Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Penha

Fonte: Jornal da Tarde
Um bairro orgulhoso de seu patrimônio

Penha conserva algumas construções históricas e recebe novos empreendimentos

FABIO LEITE, f.leite@grupoestado.com.br

O bairro que ainda preserva com orgulho seu patrimônio histórico também recebe com bons olhos o retorno dos investimentos imobiliários. É. aos poucos e pelas beiradas, a Penha vem se desenvolvendo e expandindo seus horizontes verticalmente. Um fenômeno que pega carona na onda de lançamentos que invadiu alguns bairros da Zona Leste nos últimos anos, como Tatuapé e Mooca, salvo as devidas proporções.

Entre os bairros mais altos da região, a Penha oferece uma vista privilegiada aos seus moradores, fator dos mais valorizados pelo mercado. Embora a paisagem não seja das mais verdes da cidade, a revitalização das poucas localidades já existentes tem melhorado a qualidade de vida do bairro. É o caso do Parque Tiquatira, situado no canteiro central da Avenida Governador Carvalho Pinto, que chega a receber cerca de seis mil pessoas nos fins de semana.

“Revitalizamos todo o parque com pista para caminhada e skate. Também estamos reformando dois centros esportivos no bairro para melhorar as opções de lazer aos moradores”, afirma o subprefeito da Penha, José Araújo Costa. Aliás, é no entorno do parque e na região da Avenida Amador Bueno, ambos trechos mais afastados do centro antigo do bairro, onde concentram-se os novos empreendimentos.

“É uma região muito bem suprida de todos os serviços. Tem bons bares e restaurantes na Carvalho Pinto, além do enorme (supermercado) Extra e do Carrefour que será inaugurado em breve”, acrescenta Fernanda Parizotto, diretora de marketing da Tibério, construtora que já lançou cinco empreendimentos no bairro. Além desses, complementa, a região conta com boas escolas e com o Shopping Penha, que tem cinema e praça de alimentação.

Comércio (ir)regular

Um dos principais problemas do bairro, os ambulantes que atuam irregularmente nas calçadas da Avenida Penha de França e em ruas adjacentes, está prestes a ser resolvido, garante o subprefeito. “Estamos em processo de licitação para fazer a reforma das calçadas da Penha de França. Algo semelhante ao que foi feito na Oscar Freire. Com isso, vamos transferir o comércio informal para um local mais propício ao lado do mercadão da Penha”, afirma Costa.

O mercadão, por sua vez, um dos símbolos do bairro, será reformado, a exemplo do que foi feito

recentemente no Largo do Rosário. “Queremos atrair os investimentos e segurar aos penhenses que não precisem ir para outros bairros”, finaliza.

Apego e cobrança por melhorias

Penhense há 70 anos ou há apenas cinco meses. Pouco importa o tempo de casa, o fato é que, uma vez na Penha, seu charme envolvente faz com que fique difícil deixá-la. É o caso do médico Norvaldo do Amaral Prado, 58 anos, que nasceu no bairro e fez questão de continuar morando por lá. “Mudei de casa faz um ano e meio. Nem procurei em outros lugares. Preferi continuar aqui”.

Uma das mais novas moradoras da região, a contadora Márcia de Oliveira Pacheco, 38 anos, até visitou imóveis em outros bairros da Zona Leste, mas acabou batendo o martelo por um apartamento da Penha. “Morava no Jardim Grimaldi, mas já conhecia o bairro. Acabei ficando por aqui por causa da segurança, do preço e da infra-estrutura. Aqui tem tudo.”

Dono de uma banca de jornal no Largo do Rosário e também morador da Penha, o comerciante Osvaldo dos Santos Scanavaca, 55 anos, tem percebido algumas melhorias na região, mas acredita que serão precisos mais investimentos para dar conta do crescimento do bairro. “O trânsito aqui está um pouco complicado. Às vezes você tem de dar a volta no bairro para conseguir chegar na Radial”, reclama.

Com mais tempo de Penha e com uma lista de sugestões um pouco mais extensa, o aposentado Carlos Martins, 77 anos, aprecia a importância histórica e cultural do bairro mas cobra mais zelo pelos seus patrimônios. “As casas tombadas estão abandonadas pelo poder público. Bem que podiam revitalizar toda esta área. Temos coisas maravilhosas aqui, mas que estão esquecidas”, lamenta.

Voltados à classe média

Empreendimentos do bairro correspondem ao bolso de seus moradores: compactos e acessíveis

Atrás apenas de Tatuapé e Mooca na lista dos bairros da Zona Leste mais valorizados por construtoras e vendedoras de imóveis da Capital, a Penha ressurge após um hiato de quase dez anos sem grandes investimentos como uma região aconchegante e com boas ofertas de unidades residenciais. Além de segurar os penhenses que já cogitaram mudar para as outras duas regiões bem cotadas, os novos empreendimentos têm atraído, inclusive, moradores de localidades vizinhas menos tradicionais.

“A Penha tem crescido recentemente sempre com pessoas do próprio bairro ou daqueles vizinhos que ficam um pouco mais distantes e que vêem a Penha como um ‘upgrade social’”, conta Fábio Rossi Filho, diretor da Itaplan Imóveis, imobiliária que comercializa lançamentos com forte atuação na região. “Dentro da Zona Leste, a Penha é um dos bairros tradicionais que consideramos nobres, junto com Tatuapé e Mooca. Ela tem vida própria, comércio forte e ótimo padrão de qualidade de vida”, completa.

A grande desvantagem entre a Penha e os outros dois bairros mais visados pelo mercado imobiliário é que ela não dispõe de grandes áreas propícias para este tipo de investimento. Em contrapartida, o preço bem inferior do metro quadrado, na comparação com as mesmas localidades, eleva a cotação da Penha nos quesitos custo e benefício. “Isso é o que vale a pena”, reitera Rossi Filho, que disse ainda estar estudando dois lançamentos na Penha previstos para o final deste ano.

Com dois novos empreendimentos no bairro - um com entrega prevista para outubro, e outro recém-lançado que já tem mais de 80% de suas unidades vendidas -, a construtora Tibério também aposta na tradição e no potencial imobiliário da Penha. “Já construímos três empreendimentos na região e agora temos outros dois. Todos eles fizeram muito sucesso”, relata a diretora de marketing Fernanda Parizotto.

Por se tratar de uma região de classe média, conta ela, o perfil das unidades comercializadas no bairro seguem a linha de imóvel compacto e acessível. Com três dormitórios - uma suíte - e entre uma ou duas vagas de garagem, os apartamentos têm, em média, 63 m² de área útil. O preço não supera os R$ 2,3 mil o m², enquanto que as novas unidades do Tatuapé, por exemplo, são comercializadas a partir de R$ 3,5 mil o m². “É uma linha mais enxuta para caber no bolso dos nossos clientes”, explica Fernanda.

O sucesso nas vendas tem sido tanto que a Tibério já planeja lançar um novo empreendimento com 96 unidades no início do próximo ano. Para isso, a construtora já adquiriu um terreno com pouco mais de 2 mil m² na Rua Joaquim Marra, próxima ao metrô Vila Matilde. “Além da rede de transporte público, a Penha também tem fácil acesso à Radial Leste e à Marginal do Tietê. Inclusive, muitos dos nossos clientes são pessoas que trabalham em Guarulhos, mas que preferem morar na Capital”, completa.

A boa localização e infra-estrutura da Penha também despertaram interesse na construtora Goldfarb. Depois de lançar dois empreendimentos nos arredores do bairro - Cangaíba e Vila Matilde -, a empresa adquiriu um terreno com cerca de 20 mil m² próximo à igreja Nossa Senhora da Penha, onde deverá construir 400 unidades. Para o presidente, Milton Goldfarb, o bairro só não tem mais investimentos imobiliários por conta da lei de zoneamento vigente. “É um dos bairros que tem uma lei um pouco mais severa que limita altura de prédios e dificulta novos investimentos”, afirma.

História e festa penhenses em 8 de Setembro

Oito de Setembro. É pela praça localizada no coração da Penha, a um quarteirão da igreja Nossa Senhora do Rosário, que partem os ônibus com os mais variados itinerários. É nela que concentram-se também inúmeras lojas de pequenas e grandes redes de serviços. E por esses dois motivos, é por lá ainda que circulam diariamente centenas de moradores, consumidores ou apenas pedestres à passeio.

Oito de Setembro. É nesta data que o bairro se rende todos os anos à adoração e devoção à sua padroeira, Nossa Senhora da Penha de França. É, aliás, um dos dias mais esperados pelos penhenses por conta da tradição dos festejos e da missa que superlota de fiéis o santuário que leva o nome da santa.

Oito de setembro. Como foi a construção da capela que despertou o interesse geral pelo bairro, a data também marca o nascimento da Penha. Dia que, em 2007, um dos bairros mais antigos da Capital completa 340 anos. Bairro este que começou a se expandir em torno da capela com casas residenciais e comércio. Considerados patrimônios históricos, alguns imóveis preservam até hoje sua arquitetura de origem.

À época do Oito de Setembro, estendia-se pela Penha, desde o Tatuapé até as divisas de Guarulhos e São Miguel, uma imensa fazenda de curral de gado de propriedade de Mateus Nunes de Siqueira, na várzea do rio Tietê. Foi ele, inclusive, quem mandou erguer a capela no topo da colina. Ao redor da fazenda, os colonos construíram suas casas e, em 1668, quando a concessão da terra já havia sido oficializada, o povoado consolidou-se no local.

Faltam imóveis para locar

Mercado de locação da Penha é ofuscado pelas facilidades de pagamento na compra de unidades

FABIO LEITE, f.leite@grupoestado.com.br

Seja um apartamento novo e compacto ou um sobrado antigo com até três dormitórios, está cada vez mais difícil encontrar um imóvel para alugar na Penha. Há mais de um ano, o mercado de locação vem seguindo trajetória inversa à do setor de compra e venda com uma expressiva queda no número de ofertas. A baixa rentabilidade dos aluguéis na região é a principal causa desse fenômeno, que tem afugentado muitos proprietários desse tipo de investimento.

“Eles estão preferindo vender o imóvel a alugá-lo”, atesta o gerente administrativo da Jamelo Imóveis, Sérgio Martino. “Trabalhávamos com aluguel em torno de 1% do valor do imóvel. Hoje, não conseguimos mais. Por isso, os proprietários estão optando por vender o imóvel para aplicar o dinheiro na poupança a arriscar ter um inquilino inadimplente”, explica o colega Fernando Luna, da DBS Imóveis, atuante no bairro.

Segundo ele, o valor médio viável dos aluguéis no bairro de um imóvel avaliado em R$ 100 mil não ultrapassariam os R$ 500. “As coisas estão difíceis no mercado de locação. É um processo gradual que vem ocorrendo de dois anos para cá”, afirma o especialista, que alugou nesta semana seu penúltimo imóvel à disposição, um sobrado com três dormitórios e duas salas que custa R$ 120 mil por apenas R$ 800 por mês.

Preferência

De acordo com o gerente administrativo Martino, os novos empreendimentos verticais no bairro e as facilidades de financiamento e pagamento apresentadas pelas construtoras também têm ofuscado as locações da Penha. “Com os lançamentos de prédios, o pessoal está preferindo financiar um apartamento com a própria construtora”, relata.

Especialista no mercado da região, a assessora de financiamento da imobiliária Pedro de Lima, Renata dos Santos, segue a mesma linha de raciocínio e diz que os atrativos são válidos para imóveis já prontos, inclusive. “A facilidade de financiamento bancário e as taxas de juros mais acessíveis fazem com que as pessoas optem pela compra. Elas percebem que, ao invés de pagar aluguel, podem pagar prestação da casa própria.”

Segundo Renata, a própria imobiliária aconselha àqueles que os procuram interessados em alugar um imóvel que peguem um empréstimo bancário para comprar uma unidade. “O pessoal junta um dinheiro ou até vende o carro para dar como entrada e financia o resto em até 240 meses”, explica a especialista.

Procura

Ainda assim, afirma Sérgio Martino, da Jamelo Imóveis, a procura por locação é grande na Penha. Faltam mesmo as ofertas. “Vêm cerca de 20 pessoas por dia querendo alugar com a gente. Se eu tivesse 20 imóveis disponíveis, alugaria tudo num dia só”, acredita.

Entre os interessados por um imóvel para locar no bairro estava a empresária Fabiane Pasquarelli, 27 anos, que cansou de procurar e acabou optando em se mudar para o Tatuapé. “Procurei bastante e não encontrei nada. Tem muita casa antiga à venda, mas nenhuma boa para locação”, diz.

Mesmo de malas prontas para o bairro vizinho, Fabiane espera que novos investimentos sejam feitos no bairro onde nasceu. “Tomara que eles (investimentos) venham. A Penha está precisando disso”, comenta. Consultores imobiliários acreditam, entretanto, que os novos empreendimentos não devam interferir tão positivamente assim no mercado de locação do bairro

A reportagem apurou junto às imobiliárias que atuam na Penha que as poucas opções para aluguel no bairro variam entre R$ 400 e R$ 700 para imóveis pequenos, com dois dormitórios e uma vaga de garagem. As ofertas concentram-se no entorno da Avenida Governador Carvalho Pinto.

Quanto aos imóveis comerciais, dizem os consultores imobiliários, as opções também são raras. “Não tem nada disponível no mercado, principalmente se o ponto é bom”, afirma Fernando Luna, da DBS Imóveis. “Aqueles que ficam vagos”, completa, “são alugados rapidamente”.