Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa
Igreja de S. Francisco retoma cor original
José Maria Mayrink
A Igreja de São Francisco de Assis, no Largo de São Francisco, centro de São Paulo, vem recuperando a beleza e a simplicidade que tinha no século 17, quando foi construída em taipa de pilão ao lado do antigo convento dos frades, que ficava nas atuais arcadas da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Patrocinadas pelo Banco Nossa Caixa e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as obras de restauração custarão R$ 2,5 milhões e deverão estar prontas em dezembro.
A fachada voltará a ser amarelo-creme, com detalhes em azul-anil, após a remoção de camadas de tintas que, ao longo de três séculos, cobriram em sucessivas e improvisadas reformas as cores originais. No interior do templo, também os altares, o coro e o teto passam por restauração, com suas imagens e pinturas, para tudo ficar como era no tempo de Frei Galvão. O primeiro santo brasileiro ali viveu quase 60 anos, trabalhando como porteiro e ouvindo confissões no convento, enquanto projetava e levantava as paredes do Mosteiro da Luz, no Caminho do Guaré, hoje Avenida Tiradentes.
'Estamos executando um trabalho de restauração e não de reforma', explica o arquiteto Cláudio Forte Maiolino, da empresa Albatroz, responsável pela obra. Restaurar significa deixar tudo como era originariamente e não mudar nada, como ocorre numa reforma, que acrescenta elementos. É o que a artista plástica Tatiana Zanelatto Domingues está fazendo, com uma equipe de técnicos, nas paredes e no forro da igreja.
Com supervisão de Nanci Valente, professora de Restauro de Obras de Arte da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Curitiba, onde Maiolino ensina História da Arquitetura, o bisturi de Tatiana vai recuperando pacientemente as cores e as pinturas. 'A gente fixa o original com verniz para preservá-lo', diz a restauradora, mostrando como a beleza dos traços se destaca com o amarelo da primeira pintura, após retirar o azul da reforma posterior.
Ao mesmo tempo, Tatiana combate a infiltração que compromete as tábuas centenárias e ataca os cupins que corroem os santos de madeira. As imagens de um Pai Eterno com seu esplendor de raios dourados e de dois anjos grandes que o adoram tiveram de ser removidas de cima do altar para um tratamento especial. 'Estavam bem infestadas e agora terão de receber remendos minuciosos nos buracos abertos pelos cupins.'
Se as verbas forem liberadas a tempo, como espera o arquiteto Maiolino, a primeira fase da recuperação de São Francisco - que inclui ainda o campanário com os três sinos seculares e um corredor entre a igreja e o prédio da Faculdade de Direito - será concluída no prazo previsto. O sino mais antigo é o que 'Caetano Pais de Abreu fez no anno de 1776', como está gravado no bronze. Os outros - um da 'Premiada Fundição de Sinos Angelo Angeli' e outro, menor, que traz a inscrição em latim 'Soli Deo Gloria' (Só a Deus a glória) - são do século 19.
'Falta captar cerca de R$ 150 mil, em complementação ao financiamento da Nossa Caixa e do BNDES', informa Maiolino, lamentando a dificuldade de obter dinheiro, pois as empresas têm investido em iniciativas de fundações próprias, em vez de captar recursos e incentivos fiscais da Lei Rouanet.
Restauro total exigirá pelo menos mais 6 anos
São necessárias obras em sacristia, convento e entorno
No caso do conjunto arquitetônico da Igreja de São Francisco, um dos marcos coloniais mais importantes da capital, a restauração deverá ir ainda mais longe. Segundo o guardião (prior) dos franciscanos, frei Anacleto Luiz Gapski, o projeto completo custará quase três vezes mais (cerca de R$ 6 milhões) e levará pelo menos seis anos. Depois da igreja, serão restaurados a sacristia e o que restou do convento antigo, além de um prédio de seis andares ocupado por 30 frades e suas obras sociais. As duas fases seguintes dependem de mais patrocínios. 'Embora mais recente, o convento novo (dos anos 40), tem valor histórico-cultural e por isso foi tombado pelo Município de São Paulo', observa frei Anacleto.
'Utilizamos recursos de incentivo fiscal da Lei Rouanet e não recursos do banco', informa o presidente da Nossa Caixa, Milton Luiz de Melo Santos. Como empresa de economia mista e de capital aberto, explicou ele, a instituição apóia o projeto da Igreja de São Francisco com total transparência. 'Estamos participando de uma iniciativa de interesse público e contribuindo para a recuperação do centro histórico', ressaltou. A sede da Nossa Caixa fica nessa área, na esquina da Rua do Tesouro com a 15 de Novembro.
A revitalização do centro compreende imóveis e ruas do triângulo histórico formado, nos vértices, pelo Convento de São Francisco, Mosteiro de São Bento e Catedral da Sé, passando pela Igreja de Santo Antônio na Praça do Patriarca. 'A restauração de São Francisco será um passo importante, após a arrumada que monges deram no São Bento para a visita do papa Bento XVI', afirma o arquiteto Benedito Lima de Toledo, professor de História da Arquitetura na Universidade de São Paulo (USP).
Uma sugestão do arquiteto, de reproduzir no Largo de São Francisco um cruzeiro que se pode ver nas gravuras antigas, deverá ser incorporada ao projeto de restauração da igreja e do convento. 'Esse é um sonho de todos nós, pois o cruzeiro faz parte da história desse conjunto', disse frei Anacleto, garantindo o apoio dos frades à proposta de Lima de Toledo. O cruzeiro, que poderia ser visto do Largo de São Bento, seria construído em aço cortem, material que lhe daria aparência de antigo e o protegeria contra eventuais atos de vandalismo.
A Capela da Ordem Terceira da Penitência, que fica à esquerda da Igreja de São Francisco, também deverá entrar em obras para reforma do telhado e restauração das paredes e imagens. A Polícia Militar do Estado de São Paulo, segundo frei Anacleto, se interessou pelo patrocínio pelo fato de seu patrono, o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, estar sepultado na cripta do templo. Ali estaria também o coração do Regente Feijó, cujo corpo foi trasladado, no século passado, para a Catedral da Sé.
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