Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Prefeitura admite erro em show

Fonte: O Estado de S. Paulo

Polícia pode convocar músicos dos Racionais MC’s para prestar depoimento sobre tumulto na Praça da Sé

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A Prefeitura reconheceu ontem que a escolha da Praça da Sé para receber o show dos Racionais MC’s foi inadequada. “Diante desse incidente deplorável, é claro que houve alguma inadequação, sim”, afirmou Carlos Augusto Calil, secretário municipal da Cultura. Na madrugada de domingo, a Sé virou palco de confronto entre policiais militares e o público que assistia ao grupo de rap. A violência deixou 6 feridos, 14 presos e muita depredação.

Anteriormente, a Prefeitura havia contratado os Racionais para fazer três shows, todos na periferia. Não houve problemas. Por isso, decidiu levar a banda para o centro. “Infelizmente, deu no que deu.” Segundo Calil, seria “imprudente” pensar em utilizar novamente a Sé para um show da banda. “Não tenho nada contra a banda, mas alguns vândalos que foram até lá não mostraram a civilidade necessária para utilizar uma praça pública”, diz Andrea Matarazzo, secretário de Coordenação de Subprefeituras.

Nem todos concordam com a posição da Prefeitura. “O centro é o lugar para a realização de manifestações culturais. E o Racionais é o grupo de maior expressão da periferia”, diz a urbanista Nadia Somekh, diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie. “Todos sabem que os Racionais têm um público contestador. A região deveria estar mais preparada.” Para o senador Eduardo Suplicy, que assistiu ao show, houve mesmo um exagero da polícia. “O confronto começou com uns 15 jovens que subiram numa banca de jornal. Era um problema localizado e virou um tumulto generalizado.”

O prefeito Gilberto Kassab defende a polícia. “As imagens demonstram o comportamento adequado da PM e a presença de pessoas que começaram a badernar.” O governador José Serra (PSDB) e o secretário de Estado da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, engrossam o coro favorável à polícia. “(A confusão) foi uma ação de vândalos, de gente que não sabe o que é comportamento coletivo”, diz Serra. Para Marzagão, não houve truculência por parte da polícia. “Pelo contrário. Os policiais militares se afastaram e foi necessária a chegada da tropa de choque para enfrentar a multidão.”

Segundo o delegado-geral da Polícia Civil, Mário Jordão Toledo Leme, vários suspeitos já foram presos e autuados. Cerca de 30 pessoas identificadas serão ouvidas. Jordão não descartou a possibilidade de os integrantes dos Racionais MC’s deporem. “Até agora não recebi essa informação, mas qualquer pessoa pode ser ouvida.”

Para atenuar a má impressão deixada pelo fato, Kassab decidiu organizar um show na Praça da Sé no sábado, das 16 horas às 23 horas, com vários artistas que participaram da Virada Cultural. “O prefeito pediu um show de repúdio à violência”, afirma Calil. Queremos mostrar que a Praça da Sé sempre foi palco de grandes comemorações.”

FRASES

Mano Brown
Líder dos Racionais

“Vamos curtir a festa. Pegar as coisas que nós não gosta no mundo, que nós é obrigado a conviver. Nós tamo aí convivendo. Na verdade, a grande maioria das coisas que a gente não gosta é obrigado a conviver. Tá tranqüilo. Tá suave. Quem coloca ordem é você, mano. Tá suave. Tem que preservar a vida.
Se você não tem amor pela sua, preserve a do outro.
Tá causando corre-corre. Vai machucar as pessoas.
Morou? Não precisa” (durante o show na Praça da Sé)

Eduardo Suplicy
Senador

“A polícia não foi habilidosa. O conflito começou na banca de jornal e poderia ser resolvido ali”

José Serra
Governador

“A confusão foi ação de vândalos, de gente que não sabe o que é comportamento coletivo”

Nádia Somekh
Urbanista

“O Mano Brown é um representante importante da periferia. Mas todos sabem que tem um público contestador. O local deveria ser preparado”

HUMBERTO MAIA JUNIOR, JULIANO MACHADO e VALÉRIA FRANÇA

 

Comerciantes amargam prejuízos

O confronto entre público e policiais começou na Praça da Sé, alastrando-se pelas ruas ao redor. E a Rua 15 de Novembro - endereço de instituições financeiras como a Bolsa de Valores e os bancos Sudameris e Citibank - foi palco dos maiores estragos. Muitos bancos tiveram a fachada pichada. “A depredação não foi maior porque na frente do prédio havia caixas de som que protegeram as portas”, diz o segurança do Citibank, Valmir Ferreira.

Os pequenos comerciantes foram mais afetados, como Waldomiro Francisco Marino, de 80 anos, proprietário de uma banca de jornais. “Levaram tudo. Encontrei só vidros quebrados e prateleiras vazias”, diz Marino, há 50 anos no centro. “Levaram R$ 12 mil em mercadoria e R$ 4 mil em dinheiro, que deixei na banca para pagar os impostos. Vou entrar com ação pedindo indenização à Prefeitura.”

O prefeito Gilberto Kassab (DEM) disse que “não vai abrir mão da responsabilidade de ressarcimentos”. Quem foi prejudicado deve enviar requerimento comprovando as perdas ao Departamento Judicial da Procuradoria-Geral do Município, na Avenida da Liberdade, 103, térreo.