguns professores em suas escolas".

O sociólogo, filósofo e diretor regional do Sesc São Paulo Danilo Santos de Miranda, ao abordar a questão, disse que "toda diversidade é boa e deve ser aceita". Danilo lembra, contudo, que não atribui às diferenças sociais o nome de diversidade.

"Para enfrentar o problema educacional, por exemplo, é preciso um grande pacto social não apenas das escolas, mas de ações efetivas de toda a sociedade, tanto das instituições públicas quanto das privadas. Isso é o caminho para o desmanche do nó social", apontou.


Novo contrato social

O mundo e a sociedade passam por um desenvolvimento acelerado, enquanto a escola não consegue se relacionar com estas transformações, vivendo um verdadeiro descompasso. A partir dessa premissa, o filósofo Alípio Casali e o educador Tião Rocha concordam que a escola vive no tempo do passado e que existe, sim, um hiato entre o momento histórico da sociedade e da escola. Eles foram os oradores da conferência "Um novo contrato social para a escola".

Alípio defende a conexão da escola em três âmbitos: com o indivíduo, com a comunidade e com a humanidade. "Cada escola é uma oficina da humanidade, porque é neste espaço que acontecem e se desenvolvem as grandes questões sociais, vitais e culturais, na prática".

Para o educador Tião Rocha - que destaca que seu projeto é integrado à concepção de uma cidade educadora - quando a escola, tanto a unidade quanto a instituição escolar, entra numa crise, é preciso ver este momento de duas formas: crise é uma ameaça ao sistema, mas também é um desafio.

Tião lembrou que há 25 anos se perguntou se era possível aprender brincando. "Juntei 120 crianças entre 7 e 14 anos e, sem brinquedo algum, fomos construindo nossas brincadeiras e propus um desafio: a hora que acabassem as invenções, terminaria com esta forma". A brincadeira nunca acabou.


Provocações

Defendendo a leitura como uma maneira de apresentar a complexidade da vida aos alunos, o escritor Ricardo Azevedo, doutor em Teoria Literária pela Universidade de São Paulo, abriu um dos painéis de ontem, o "Leitura para todas as idades".

Autor de vários livros, como Um homem no sotão, Ricardo defende que a escola não pode apresentar aos alunos apenas livros didáticos. O escritor alertou que a literatura aborda temas que são "tratados entre parênteses" pelas escolas. "Quem queremos formar, técnicos ou seres humanos?", indagou.

Ricardo alertou os professores que a literatura tem de servir para gerar discussões e não para tirar lições. "A literatura metaforiza a vida", ensinou. E acrescentou: "Não é com questões técnicas que respondemos às grandes questões da vida".

A pedagoga e psicóloga Rosaura Soligo, mestre em Educação pela Unicamp, em sua palestra "Fazer da escola um lugar de conhecimento para todos", indicou que a escola deve ser tanto um local que ensina quanto que acolhe.

Para ela, parte das dificuldades encontradas pelo professor que sai da universidade para a sala de aula é sua dificuldade na hora de unir teoria e prática. Afirmando tratar-se de um problema de formação, Rosaura diz que falta ao professor um pouco do "espírito do professor alfabetizador".


Mitos da matemática

A professora Célia Maria Carolino Pires atacou duramente os mitos que perseguem o aprendizado de matemática em sua palestra "Aprender matemática no Ensino Fundamental". Segundo ela, formada em matemática pela PUC, com doutorado em Educação pela USP, é preciso olhar mais as formas de aprendizagem do que se limitar a conteúdos básicos. "A matemática é um processo de construção pessoal que deve ser mediado pelo professor".

Defendendo que cabe ao professor não apenas transmitir o ensinamento, mas incentivar o raciocínio próprio do aluno, Célia Maria disse que é preciso incorporar questões filosóficas, históricas, políticas, metodológicas e psicológicas ao aprendizado. Apontou que existe uma grande angústia por parte dos professores que não conseguem evoluir muito da teoria para a prática.


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