Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente

As origens do carnaval

Banco de Textos - Escola Municipal de Astrofísica e Planetário Prof. Aristóteles Orsini

As origens do carnaval
Por Elias Tyrrell Tavares Junior

Texto de ensino e divulgação de Astronomia
Publicado em fevereiro 2009
 

Natal ficou para trás... Ano novo... e agora os nossos corações batem em ritmo diferente...

Ritmo de Samba... Qual o brasileiro que não se sente tocado pela alegria desse tempo!!

Apesar disso, nem todos sabem ou têm idéia da origem dessa festa e de sua posição no ano: herança pagã? egípcia? grega? , romana? , início de fevereiro?, fim de fevereiro? março?

Essas são algumas das grandes questões que povoam nossas cabeças após o Natal!

Que tal navegarmos um pouco pela história para tentarmos aclarar um pouco nossas idéias!

Não há dúvidas de que o carnaval tem suas origens nas festividades de povos como os primitivos, os egípcios, os gregos e os romanos.

Aos primitivos antigos devemos o caráter coletivo das festas em que comemoravam o renascimento da natureza, depois de invernos muitas vezes rigorosos, com o rosto escondido por máscaras, com os corpos coloridos e aos gritos para espantar os demônios. Elementos egípcios, homenagens ao boi Ápis e a Ísis a deusa da magia e do amor também estão presentes.

Aos gregos devemos as festas dionísias – Dionísias Rurais - realizadas no meio rural em agradecimento à fertilidade e generosidade da terra durante o mês de Poseideon (dezembro-janeiro).

Logo depois ocorriam, a partir do séc. V a.C, as Grandes Dionísias ou também chamadas de Dionísias Urbanas que aconteciam aproximadamente em março (10-15 Elaphebolion), no início da primavera (equinócio da primavera no hemisfério norte da Terra).

Os romanos adaptaram as Dionísias gregas associando-as ao o seu culto a Baco, o deus do cultivo das uvas e do vinho, que se manifestava nas Bacanais onde consumiam principalmente vinhos e outras bebidas alcoólicas. Essas festas do culto a Baco estavam entrelaçadas às conhecidas Saturnálias (Chronos, na Grécia - deus da fertilidade e da fecundidade - , Saturno em Roma) e apresentavam características orgíacas.

As festas acabaram disseminando-se pelas distintas regiões Européias passando a integrar a cultura de vários povos os quais passaram a comemorar o retorno da primavera – que trazia consigo a vida - com vários dias de festividades em agradecimento às colheitas, e também com a louvação da fertilidade.

Dessa forma, podemos fazer convergir a origem do carnaval às festas, desinibidas e excessivamente liberais, que louvavam as colheitas destinadas a satisfação do beber e alimentar-se tão necessários à manutenção da vida.

Percebe-se, então, facilmente que o carnaval, em sua origem, prende-se a ciclos da natureza e a eventos astronômicos; no caso o retorno da primavera, quando praticamente toda a vida renascia, e a determinação do equinócio.

O carnaval passou a se caracterizar por festejos coletivos, divertimentos públicos, bailes de máscaras e manifestações de rua dos tipos gregos e romanos.

Os mais conhecidos carnavais da Europa, no passado, foram os de Veneza, Paris, Roma, Munique e depois seguidos pelos de Nápoles, Florença e Nice.

Essas festas, tomadas como modelo, nos primeiros anos do século XVIII, foram transplantadas para o Brasil fazendo ressurgir aqui em nossas cidades, tais como Recife, Olinda, Salvador, Rio de Janeiro, o velho carnaval europeu.Mas é preciso que se diga que os festejos, ao longo do tempo, se foram tornando cada vez mais exagerados. Para conter o entusiasmo e a libertinagem, a Igreja Católica tomou a si a responsabilidade de redirecionar as comemorações introduzindo proibição aos excessos para haver maior controle e algumas práticas foram cerceadas. Tentou incorporar o carnaval e procurou torná-lo santificado.

Uma das ações da Igreja foi estabelecer com relativa precisão a data do carnaval. Para entendê-la é preciso considerar a intervenção da Igreja e o próprio nome das festividades. O período do carnaval, que durava os três dias que antecedem o início da Quaresma foi relacionado à Páscoa, hoje já incluímos o sábado e alguns povos emendam a sexta-feira um intervalo, portanto, de cinco dias. O carnaval começava no sétimo domingo anterior ao Domingo de Páscoa e, ao terminar, dava início à Quaresma, o tempo de conversão. Esse é o período de quarenta dias de penitência, de meditação e de oração para a recordação dos instantes finais da vida de Cristo – a Paixão – lembrada na sexta-feira que antecede o domingo de Páscoa – o dia da Ressurreição.

Esta é a data que serve de referência para todas as festas móveis litúrgicas. No ano em curso, 2009, o cálculo prevê que o Domingo de Páscoa será o dia 12 de abril. A Quaresma terá início na quarta-feira de cinzas, 25 de fevereiro e deve findar no Domingo de Páscoa.

Em 590 a.D o Papa Gregório I fixou o início da Quaresma como a quarta-feira (cinzas), antes do sexto domingo (qüinquagésima) que precede a Páscoa (domingo anterior ao domingo de Páscoa). Ora, como o limite final da contagem é o sexto domingo que antecede (portanto é o domingo anterior) o domingo Pascal, temos mais sete dias a contar até a Páscoa. Assim, a Quaresma transforma-se em um intervalo de quarenta e sete dias. Considera-se Páscoa, por definição, o primeiro domingo, depois da primeira Lua Cheia, depois do equinócio da primavera do hemisfério norte da Terra; para nós, do hemisfério sul, trata-se do equinócio do outono (nós nos encaminhamos para o inverno). Assim, na prática, contamos retroativamente quarenta e sete a partir do domingo de Páscoa, previamente calculado, para encontrarmos a quarta-feira de cinzas. Carnaval será o conjunto de cinco dias anteriores a esta quarta-feira.

Para uma linha de pensamento, a palavra carnaval vem da denominação do sétimo domingo que antecede a Páscoa, ou da qüinquagésima, também conhecido como “Dominica ad carne levandas” daí “carne levandas” segue “carne levale”, “carne levamen” em seguida, depois “carneval” e por fim “carnaval”. O sentido dessas expressões pode ser entendido como supressão, retirada; retirada de quê? Retirada da carne da alimentação, e o sentido aqui pode ser estendido à idéia de abstinência da conjunção carnal.

Assim compreendida, a idéia privilegia a terça-feira como o principal dia do carnaval, pois representa a última possibilidade de degustação de tal alimento (nos dois sentidos). A partir da quarta-feira deveria começar o período de abstinência por quarenta, na verdade, quarenta e sete dias e ao mesmo tempo de reflexão, caridade, oração em busca do arrependimento, como preparação pascal.

Para outra linha de pensamento a expressão carnaval teria origem nas festas gregas, nas Dionísias Urbanas em que verdadeiras procissões de participantes seguiam carros que representavam navios (carros navais) chamados “carrus navalis”.

A cristianização dos festejos associados à vida pagã, para muitos, levou à consideração de que o carnaval seria uma festa da Igreja Cristã quando na realidade não o é.

 

 

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