Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

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No mundo das reinações

Fonte: Folha de S. Paulo

Livro para a criança morar

Na quarta-feira, o escritor Monteiro Lobato, pai da boneca Emília, completaria 125 anos



LUCIANA SANDRONI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Monteiro Lobato, uma vez, comentou numa carta escrita a um amigo: "Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar. Não ler e jogar fora, mas, sim, morar, como morei no Robinson [Crusoé"".
Dito e feito: ele criou um lugar especial e pôs lá uma avó sabichona, uma cozinheira cheia de histórias, uma menina meiga, um menino corajoso, um sabugo de milho erudito, um porco comilão e uma boneca de pano muito da tagarela.
E estava inventado o Sítio do Picapau Amarelo, um universo paralelo onde toda criança brasileira "morou" ou vai "morar" um dia.
Temas atuais Tem gente que cisma em dizer uma grande asneira: que os livros dele são "antigos". Mas, quando um escritor é genial, sua obra nunca perde a atualidade.
"A Chave do Tamanho"é um exemplo. Nesse livro, Lobato fala de maneira crítica e bem-humorada sobre a questão do poder, da guerra e da violência -assuntos bem atuais, não é mesmo?
Outro tema discutido hoje em dia, a questão ambiental, está presente no segundo livro do escritor: "O Saci". Ali, Pedrinho e Saci se tornam amigos. Em conversas no capoeirão (mata fechada), discutem questões altamente filosóficas.
Mas não são só atuais. Os livros de Monteiro Lobato, nascido em Taubaté (SP), em 18 de abril de 1882, são divertidos, cheios de aventura e recheados de humor.
E aí? Que tal "morar" nos livros do Sítio? É só abrir a porteira, quer dizer, a primeira página, e entrar!

 

Luciana Sandroni, 44, é autora de "Minhas Memórias de Lobato" (Companhia das Letrinhas).

Neta de um "avô-cometa"
Se Monteiro Lobato cultivava um bocado de fantasia na cabeça, balinhas era o que ele guardava no bolso. "Acho que ele tinha muitas formigas no bolso!", brinca Joyce Campos Kornbluh, 77, neta do escritor.
A neta conta que adorava "fuçar nos bolsos do avô para achar uma balinha chamada rebuçado, de açúcar queimado". Suas lembranças estão agora no livro "Juca e Joyce - Memórias da Neta de Monteiro Lobato" (ed. Moderna, R$ 23,90), escrito por Marcia Camargos.
Como era o Lobato avô? "Era um "avô-cometa': estava sempre viajando e mudando. E virava um avô misterioso quando se trancava no escritório para escrever", explica a neta, que tem boas recordações sobre os tempos de menina que caçava borboletas com o avô.

Aventura letra por letra

Meninos e meninas que conhecem as aventuras nos livros dizem por que vale a pena ler Monteiro Lobato

GABRIELA ROMEU
DA REPORTAGEM LOCAL
CLARICE CARDOSO

COLABORA€ÃO PARA A FOLHA

Você é da turma que conhece a tagarela Emília, o sabe-tudo Visconde de Sabugosa e o corajoso Pedrinho só na telinha?
Saiba que nem todas as crianças ficam satisfeitas em viver, só pela TV, as reinações do escritor que colocou a turma para conversar com são Jorge e seu dragão na Lua, fez a Emília engolir uma pílula falante (está aí a razão de a boneca ter uma torneirinha que jorra asneiras) e levou a Narizinho até o Reino das Águas Claras.
Gonçalo Costa, 12, já visitou todos esses lugares -duas vezes! É que o menino leu a obra completa de Monteiro Lobato duas vezes. "Meu preferido é a "Chave do Tamanho', pois ali só dá a Emília", diz o fã da boneca. "A Emília sabe expressar muito bem as suas idéias", diz.
Ele define bem o que é especial nessas aventuras: "Lobato conta uma história de aventura com um pouco de humor e, como diz o próprio escritor, uma pitada de bobagem".
Gabriel Rodrigues Domene, 11, que cultiva também uma paixão pela tagarela, está lendo agora "Caçadas de Pedrinho". "Lobato disse uma vez que é a Emília que escreve suas próprias falas, não é ele."
"Reinação", "faminteza", "potoca" e "tamanhudo": a leitora Beatris Duraes de Oliveira, 9, avisa que você vai tropeçar em expressões inventadas pelo escritor que são lá meio difíceis de entender no começo.
Mas não desista no caminho. "Os livros do Lobato são diferentes de qualquer outro. Ele mistura realidade e ficção", explica Gabriel, com jeito de quem sabe do que está falando.

Emília ganha voz engraçada
Quem se liga na TV para assistir à turma do Sítio do Picapau Amarelo já reparou que a voz da boneca Emília anda meio estranha, até engraçada. E a responsável por isso é a atriz Tatyane Goulart, 23, que agora interpreta a boneca na telinha.
Ela conta que queria mostrar logo de cara que sua Emília faz parte do reino encantado, e não do mundo real. "Pensei numa voz de boneca que não fosse voz de gente e, aos poucos, ela foi ficando mais marcante."
Fã da Marquesa de Rabicó, a atriz explica que queria fazer direitinho o papel na TV. Por isso assistiu às outras versões na televisão. E está relendo os livros.
Mas será que ainda dá para inovar no Sítio? O autor da série, Claudio Lobato, 52, que, coincidentemente, tem sobrenome de escritor famoso, diz que "a riqueza do universo que Monteiro Lobato criou é quase inesgotável". Ele adaptará "O Picapau Amarelo", "A Reforma da Natureza" e "Histórias Diversas".
(CLARICE CARDOSO)

Comemoração
Na semana que vem, dois eventos celebram o aniversário do autor. Na Biblioteca Monteiro Lobato (tel. 0/xx/11/3256-4122), em São Paulo, haverá rodas de histórias, exposição com desenhos com o Saci e concurso de contos, entre os dias 16 e 20 (veja a programação em http://portal.prefeitura.sp.gov.br/noticias/sec/cultura/2007/04/0007). No Museu Monteiro Lobato (tel. 0/xx/12/3625-5062), em Taubaté (SP), show do Saci, teatro de fantoches e oficina que ensina a fazer bonecas de pano acontecem entre os dias 17 e 22.

Duende travesso

"Saciólogos" comemoram 90 anos da criatura de origem indígena

DA REPORTAGEM LOCAL

O ano não é somente de comemorações especiais dedicadas a Monteiro Lobato, não. Uma criaturinha perneta, endiabrada e com risada marota também faz aniversário: é o Saci.
A Sosaci (Sociedade dos Observadores de Saci;
www.sosaci.org) comemora 90 anos da pesquisa que o escritor fez sobre a criatura em 1917. O resultado virou o livro "O Sacy-Pererê - Resultado de um Inquérito" (veja capa ao lado).
"Foi Lobato quem difundiu o mito do Saci para gerações e gerações de crianças desde 1921, quando lançou "O Saci', fixando a figura desse negrinho perneta e travesso no imaginário", explica Vladimir Sacchetta, biógrafo e responsável pelo site
www.lobato.com.br.
Mario Cândido, presidente da Sosaci, conta que o Saci tem origem entre os guaranis, povo que batizou o duende como "€aa cy Perereg". Mas foram os negros, durante a escravidão, que espalharam as peripécias desse danadinho que esconde tudo por aí.
(GABRIELA ROMEU)

Porteira aberta para a fantasia

Emília, Narizinho, Pedrinho e Dona Benta esperam você lá em Taubaté

ROSANGELA DE MOURA
ENVIADA ESPECIAL A TAUBATÉ (SP)

Em Taubaté, a 130 km de São Paulo, existe um lugar que guarda a história do escritor Monteiro Lobato.
É a antiga chácara de seu avô, o Visconde de Tremembé. Mas há tempos o lugar ganhou outro nome: Museu Monteiro Lobato, também conhecido como Sítio do Picapau Amarelo.
Foi nessa cidade do interior paulista que o menino Juca, apelido do escritor, morou durante a infância. E sempre visitava o avô no casarão, construído em estilo colonial, em 1860.
Dentro dele, uma biblioteca guarda a obra de Monteiro Lobato. No lado de fora, há mangueiras e jaqueiras, esculturas dos personagens em tamanho natural, horta e parquinho.
Mas são os personagens em carne e osso que mais chamam a atenção dos visitantes. Lá estão, diariamente, Dona Benta, Tia Nastácia, Pedrinho, Narizinho, Visconde de Sabugosa e a preferida das crianças, a boneca de pano com olhos de retrós preto - a Emília.
Letícia de Souza Andrade, 9, ficou encantada com a boneca: "Ela tem fitinhas no cabelo, vestido colorido e olhos bem abertos".
Já Leonardo Prado, 8, preferiu conversar com Pedrinho. "Eu também gosto de aventuras na mata e não tenho medo de bichos", conta o garoto, após posar ao lado do personagem para uma foto de recordação.

O reino está abandonado
É a bordo de um trem de madeira de 1924 que os visitantes chegam ao Parque Reino das Águas Claras. A partida é na estação de Pindamonhangaba (SP).
Com duração de 45 minutos, o trem percorre a estrada de ferro bem devagar, passa por casas antigas, fazendas de gado e até por dentro de bairros da cidade.
A primeira parada é o parque inspirado na obra de Monteiro Lobato. Mas o Reino das Águas Claras está abandonado. Até uma das principais atrações do parque, a ponte sobre o rio Piracuama, está estragada.
Mas no rio Piracuama, onde correm águas limpas, pequenas quedas-d'água são boas para banho. (RM)