Prefeitura de São Paulo

Boato sobre a aproximação de Marte - agosto 2010
Por André Luiz da Silva e Marcos Rogério Calil

 

Texto de ensino e divulgação de Astronomia
Publicado em agosto 2010

 

 

Anualmente, nos últimos seis anos, tem circulado pela internet a notícia de uma suposta grande aproximação do planeta Marte. Segundo a notícia, a grande aproximação aconteceria no próximo dia 27 de agosto, e nessa ocasião Marte ficaria com o mesmo tamanho angular da Lua. Embora tal notícia estimule a curiosidade do grande público, e talvez leve algumas pessoas a se desligarem momentaneamente dos problemas do dia-a-dia e olhar para o céu – um hábito que vem se perdendo ao longo dos séculos e que nós dos Planetários e Escola Municipal de Astrofísica trabalhamos para resgatar – tal notícia não tem qualquer respaldo científico e o que se observaria não seria uma grande aproximação e sim uma grande decepção... Neste ano, houve uma novidade: a menção ao Planetário de Vancouver, cujo site desmente enfaticamente.

Houve uma grande aproximação de Marte em 27 de agosto de 2003, aproximação essa que levou o planeta vermelho a distar “apenas” 55,76 milhões de quilômetros do nosso. Mesmo nessa ocasião, Marte esteve muito longe de se comparar em tamanho aparente ao nosso belo satélite natural, que mantinha um diâmetro aparente 72 vezes maior do que o de Marte.

O fenômeno de maior aproximação não se repete anualmente, como sugere o boato que circula todo ano, anunciando a aproximação para o dia 27 de agosto. As melhores fases de observação de Marte têm um período próprio que depende dos períodos de translação de Marte e da Terra ao redor do Sol. Esse período é conhecido como período sinódico, e para o caso de Marte vale 780 dias, aproximadamente. O planeta atingirá a mínima distância da Terra só no 27 de janeiro de 2010. Essa distância entre esses dois planetas será de 99 milhões e 330 mil quilômetros: mais distante que o fenômeno ocorrido em 2003. Nessa ocasião, o tamanho aparente de Marte é tão menor que o da Lua, que precisaríamos colocar 128 planetas Marte, um do lado do outro, para preencher o diâmetro aparente da Lua no céu! Como se pode ver, nada de Marte do tamanho da Lua... Mas não devemos ficar chateados, afinal, se algum dia Marte aparecer do tamanho da Lua no céu, não será motivo de comemoração, e sim de desespero: estaremos diante de uma catástrofe!

Durante agosto de 2010, o planeta simbolizado pelo deus romano da guerra, Marte, poderá ser observado. Num primeiro instante não é um planeta fácil de ser localizado, mas com um pouco de atenção esse pequeno planeta vermelho pode ser contemplado mesmo nas grandes cidades. Logo após o anoitecer, observando o horizonte oeste, pouco acima da linha do horizonte teremos quatro planetas visíveis a olho nu. São os planetas Mercúrio, Vênus, Marte e Saturno. O planeta Vênus pode ser facilmente localizado devido seu brilho ser muito forte. Mercúrio, não tão brilhante como Vênus, possui uma cor prateada. Já, Saturno possui uma cor marrom e Marte é incofundível por possuir uma cor vermelha. Para os observadores com dificuldade de localizar Marte no céu é aconselhado esperar o anoitecer de 13 de agosto. Isso porque para esse momento a Lua estará próxima desse pequeno planeta facilitando a localização de Marte, além de proporcionar um belo espetáculo de ser contemplado e fotografado. Para saber mais informações acesse nossa página das efemérides. É importante saber que essas informações sobre a observação dos planetas são válidas somente para o mês de agosto de 2010. Para os demais meses do ano essa configuração se modifica.

Mesmo sem a fantástica aproximação prometida pelo boato, Marte é por si só um objeto fascinante de estudo: um planeta desértico, com metade do tamanho da Terra, com tempestades de areia e um céu amarelo róseo, um dia de pouco mais de 24 horas, temperaturas que chegam em alguns locais a 20°C, indícios de ocorrência de água líquida subterrânea e, quem sabe, hospedeiro de alguma forma elementar de vida. Que tal, então, dedicar uma parte do dia 27 de agosto ao estudo desse nosso interessante vizinho cósmico?

Boas observações...

Por André Luiz da Silva, diretor dos Planetários de São Paulo e Marcos Calil, chefe da Escola Municipal de Astrofísica.

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