Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Violoncelista Zygmunt Kubala morre tocando

Fonte: O Estado de S. Paulo
O músico polonês, vítima de aneurisma da aorta durante concerto em Ouro Branco, no sábado, foi enterrado ontem no RJ

Um dos principais músicos do Brasil, o violoncelista de origem polonesa Zygmunt Kubala morreu na tarde de sábado durante um concerto numa igreja em Ouro Branco, Minas Gerais. Ele tocou apenas uma frase musical e caiu. Kubala, que chegou a ser socorrido por volta das 13h30, foi levado ao hospital Policlínicas, mas não resistiu. Morto aos 64 anos, de um aneurisma da aorta, o músico foi enterrado ontem, pela manhã, no Cemitério São Francisco Xavier (Caju), no Rio de Janeiro, ao lado da esposa. Ele deixou dois filhos. Um deles, Renata, é violinista e participou de uma premiada gravação da obra integral do compositor Edward Grieg com o grupo norueguês Trondheim Soloists.

Kubala radicou-se no Brasil há 40 anos. Formado pela Academia de Música Fréderic Chopin e Escola Superior de Música de Colônia, o violoncelista, um dos fundadores da Orquestra Jazz Sinfônica, era considerado perfeccionista pelos colegas. Gravou muitos discos ao lado de grandes nomes da música brasileira, inclusive popular.

O maestro Julio Medaglia, que regeu Kubala em diversas ocasiões, disse que o músico deu uma 'contribuição inestimável' ao violoncelo brasileiro e que a forma como viveu no País, 'sempre de bem com a vida, sempre sorrindo', foi uma lição admirável de convivência. 'A maneira como ele morreu foi maravilhosa. Ele falou algumas palavras, começou a tocar e morreu ali mesmo, no palco. Eu também quero morrer assim', disse Medaglia.

Medaglia lembrou que Kubala, curiosamente, começou a vida aqui no País de forma singular: ganhou na loteria esportiva. 'Com o dinheiro, adquiriu a casa onde viveu a vida toda em Pinheiros, e que transformou numa espécie de conservatório, abrigando músicos jovens, organizando concertos.'

O maestro dedicou ontem o programa que apresenta, Tema & Variações, na Rádio Cultura FM, às 11 h, à carreira de Zygmunt Kubala, que incluiu uma entrevista feita há algum tempo com o músico. Nela, Kubala contou como chegou ao Brasil, o jeito que se adaptou ao País e seu entusiasmo pela música brasileira. O maestro regeu um concerto com a participação do violoncelista no ano passado. 'Ele foi o solista do Concerto para Violoncelo, de Schumann, numa apresentação da Orquestra Sinfônica Municipal.'

O maestro Cyro Pereira, co-fundador da Jazz Sinfônica, orquestra criada há dez anos para a execução de um repertório eclético, lembrou o entusiasmo de Kubala ao participar do processo embrionário que deu origem a um dos mais estáveis grupos brasileiros de música. 'Kubala foi um músico excepcional, que tocava com alma e prazer, um intérprete de música popular e clássica de formação erudita.'

O último disco do violoncelista foi Feitio de Oração - Música Polonesa e Brasileira para Cello e Piano (Selo Independente, R$ 28, à venda no site), foi gravado com o pianista Achille Picchi. O álbum é um bom exemplo dessa abertura musical de Kubala. O repertório inclui obras dos compositores Frederic Chopin, Heitor Villa-Lobos, Stanislaw Moniuszko, Alberto Nepomuceno, Achille Picchi, Karol Shimanovzki. A composição que dá nome ao disco, Feitio de Oração, é uma canção de Vadico e Noel Rosa, com arranjo de Cyro Pereira, o que traduz o fascínio que a MPB exercia sobre o músico polonês. Entre outros discos que contam com a participação do músico estão o da pianista Rosana Civile (Estados d'Alma) e do violonista Paulo Pedrassoli (Arpeggione).

Kubala foi também professor. Deu aulas no Departamento de Música da Universidade de São Paulo e no Instituto de Artes da Unesp, atuando como camerista no Brasil, Estados Unidos, América Latina e vários países da Europa. Solista da Orquestra Sinfônica Brasileira e da Orquestra de Câmara do Brasil, ele integrou ainda o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo.