Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa
Reforma da Roosevelt sai do papel
Sérgio Duran
A saída do supermercado Compre Bem, nesta semana, e da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Patrícia Galvão, em julho, dará início à longa reforma pela qual passará a Praça Roosevelt, na região central de São Paulo. Com investimento de cerca de R$ 12 milhões, a Prefeitura planeja transformar o lugar em um espaço freqüentado ao menos pelos moradores da região.
Segundo o secretário de Coordenação das Subprefeituras, Andréa Matarazzo, não há prazo para a conclusão das obras. Na verdade, o projeto executivo será licitado somente agora, por conta da dificuldade em demolir as construções existentes sobre a praça, o que deve começar em agosto. “Será uma demolição com picareta, para não afetar a laje.”
A Roosevelt como se conhece hoje foi construída há quase 40 anos, sobre o túnel da Ligação Leste-Oeste. O recurso principal da reforma será demolir o polígono de concreto construído sobre a praça, que abrigava um batalhão da Polícia Militar, o supermercado e outros equipamentos públicos. Embaixo, ficava um estacionamento.
A Roosevelt em si fica suspensa sobre tudo. Dessa forma, é pouco visível e nada convidativa a quem passa por ali. Para os técnicos da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), responsável pela revitalização, planejada há dez anos, o fato de não ser possível observar o espaço de um lado ao outro dá sensação de insegurança ao pedestre. “Há muitas reentrâncias e becos no local, que são um convite ao tráfico de drogas e à marginalidade”, diz Matarazzo.
Hoje, os caminhos são restritos e sinuosos. Com a reforma, haverá a sugestão de uma passagem em linha reta da Rua da Consolação para a Rua Augusta. Uma segunda passagem, em curva, serviria para ir de um lado ao outro da praça. Os paisagistas indicam também a integração com o entorno, com destaque para a igreja, que também passa por reforma, e para as ruas vizinhas, que abrigam teatros, bares e restaurantes.
BID
Incluída na lista de obras de revitalização do centro a serem tocadas com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a reforma da Praça Roosevelt acabou saindo mais cara do que as das Praças da Sé e da República. As três são objetos de estudo da equipe da Emurb há muito tempo, cada qual por um motivo. Remover a marginalidade da Roosevelt, que já foi ponto de prostituição de travestis e tráfico, sempre esteve entre as metas mais urbanísticas para a região.
Cercada de teatros, a praça virou palco
Prefeitura aposta no público atraído por grupos com sede na Roosevelt
Sérgio Duran
Os mesmos teatros que um dia ajudaram a mudar o perfil da Praça Roosevelt serão usados pela Prefeitura como atração após a reforma. “Tanto os Satyros quanto os Parlapatões são os grandes parceiros na recuperação daquele lugar”, admite o secretário das Subprefeituras, Andréa Matarazzo, destacando que enxerga na Roosevelt um espaço de confluência das atrações vizinhas, como o Cultura Artística e o Boulevard Avanhandava.
Para o diretor e dramaturgo Rodolfo García Vázquez, do grupo Os Satyros, urbanismo combina com artes cênicas. A praça era um espetáculo de marginalidade, um ponto misto de tráfico de drogas e de prostituição de travestis, quando Vázquez e os Satyros começaram a trabalhar em um espaço alternativo no local, em 2000. “Havia traficantes que escondiam drogas debaixo da tampa de um bueiro e tínhamos de combinar com eles para que não atrapalhassem a gente.”
Com o tempo, Vázquez espalhou mesas na calçada, multiplicou os espaços e começou a fazer da Roosevelt personagem principal das peças. Em 2004, o grupo encenou Transex, com base nas histórias reais dos transexuais que faziam ponto na frente do teatro.
Os Satyros, hoje, tem maratona de peças de teatro, o que permite a circulação de 1.500 pessoas por semana na região. A Roosevelt ainda conta com o Teatro dos Parlapatões, o Studio 184, o Teatro do Ator e o Recriarte Biju, no antigo cineclube que exibia, na década de 60, filmes de Fellini e Antonioni.
“Os travestis e traficantes foram sendo expulsos pelo público de teatro, pela classe média que começou a freqüentar a Roosevelt”, comenta Vázquez, com a autoridade de quem passou os últimos sete anos estudando a praça para poder transformá-la em palco. “Houve várias fases nesta região, do glamour dos anos 60 e 70, por conta de espaços como o Restaurante Baiúca, à decadência total nos 90, quando o artista plástico Patrício Bisso foi preso acusado de fazer sexo na praça.”
O dramaturgo tem a expectativa de que a Roosevelt seja, após a reforma, uma praça acolhedora - “o que nunca foi”. “Antes do pentágono de concreto, havia um estacionamento. Ou seja, no passado, era uma praça de carros e não de gente”, diz.
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