Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Brasil animado

Fonte: Folha de S. Paulo
15ª edição do Anima Mundi, que começa hoje no Rio e em 11/7 em SP, revela força da produção nacional fora do eixo Rio-SP



MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um garoto de São Carlos (SP), dois jovens amigos de Recife, um gaúcho radicado em Fortaleza: a animação brasileira está ganhando novas caras e moradas fora do antes intransponível eixo Rio-São Paulo.
Um panorama destas novas produções está em cartaz na 15ª edição do Anima Mundi, festival de animação que começa hoje, no Rio, e vem para São Paulo em 11 de julho.
São artistas como Jonas Brandão, 22, o paulistano que saiu do núcleo de animação da Universidade Federal de São Carlos para ser um dos primeiros estrangeiros a participar do programa Hot House, do badalado National Film Board do Canadá.
Ele foi convidado pelo Anima Mundi para falar sobre sua experiência e mostrar o curta que produziu durante o programa canadense.
Na nova safra de animações brasileiras, vem ganhando destaque a produção de origem e temática nordestina.
Apoiados por leis de incentivo em Estados como Ceará e Pernambuco, jovens animadores estão deixando, ao menos temporariamente, a publicidade -seu meio mais regular de trabalho- e investindo em produções autorais de curtas.
Caso exemplar é o de Marcio Ramos, 35, o gaúcho criado em Fortaleza. Com os R$ 50 mil que ganhou do Prêmio Ceará de Cinema e Vídeo, em 2003, trabalhou sozinho em seu computador, por dois anos, para criar o excelente "Vida Maria".
O curta, premiado em diversos festivais de cinema brasileiros, conta a história da menina Maria José, habitante do sertão nordestino forçada a largar os estudos para trabalhar.
Os amigos Fernando Jorge, 25, e Leanndro Amorim, 24, de Recife, têm história parecida.
Inscreveram o roteiro de "Até o Sol Raiá" -uma história de Lampião na qual os personagens são bonequinhos de barro- em um concurso de patrocínio público, venceram e tocaram em frente, criando até mesmo um estúdio próprio.
"Os dois filmes nordestinos são de ótima qualidade, demonstram o florescimento dos núcleos de animação por todo o Brasil", afirma Marcos Magalhães, um dos diretores do Anima Mundi.

União
É claro que a criação de animação no Brasil ainda não é um mar de rosas -além da dedicação abnegada e das verbas públicas, é preciso apelar a patrocínios privados para completar os filmes e, quase sempre, botar dinheiro do próprio bolso.
Mas os novos artistas já começaram a se unir para tentar viabilizar o máximo de produções e espalhar conhecimento sobre animação.
No recém-encerrado Festival Guarnicê de Cinema, em São Luiz, um grupo de animadores -entre eles Marcio Ramos e outro participante do Anima, Marcos Buccini- lançou o embrião do Núcleo de Animação Norte-Nordeste.
"Vamos fortalecer os animadores da região, trocar experiência e nos ajudar mutuamente, já que não temos um mercado como os de Rio e São Paulo", explica Ramos.

Brasileiros voltam a ser maioria no Anima Mundi

DA REPORTAGEM LOCAL

A produção brasileira voltou a ser majoritária na atual edição do Anima Mundi, após ter sido superada no ano passado pela indústria britânica.
O país tem 68 títulos (dois a mais que em 2006) entre os 368 da programação, feita a partir de uma seleção entre 1.228 filmes do mundo todo.
"A produção brasileira está madura. Este ano há vários filmes nacionais de ótima qualidade", diz Aída Queiroz, uma das diretoras do festival.
Além dos destaques em "Vida Maria" e "Até o Sol Raiá" (veja texto ao lado) o nordeste também aparece como tema de produções feitas por gente de outros cantos, como o brasileiro radicado em Israel Ricardo Werdesheim, que criou o curta "Celestina" inspirado em canção de Gilberto Gil.
Há ainda "Disputa entre o Diabo e o Padre pela Posse do Cênte-Fór na Festa do Santo Mendigo", de Francisco Tadeu e Eduardo Duval, que já no título remete aos cordéis e xilogravuras nordestinas.
Como de praxe, o país tem uma sessão inteira dedicada apenas às suas produções, a Panorama Brasil, onde destaca-se "Dalva & Peri", na qual Otavio Escobar recria o dueto entre Dalva de Oliveira e seu filho, Pery Ribeiro, na canção "Ave Maria".