Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Grandes sonhos em 424 curtas

Fonte: O Estado de S. Paulo
Evento com início hoje amplia limites do formato com ousadia e novas técnicas

Luiz Carlos Merten

Tamanho não é documento. Há 18 anos, o Festival Internacional de Curtas, uma criação de Zita Carvalhosa, mostra que a qualidade de um filme não precisa ser necessariamente definida pela sua duração. A própria história do cinema é pródiga em exemplos, desde os filmes dos surrealistas, nos anos 20 - Entr'Acte, de René Clair, e Un Chien Andalou, de Luís Buñuel e Salvador Dalí -, até dois dos maiores clássicos da história do cinema brasileiro - Di, de Glauber Rocha, e Ilha das Flores, de Jorge Furtado - são curtas. A partir de hoje (para convidados) e até domingo, dia 2, São Paulo abriga mais uma edição do maior evento do formato no País. Para comemorar a maioridade - 18 anos - do festival haverá até uma mostra de curtas pornográficos.

O recente Festival de Gramado foi uma vitrine que confirmou a vitalidade do curta. Com exceção do genial Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, os melhores filmes brasileiros do 35º festival na serra gaúcha, encerrado sábado, foram obras do formato. Você vai poder conferir as excepcionais qualidades de Satori Uso, de Rodrigo Grota, e Alphaville 2007, de Paulinho Caruso. O terceiro grande curta de Gramado, contudo, ficou de fora da mostra paulistana - uma injustiça que a comissão de seleção cometeu contra A Psicose de Valter, de Eduardo Kishimoto.

No total, serão exibidos mais de 400 títulos - exatamente 424 -, representando 48 países. Outra novidade deste ano é que a a Cinemateca, agora com duas salas, passa a ser a nova sede do Festival de Curtas. Toda essa programação está distribuída em seções já conhecidas do público - Mostra Internacional, Mostra Latino-Americana, Panorama Brasil. Cinema em Curso vai exibir a produção das escolas de cinema. KinoOikos (Formação do Olhar)vai prosseguir, pelo sexto ano consecutivo, exibindo vídeos e filmes realizados exclusivamente em oficinas e projetos que utilizam o audiovisual como elemento de inclusão social - e, desta vez, ganha um site (www.kinooikos.com.br) que passa a ser a casa virtual dos descolados. A parceria com o Mix Brasil prossegue com a seção de mesmo nome, voltada a curtas que debatem a sexualidade.

Zita Carvalhosa considera-se suspeita para falar, quando o assunto é curta, mas ela concorda que, sim, o formato vive um momento excepcional. Estão surgindo muitos novos realizadores, não apenas no circuito universitário, e os já estabelecidos estão ousando mais. Muitas dessas transformações poderão ser mapeadas nos programas especiais, que incluem retrospectivas dedicadas à cineasta alemã Jeanne Faust, ao japonês Osamu Tezuka e aos brasileiros Cao Guimarães e Jairo Ferreira. Uma seleção de curtas políticos foi reunida sob o título de Dê Uma Chance à Paz. Outra, já assinalada, de filmes eróticos, chama-se Proibido para Menores, e ainda serão realizadas homenagens aos 50 anos do London Film School e dos 20 anos da escola francesa Fémis. A tônica do festival está na diversidade, inclusive de técnicas. Zita Carvalhosa colocou esta 18ª edição sob o signo de 'sonhos e limites'. Não se trata de uma unidade temática dentro do programação geral, mas de uma constatação. Os limites do formato podem ser curtos, mas o sonho é infinito.

(SERVIÇO)Serviço
18.º Festival Internacional de Curtas em São Paulo. Cinemateca. Lgo. Sen. Raul Cardoso, 207, 3512-6101. MIS. Av. Europa, 158, 3062-9197. CineSesc. R. Augusta, 2.075, 3082-0213. Centro Cultural São Paulo. R. Vergueiro, 1.000, 3383-3402. Espaço Unibanco. R. Augusta, 1470, 3288-6780. Unibanco Arteplex. R. Frei Caneca, 569, 3472-2365. Cinusp. R. do Anfiteatro, 181, 3091-3540. Faap. R. Alagoas, 903, 3662-1662

Confira 11 sugestões imperdíveis da mostra de curtas

SATORI USO: O melhor curta do recente Festival de Gramado propõe um enigma fascinante. Fala de um poeta que nunca existiu por meio do trabalho de um documentarista imaginário. Mas o júri não embarcou na proposta e o sofisticado curta do paranaense Rodrigo Grota ganhou só o Kikito de melhor fotografia. O prêmio, de qualquer maneira, destaca a beleza das imagens captadas em digital, o que permitirá discutir o aporte das novas tecnologias ao formato. CineSesc. 6.ª, 20h. Sala Cinemateca. Dom., 22h. MIS. 3.ª, 17h. Centro Cultural São Paulo. Dia 30, 18 h

Assista a cenas de alguns dos curtas do festival

ALPHAVILLE 2007: Vencedor do prêmio de melhor filme em Gramado, este instigante trabalho de Paulinho Caruso dialoga com o cult Alphaville, de Jean-Luc Godard, dos anos 60. Não falta nem mesmo o texto em francês, lido por uma voz robótica, simulando o computador que, na ótica godardiana, controla a cidade do futuro. Aqui, o conflito é entre um executivo do setor de blindagens e um justiceiro negro (e armado), que representam o abismo social brasileiro, a partir do oásis que representa o condomínio fechado na Grande SP. CineSesc. Dom., 18h; Cinusp. 2.ª, 16h; Cinemateca. 3.ª, 22h; MIS. 4.ª, 19h; Faap. Dia 30, 11h

VIDA MARIA: A animação do cearense Márcio Ramos virou o curta papa-prêmios dos festivais deste ano, vencendo em Tiradentes, no Recife, no Guarnicê (em São Luís) e em Fortaleza e Cuiabá. Com economia de meios e grande técnica, discute o papel da mulher na sociedade patriarcal nordestina, colocando na tela o moto-contínuo que faz com que Marias de todas as gerações se sucedam, repetindo a mesma história triste. Museu da Imagem e do Som. 6.ª, 19h; Cinemateca. Sáb., 20h; CineSesc. Dom., 16h; Centro Cultural São Paulo. 3.ª, 16h

PERTO DE QUALQUER LUGAR: Mariana Bastos surgiu com Esmir Filho no Festival de Curtas da Cultura Inglesa. Ele foi a Cannes com Alguma Coisa Assim, do qual ela participou, contando a história da iniciação de um garoto gay. A própria Mariana trata agora do mesmo tema - a iniciação -, só que do ponto de vista de uma garota hetero, que descobre não apenas o sexo, mas vivencia sua primeira decepção amorosa. Embora seja uma diferença considerável, há muita coisa em comum entre os dois filmes, que procuram atingir a mesma faixa jovem. Caroline Abras, muito parecida com Chloë Sevigny, foi melhor atriz de curta em Gramado. Só para sua informação, ela já estava no elenco de Alguma Coisa Assim. Cinemateca. 6.ª, 22h; MIS. Sáb., 21h; Centro Cultural São Paulo. Dom., 18h; CineSesc. 3.ª, 18h

SALIVA: Esmir Filho foi melhor diretor de curta em Gramado por este filme sobre a expectativa do primeiro beijo. Esmir realiza um trabalho interessante de diálogo com as platéias jovens, o que não deixa de representar a formação de um olhar. No festival encerrado sábado, na cidade gaúcha, Saliva teve mais aplausos do que qualquer outro curta. Como eles passavam à tarde, e de graça, a freqüência de estudantes era muito grande. Ou seja, Saliva atingiu seu alvo em Gramado. Como será em São Paulo? MIS. 6.ª, 19h; Unibanco Arteplex. 6.ª, 18h e 22h; Cinemateca. Sáb., 20h; CineSesc. Dom., 16h e 20h; Espaço Unibanco. 3.ª, 19h; Centro Cultural São Paulo. 3.ª, 16h

VER CHOVER: O curta vencedor da Palma de Ouro da categoria em 2007 conta a história de dois adolescentes que vivem o dilema de partir ou ficar na pequena cidade mexicana em que residem. A jovem diretora Elsa Miller tem algo da pegada de Esmir Filho e Mariana Bastos, também querendo falar para platéias de garotos e garotas. O mais curioso é que ela pretende ampliar a experiência deste filme num longa que vai rodar no ano que vem. Espaço Unibanco. 2.ª, 15h e 19h; Cinemateca. 4.ª, 18h

O MOZART DOS BATEDORES DE CARTEIRAS: Considerado o maior evento de curtas do mundo, o Festival de Clermont-Ferrand consagrou duplamente este filme do francês Philippe Pollet-Villard, com o Grand Prix e o prêmio do público. Conta a história de um menino romeno adotado por dois batedores de carteira. O detalhe é que ele é surdo e o diretor faz o espectador compartilhar seu isolamento (e silêncio) num mundo barulhento. CineSesc. 3.ª, 16h; Cinemateca. 4.ª, 20h; Espaço Unibanco. Dia 30, 19h

MEI: Cria de Tsai Ming-liang, o diretor de Taiwan Arvin Chen ganhou o Urso de Prata de melhor curta no Festival de Berlim deste ano por este filme sobre um jovem que se inicia nos mistérios do sexo (e do amor) nos mercados noturnos de Taipei. MIS. 6.ª e 4.ª, 17h; Centro Cultural São Paulo. Dia 2/9, 18h

COMO FREAR NUMA DESCIDA: É interessante, mas os curtas vencedores dos grandes festivais internacionais deste ano tratam de relações íntimas (e/ou familiares). Este do francês Alix Delaporte ganhou o Leão de Ouro de Veneza. A história trata da relação de uma garota com o pai, vítima de crises delirantes. Espaço Unibanco. 6.ª, 21h; CineSesc. 2.ª, 18h; Cinemateca. Dia 30, 16h

TARANTINO’S MIND: O curta que abriu o Festival do Rio do ano passado (como complemento de A Dália Negra, de Brian De Palma)virou cult instantaneamente. Com crédito de direção para 300 ML, foi gravado em vídeo e mostra 15 minutos de conversação entre Selton Mello e Seu Jorge, que discutem o mundo a partir do cinema do autor de Pulp Fiction (Tempo de Violência). Cinemateca. 6.ª, 20h; MIS. Sáb., 19h; CineSesc. 3.ª, 20h; Centro Cultural São Paulo. Dia 30, 16h

UM RAMO: O curta vencedor do prêmio Descoberta na Semana da Crítica em Cannes, neste ano, foi dirigido por Juliana Rojas e Marcos Dutra. Intrigante é uma boa palavra para defini-lo - um pássaro prevê a transformação de uma pessoa em árvore. O que é? O que é? Cinemateca. 6ª, 20h; Unibanco Arteplex. 6.ª, 18h e 22h; MIS. Sáb., 19h; CineSesc. Dom., 20h; Espaço Unibanco. 3.ª, 19h; CineSesc. 3.ª, 20h; Centro Cultural São Paulo. Dia 30, 16h