Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa
Aula de Piano
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ele acaba de ganhar o Oscar da música clássica, está se preparando para gravar Debussy e toca em São Paulo e no Rio na semana que vem.
Nelson Freire é o artista que abre, no próximo dia 15, no Theatro Municipal, a série Piano Solo, que até dezembro promove recitais de quatro destacados artistas brasileiros do teclado, abertos por jovens talentos.
Foi na quarta-feira da semana passada que aconteceu, em Londres, o anúncio dos vencedores do Gramophone Awards, um dos prêmios de maior prestígio do mercado fonográfico. Freire ganhou a honraria mais cobiçada, a de disco do ano, com seu álbum duplo incluindo o par de concertos de Brahms, ao lado da Orquestra Gewandhaus, de Leipzig, sob a batuta de Riccardo Chailly.
Foi, até agora, a marca do renascimento da carreira internacional do pianista mineiro, que completa 63 anos de idade no próximo dia 18. Depois que a Philips o incluiu, em 1998, em "Great Pianists of the 20th Century", uma ambiciosa coleção com pretensões a fazer o sumário das melhores gravações pianísticas do século passado, a demanda por Freire só fez crescer.
No verão europeu deste ano, apresentou-se em 12 países distintos, incluindo concertos com orquestra em Amsterdã, Varsóvia e no Festival de Salzburgo, bem como um recital em Londres. A correria de compromissos foi tanta que, por estafa, ele acabou tendo de cancelar um recital em Viena.
Para o mesmo período do ano que vem (junho, julho e agosto), ele pretende tirar um período que chama de "minissabático". "Preciso viver um pouco", brinca o músico.
No entanto, antes disso, Freire tem uma turnê pelos EUA com a Filarmônica de São Petersburgo e aparições em lugares distantes como Seul.
O programa do recital na série Piano Solo traz itens que ele gravou, como a "Sonata Opus 110" de Beethoven e a terceira sonata de Chopin; e uma peça que o pianista deve incluir em seu próximo disco, "Children's Corner", de Debussy.
Freire deve entrar em estúdio em junho para registrar um álbum completamente dedicado ao compositor francês, incluindo ainda o primeiro volume dos "Prelúdios" e o segundo volume das "Images".
"Não quero ficar estereotipado e pretendo abrir bastante o leque de repertório das minhas gravações", conta o pianista. "Depois de Debussy, adoraria gravar um álbum Mozart."
Série leva jovens para "esquentar" o público
Na Piano Solo, novos talentos abrem a apresentação de artistas consagrados
"É uma responsabilidade grande", diz pianista de 19 anos que tocará antes de Nelson Freire; idealizador usou modelo do circuito pop
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Idealizada por Eduardo Monteiro, titular da cadeira de seu instrumento na USP, a série Piano Solo promove recitais de quatro artistas brasileiros do teclado de destaque. Aberta por Nelson Freire e fechada pelo próprio Monteiro, a iniciativa traz ainda recitais das pianistas Diana Kacso e Cristina Ortiz.
Kacso, radicada nos EUA há mais de três décadas, está retomando a carreira neste ano e toca Liszt e Schumann, enquanto Ortiz, residente em Londres, possui sólida carreira discográfica e apresenta obras de Ravel e Rachmaninov.
Com relação a outras séries de concerto, o diferencial de Piano Solo é que cada apresentação será aberta por uma breve performance de um jovem pianista, aluno de Monteiro.
"O modelo em que eu pensei foi o do circuito pop, em que uma banda mais jovem "esquenta" o público para a atração principal da noite", diz o diretor artístico da série.
"Talentos existem inúmeros, mas a gente vê o tempo todo eles serem desperdiçados", afirma. "Acho muito generoso os pianistas já consagrados consentirem em dividir seu público com os meninos."
Nelson Freire lembra iniciativa semelhante de Martha Argerich. "Ela faz uma coisa parecida: organiza festivais misturando jovens talentos e nomes consagrados, e funciona muito bem", conta ele, tomando como modelo a pianista argentina com a qual se apresenta com regularidade.
Embora não dê aulas constantes, o pianista mineiro recebe e aconselha costumeiramente talentos emergentes. "Não acredito muito em "master class". O contato pessoal e mais íntimo é muito mais construtivo para se comunicar."
Seus recitais em São Paulo serão abertos por Leonardo Hilsdorf, pianista paulistano de 19 anos, dotado de um estilo expansivo e brilhante, com impressionante desenvoltura técnica. Um garoto que gosta de videogames e assiste a concertos na Sala São Paulo calçando chinelos de dedo, Hilsdorf toca duas das "Peças Líricas" do norueguês Edvard Grieg, bem como a exigente "Rapsódia Espanhola", de Liszt.
"Lugares para tocar em São Paulo a gente até encontra, mas a chance de estar no Theatro Municipal não aparece todo dia", diz Hilsdorf. "Foi muito impactante para mim o documentário de João Moreira Salles sobre Nelson Freire, e me apresentar antes dele é, ao mesmo tempo, uma honra e uma grande responsabilidade."
As outras revelações são Cristian Budu, paulistano descendente de romenos que, em novembro, se apresenta na terra de seus antepassados; Érika Ribeiro, que já tocou com a Orquestra Sinfônica Brasileira; e Juliana D'Agostini, de dedos ágeis e visual de top model.
Piano Solo deve continuar no ano que vem, abrindo o leque para pianistas estrangeiros e dando preferência a artistas que não estiveram no Brasil -sempre com apresentações abertas por nomes emergentes do instrumento. (IFP)
HAND TALK
Clique neste componente para ter acesso as configurações do plugin Hand Talk