Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa
Atriz debuta com filme sobre memória
Estrela de dramas como "Minha Vida sem Mim", atriz canadense diz que cineastas como Egoyan e Wenders são suas referências
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Atração da 31ª Mostra de SP, "Longe Dela"é um daqueles típicos filmes que assustam a fatia do público mais teen, interessada em se ver retratada nas telas. Seu tema não é nada fácil: o mal de Alzheimer. Os protagonistas não exibem jovens corpos malhados: são atores veteranos, entre seus 60 e 70 anos. "É filme de velho", diriam. É de espantar, portanto, que por trás da câmera esteja uma mulher com quase quatro décadas a menos de idade.
A atriz canadense Sarah Polley, 28, faz sua bela estréia na direção de longas com este drama que capta com riqueza de detalhes aspectos sutis da velhice. Na seleção proposta pela Mostra de SP, que acontece entre o dia 19 deste mês e 1º/11, Polley está ao lado de outros atores, como Jane Birkin, Ben Affleck e Gael García Bernal, que resolveram pular para a direção.
Mas o que faz um ator querer mudar de posição?
"Atuar é se doar completamente para a visão de uma outra pessoa -seu corpo e coração se dedicam a ajudar alguém em quem você acredita a criar algo que apenas ele pode realmente ver", diz Polley à Folha. "Dirigir é o oposto -um divertido acúmulo de responsabilidades- e é uma emocionante colaboração que requer toda a sua experiência."
Assim como outros atores que toparam o desafio de mudar de lado, Polley também já ficou sob a tutela de grandes cineastas. "Trabalhar com Atom Egoyan [em filmes como "O Doce Amanhã" e "Exotica"] foi a experiência que mais me influenciou. Por causa dele, eu descobri a alegria de fazer filmes. Ele tem sido um constante mentor para mim."
No entanto, ela cita outro diretor como influência. "Quis ser diretora quando eu tinha 20 anos. Vi "Além da Linha Vermelha" (1998), de Terrence Malick, e percebi o poder que o filme tinha para afetar as pessoas de formas inesperadas."
Veteranos
Com pouca idade e experiência -ela já dirigiu curtas- comparado ao seu elenco, Polley não se sentiu intimidada ao filmar "Longe Dela", longa baseado no conto "The Bear Came Over the Mountain", de Alice Munro. Julie Christie, 66, e Gordon Pinsent, 77, fazem o casal apaixonado que está junto há mais de 40 anos, mas que precisa se separar quando a primeira começa a sentir o mal de Alzheimer avançar. Por iniciativa própria, ela pede para ser enviada a uma casa de repouso. Lá, aos poucos, irá se esquecer de seu marido e encontrar um novo namorado.
"Foi difícil convencer Julie a fazer o filme, porque ela não gosta muito de atuar!", conta Polley. "Ela é ao mesmo tempo sábia, jovem e misteriosa. Ela também me ajudou e me deu confiança como cineasta."
"Longe Dela", no entanto, tem uma leveza, um humor sutil que o impede de cair na trincheira dos filmes de desgraças alheias. Como Polley fez para entrar em contato com tais questões? "Tive várias experiências com a minha avó, que não tinha Alzheimer, mas teve uma forma de demência. Passei muito tempo com ela na casa de repouso, e as coisas que testemunhei lá me fizeram querer fazer este filme. Queria que o filme falasse sobre a memória em um sentido maior."
Assim como os outros filmes da Mostra, "Longe Demais" ainda não tem data de exibição definida. A programação estará no site www.mostra.org, a partir do dia 15 deste mês.
Festival de SP traz 11 longas de intérpretes
DA REPORTAGEM LOCAL
Ainda que a quantidade de filmes dirigidos por atores seja grande (ao menos 11) na Mostra de SP, são poucos os que já têm status de grandes cineastas.
Há aqueles que estão estreando na direção de longas e se mostram promissores. "Longe Dela", de Sarah Polley, por exemplo, está longe de ser um filme memorável, mas já mostra uma artista preocupada com determinados temas, em especial a memória. Os filmes em que atuou para Isabel Coixet -"Minha Vida sem Mim" e "A Vida Secreta das Palavras"- já mostravam esse interesse.
Pular para trás das câmeras parece ser uma forma de ganhar respeitabilidade no meio artístico. Esse é o caso de Ben Affleck, ator limitado que acabou se tornando um dos grandes canastrões do cinema americano. Estreando com "Medo da Verdade", ele leva às telas livro de Dennis Lehane, também autor da obra que inspirou o celebrado "Sobre Meninos e Lobos", de Clint Eastwood. Já Sean Penn, celebradíssimo como ator, ainda corre para alcançar reconhecimento à altura, em "Into the Wild".
Há aqueles que surpreendem. O brasileiro Carlos Alberto Riccelli, por exemplo, teve seu "O Signo da Cidade" apontado como uma das boas atrações do Festival do Rio. Antonio Banderas, ator que já faturou bastante em Hollywood, ganhou um prêmio -o Label Europa Cinemas- no último Festival de Berlim por seu "O Caminho dos Ingleses".
Há ainda aqueles que não conseguem se esconder das lentes. A veterana Jane Birkin, por exemplo, estréia na direção de longas aos 60 anos, em "Caixas", e acumula para si o papel de protagonista. Mesmo caso de "Entrevista", em que Steve Buscemi dirige e atua, e "Déficit", de Gael García Bernal.
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