Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Analógico Digital, o futuro da sétima arte passa no CCBB

Fonte: O Estado de S. Paulo
Ciclo de projeções e debate discute as mudanças que atingem o audiovisual

Luiz Carlos Merten

Inaugurada no dia 17, no Centro Cultural Banco do Brasil, do Rio, desembarca hoje em São Paulo, no CCBB, a mostra Analógico Digital, com curadoria do cineasta e jornalista Gustavo Galvão, que depois segue para Brasília. Galvão reuniu uma seleção de 20 títulos de longa-metragem, de diversas nacionalidades, mais sete curtas brasileiros, todos rodados em vídeo digital ou finalizados por computador, para debater a revolução que isso está provocando na estética cinematográfica.

Muitos dos filmes são aqueles que você já sabe que vai encontrar numa iniciativa deste tipo. Os do Dogma, por exemplo, movimento dos monges-cineastas da Dinamarca que, aliás, sumiu (o movimento, não os diretores). Festa de Família, de Thomas Vinterberg, e Os Idiotas, de Lars Von Trier, são duas atrações, embora, do próprio Von Triers, Dançando no Escuro, que recebeu a Palma de Ouro, em 2000, tenha sido o verdadeiro marco. Naquele ano, Cannes organizou um grande seminário, com autores de todo o mundo, para discutir as novas tecnologias. O júri, presidido pelo diretor francês Luc Besson, para mostrar que estava em sintonia com as novas tendências, elegeu o musical com Bjõrk.

Bem antes do Dogma, o cineasta inglês Peter Greenaway já vinha fazendo sua revolução digital, mas seus filmes eram feitos em vídeo de alta definição. Quando Lars Von Trier ganhou sua Palma de Ouro, muitos críticos polemizaram se o futuro do cinema seria, ou é, mesmo digital. Tudo indica que sim e o digital não apenas permite planos de maior duração, incentivando a improvisação (e o plano-seqüência), como, no limite, deveria (ou deverá) levar à democratização da produção e da exibição, já que um filme, assim produzido, não necessita de grandes investimentos.

Existem, aqui, um e talvez dois paradoxos. Se é gravado em digital, não é filme. O audiovisual continua sendo cinema, se for mudado o suporte? Mais curioso, ainda, é que a relutância dos detentores dos sistemas de distribuição e exibição em criar novas salas digitais, tem levado a um fato no mínimo curioso. Os filmes baratos, feitos em digital, passam por um sistema de conversão em película, que é caro, para passar nos cinemas. A própria mostra Analógico Digital vai exibir 18 dos 20 títulos longos em película. Os dois restantes vão passar em DVD - O Mistério de Oberwald, de Michelangelo Antonioni, e Fuck land, de José Luís Marqués.

À diversidade dos filmes - que incluem A Bruxa de Blair, de Daniel Myrick, e Eduardo Sánchez, A Festa nunca Termina, de Michael Winterbottom, Buena Vista Social Club, de Wim Wenders, O Fim e o Princípio, de Eduardo Coutinho, A Inglesa e o Duque, de Eric Rohmer, O Elogio do Amor, de Jean-Luc Godard, e Sin City, de Robert Rodriguez e Frank Miller - somam-se o lançamento de um catálogo informativo e analítico de 64 páginas e a realização de um debate com o cineasta José Eduardo Belmonte, de A Concepção, que vai discutir o processo de criação de um filme digital. O futuro do cinema passa até dia 27 no CCBB.

(SERVIÇO)
Analógico Digital. Hoje, 14h30, Entreatos (2004), de João Moreira Salles; 17 h, A Festa nunca Termina (2002), de Michael Winterbottom; 19h30, O Mistério de Oberwald (1981), de Michelangelo Antonioni. Centro Cultural Banco do Brasil. Rua Álvares Penteado, 112, Centro, 3113-3651. 4.ª a dom., a partir das 14h30. R$ 4. Até o dia 27