Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa
Casa dos Buarque de Holanda, no Pacaembu, é vendida para a prefeitura
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cenário de saraus freqüentados por poetas como Manuel Bandeira (1886-1968) e Vinícius de Moraes (1913-1980) e de festas que celebravam as finais dos festivais de música dos anos 60, a casa da família Buarque de Holanda, na rua Buri, no Pacaembu (zona oeste de São Paulo), deverá abrigar um centro cultural.
A prefeitura acertou a compra do imóvel, vizinho ao estádio Paulo Machado de Carvalho, por R$ 449,7 mil -valor que será dividido entre Maria Amélia, viúva do historiador Sergio Buarque de Holanda (1902-1982), e sete filhos do casal, entre eles o cantor e compositor Chico Buarque.
A Secretaria de Cultura não informa qual é o projeto que tem para a casa. "Deverá ser um centro cultural, talvez um memorial de música. Essa venda está sendo cogitada há muitos anos, desde os anos 90, e várias idéias já foram colocadas", diz a cantora Ana de Holanda, 58, filha do historiador. Segundo ela, nas conversas com o comprador, ficou combinado que o projeto será batizado com o nome Sergio Buarque de Holanda.
O imóvel, conta Ana, sempre foi uma festa, com artistas como Gilberto Gil e intelectuais como Fernando Henrique Cardoso por seus corredores. "Na época da ditadura, eles iam para lá para discutir política. Também tinha muita música. Uma vez acordei com um barulho de trovoada: era o [cantor Dorival] Caymmi, que varou a madrugada cantando."
O imóvel foi construído em 1929. Na época, segundo a família, era praticamente uma casa de campo, com poucas casas na vizinhança. É tombada pelo patrimônio histórico -o que, segundo corretores de imóveis ouvidos pela Folha, justifica o baixo valor pago. "Não se pode mexer na estrutura da casa, o que faz o preço real cair pela metade", avalia Lilian Marques da Costa, gerente da Valentina Caran Imóveis. "Além disso, a violência do bairro e os jogos do estádio, que trazem insegurança e barulho, fazem cair o preço."
O historiador se mudou para lá com a família em 1957. Cultivou, na fachada, um abacateiro e uma palmeira que foram derrubados recentemente, por causa de cupins. O imóvel está em mau estado, com cupins e raízes de árvores de uma casa vizinha quebrando as escadas e o piso.
Despejo
Apesar de ter tido sua venda confirmada, a casa não está vazia. Maria Emérita Pereira Carboni, 50, ex-babá das crianças da família, vive lá há vários anos (17, diz ela; cerca de 10, segundo Sergio Buarque de Holanda Filho, o Sergito, 67) com a filha de 20 anos.
"A notícia da venda da casa foi um choque", diz ela, que procurou ontem um advogado para começar a providenciar uma defesa que evite o despejo -que já está em estudo pelos envolvidos no negócio. "Ninguém da família me ligou para avisar sobre a venda. Estou muito, muito abalada. Eles foram meus padrinhos de casamento, eu era considerada uma amiga. Nunca poderia esperar que isso fosse acontecer", disse ela, chorando, ao atender a porta.
Sergito, diz que a ex-babá sabia de tudo. "Ela foi morar lá porque o marido estava doente. Mas sabia que queríamos vender e que ela teria que se mudar."
A ex-babá fez circular ontem pela vizinhança um abaixo-assinado pedindo que o projeto seja barrado.
"Vou ficar sem casa. Vou ter que morar na praça", diz, referindo-se à praça Raízes do Brasil, em frente ao imóvel, feita em homenagem ao livro do historiador.
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