Secretaria Municipal da Saúde
Saúde além da saúde: equipes também promovem vínculos afetivos
Em seus 34 anos de existência, o Sistema Único de Saúde (SUS), um dos maiores serviços de saúde pública do mundo, coleciona histórias de pacientes que, para além de consultas, exames e tratamentos específicos de doenças, encontraram nos equipamentos o acolhimento e o humanismo que fazem a diferença na criação de vínculos importantes não apenas para a saúde, mas também para o sentimento de pertencimento, de cidadania e até a construção de amizades.
Em meio a nove milhões de SUS dependentes na cidade de São Paulo, a maior metrópole da América Latina, histórias como a da Gabriela Reiko Ozaki, 21, se destacam.
Com diagnóstico de deficiência intelectual desde os sete meses, e depois de transtorno do espectro do autismo (TEA) não verbal aos 18 anos, ao longo da vida escolar Gabriela sofreu com bullying, o que a deixou mais triste e fechada; ao concluir o Ensino Médio, sem uma rede de amizade, a depressão evidenciou-se. Foi então que, juntamente com sua mãe, Simone Ozaki, conheceu o Centro de Convivência e Cooperativa (Cecco) Previdência, localizado no Butantã, na zona oeste, e ambas viveram uma reviravolta em suas vidas.
Os Ceccos são serviços públicos de saúde que integram a Rede de Atenção Psicossocial e têm por objetivo ampliar as oportunidades de convivência de pessoas a partir de grupos, oficinas e atividades, principalmente nos campos da arte e cultura, esporte, meio ambiente, educação, trabalho e práticas integrativas e complementares em saúde (Pics).
“Gostaria de ter conhecido o Cecco quando minha filha era pequena. A evolução dela é tão evidente que ela quer trazer os amigos com TEA para também participarem das oficinas”, afirma Simone, que frequenta o Cecco Previdência quatro vezes por semana juntamente com Gabriela.
Simone conta que, ao ajudar a filha, o serviço também a acolheu. “Fazemos juntas várias oficinas e ela começou a sentir-se bem. Ela tinha baixa autoestima, mas frequentando o Cecco sentiu que todos são iguais, e aos poucos perdeu a vergonha de conversar”, destaca a mãe. “Minha filha chegou aqui sem falar com ninguém, porém em três meses havia se adaptado”.
Enquanto a Gabriela faz oficina de lãs e linhas, audiovisual, teatro, canto, movimento e artes, Simone faz lian gong, dança circular, canto e movimento. Além disso, conversa e desabafa com outras mães. “Todas essas atividades são terapias, e, devido a elas, a Gabi teve um outro resultado importante: a redução da medicação. Por isso, eu sou muito grata ao Cecco Previdência e o que as pessoas fizeram e fazem para minha filha e por nós, mães atípicas”, reforça Simone.
Ela acrescenta: “Eu atribuo ao Cecco esse sentimento de felicidade que percebo hoje na minha filha, primeiramente pela acolhida, e também pela qualidade dos profissionais, que, mais do que formação, têm uma sensibilidade muito grande para esperar o momento certo para cada passo, e assim se estabeleceu um vínculo afetivo e de confiança; nos sentimos amadas”, resume.
A filha Gabriela confirma: “Eu gosto dos professores, me sinto feliz em estar aqui quando encontro com os meus amigos e com o meu namorado, que também conheci aqui.”
A cidade de São Paulo possui 23 Ceccos em todas as regiões, que proporcionam o convívio entre os diferentes, independentemente de faixa etária, sofrimento psíquico, deficiências, condição social ou qualquer outra situação ou forma de vida.
“Como profissional de saúde nós buscamos justamente esse sentido de trilhar com os usuários e frequentadores o sentido da existência. E quando a gente fala de pessoas que se sentem excluídas dos processos da sociedade, oferecemos ferramentas para resgatar essa possibilidade de felicidade que é viver tudo isso”, afirma Vanessa Caldeira, gestora do Cecco Previdência. “Afinal, a felicidade é estar no parque, é encontrar as pessoas, pegar ônibus e transitar onde quiser. O Cecco traz essa articulação das circunstâncias da própria vida”, acrescenta.
Entre gerações
Na atenção básica, as mais de 1.600 equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF) também desempenham um papel essencial no desenvolvimento de vínculos da comunidade com os equipamentos de saúde, em especial as Unidades Básica de Saúde (UBSs), que são a porta de entrada para a saúde pública na capital.
Estas equipes, que se destacam pelas visitas casa a casa no território e pelo acompanhamento de muitas famílias, têm um registro especial na história de muitas famílias, muitas vezes atravessando gerações.
É caso de Adriana Vieira Lima, 44, auxiliar de limpeza. Ela conta que sua família foi atendida pelo mesmo médico da família e comunidade, Jonatan Nunes, ao longo de muitos anos, como parte da equipe ESF vinculada à UBS Jardim Comercial, na zona Sul da capital. Atualmente, Jonatan é médico supervisor da atenção primária em 30 UBSs, que reúnem 176 equipes ESF e 193 médicos de família.
“Ele acompanhou o meu marido no tratamento para controlar o diabetes e minimizar os efeitos da doença. Além disso, me ajudou muito nas minhas duas gestações; também fez o pré-natal da minha filha, que ficou grávida aos 18 anos, e prestou assistência médica a meu neto que nasceu prematuro”, comenta, acrescentando que o profissional também foi à sua casa para saber da saúde do pequeno. “A atuação desse profissional e a equipe nos conforta e mostra que não estamos abandonados, que somos assistidos pela rede pública”, afirma Adriana.