Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Coleção alemã estaciona no Masp

Fonte: Folha de S. Paulo
Warhol feita sob encomenda, em 1986, para a coleção da DaimlerChrysler

Cem obras da DaimlerChrysler serão expostas no subterrâneo a partir de 15 de agosto; destaque é o movimento zero



TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos poucos a luz volta ao Masp (Museu de Arte de SP). O hall subterrâneo será novamente iluminado pelo sol, depois da retirada dos painéis de madeira que há tempos escondem a cidade do museu.
A remodelação é parte da cenografia da exposição "Da Bauhaus a (Agora!)", que será inaugurada em 15 de agosto e ficará em cartaz até o fim de outubro.
A mostra reúne cem obras da coleção da DaimlerChrysler, dona da Mercedes-Benz. É um dos principais conjuntos privados da Alemanha, com cerca de 1.300 peças.
"Nossa coleção cobre as tendências abstratas do século 20, a partir das primeiras manifestações em Stuttgart, em 1910, até a arte contemporânea, o que significa cem anos de arte abstrata, de artistas europeus a nomes internacionais", diz Renate Wiehager, curadora responsável pela coleção.
A exposição já passou por Detroit (EUA), África do Sul e Japão e continuará em turnê depois de São Paulo, na Espanha e em Singapura.
Em cada parada, há uma adequação das obras ao contexto local. No Masp, o destaque será o movimento zero, representado em 30 obras. "Há um interesse especial neste movimento para o Brasil, por causa de algumas conexões com os concretos. Em alguns aspectos, os dois movimentos se sobrepõem, e eles aconteceram no mesmo momento", observa.
A curadora alemã está fascinada com os concretistas brasileiros. "Fiquei apaixonada pela exposição que vi no MAM de São Paulo no ano passado ["Concreta 56 - A Raiz da Forma']", diz. "A arte brasileira das décadas de 50 e 60 não é muito conhecida na Europa. Foi a primeira oportunidade que tive de ver vários trabalhos originais dos anos 50 e 60 e de contemporâneos também. Foi então que decidi planejar a aquisição de arte brasileira para os próximos dois ou três anos."
Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Lothar Charoux, Lygia Clark e Willys de Castro são alguns dos que ela pretende adicionar à coleção. Almir da Silva Mavignier e Marcellus L. são os únicos brasileiros até agora.
Os concretistas brasileiros estão em alta no cenário internacional. "Com certeza eles estão sendo descobertos. O MoMA, quando abriu seu novo museu, passou a trabalhar para comprar artistas brasileiros desse período", exemplifica.

Temas automobilísticos
A coleção DaimlerChrysler é conhecida por encomendar obras para artistas contemporâneos. Andy Warhol, Robert Long e Sylvie Fleury fizeram obras comissionadas, sempre com temas automobilísticos.
O curador do Masp, Teixeira Coelho, lembra que o próprio foco da coleção tem a ver com a indústria. "É uma coleção corporativa, que, de certa maneira, tem a ver com a proposta da Bauhaus, de levar o belo ao produto industrial. O manifesto da arte concreta de 1929 tem princípios que são quase de uma arte industrial. Simples o quanto possível para ser entendida universalmente, como um carro tem que ser", comenta.
A exposição chegou ao museu por meio do Instituto Goethe, no início da gestão de Coelho, em setembro passado. "Eles visitaram outros museus e ficaram encantados com o Masp. É inevitável, o desenho do museu é muito apropriado. A própria galeria é uma obra concreta", destaca ele.

ESTUDANTES GANHARÃO LIVRO DA EXPOSIÇÃO

O serviço educativo da mostra "Da Bauhaus a (Agora!)" será complementado por um livro. Serão 10 mil exemplares que deverão ser entregues a estudantes que visitarem o Masp. O curador Teixeira Coelho diz que o livro, iniciativa inédita do museu, "terá as informações básicas e um glossário com os principais movimentos".

Acervo tem trabalhos da Bauhaus

DA REPORTAGEM LOCAL

A coleção da empresa DaimlerChrysler começou a ser desenvolvida em 1977, priorizando trabalhos com conceitos abstratos e geométricos.
"Ao lado da coleção do Deutsche Bank, a nossa é uma das mais importantes e antigas da Alemanha", afirma a curadora Renate Wiehager. "A intenção sempre foi ter peças com a mesma qualidade das obras de um museu, e não ser um conjunto para a decoração de escritórios."
Ela lembra que, no início, a coleção era basicamente composta de artistas da Alemanha Ocidental. "Com o tempo, ela se ampliou e se tornou mais e mais internacional."
O conjunto reúne desde a avant-garde de Stuttgart, passando pela Bauhaus, pelo grupo concreto de Zurique e o De Stijl. Entre os artistas, estão nomes proeminentes da época, como Adolf Hölzel (autor das pinturas mais antigas da coleção), Oskar Schlemmer (cuja obra é representada em nove trabalhos) e Josef Albers, ex-aluno e professor da Bauhaus.
Com sede em Berlim, a coleção tem espaço próprio, onde mostra seu acervo e realiza exposições temporárias, na Potsdamer Platz. Nos arredores, ficam obras públicas de sete prestigiados artistas, compradas pela DaimlerChrysler.
Keith Haring, Jeff Koons, François Morellet, Nam June Paik, Robert Rauschenberg, Mark di Suvero e Jean Tinguely assinam as esculturas. (TN)