Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

PF prende estudante e mais 3 por furtos de obras raras

Fonte: Folha de S. Paulo

Segundo a acusação, o grupo atuava em acervos de instituições em todo o país

A polícia acompanhou os passos da quadrilha e evitou uma ação prevista para ontem na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio

MÁRCIA BRASIL
DA SUCURSAL DO RIO

A Polícia Federal prendeu o acusado de liderar uma das principais quadrilhas do país especializadas em furtar peças e obras raras em museus e bibliotecas e evitou uma ação do grupo prevista para ontem, na Fundação Casa de Rui Barbosa, em Botafogo, zona sul do Rio.
O estudante de biblioteconomia Laéssio Rodrigues Oliveira, 34, foi apontado como articulador da quadrilha e indiciado sob acusação de outros furtos de obras raras. Além dele, foram presas mais três pessoas.
A polícia acompanhou e filmou o grupo na quinta, antes de prendê-los. Os agentes recuperaram cerca de 200 peças. A perícia dirá o valor do material.
Em 2004, Oliveira foi preso pela Polícia Civil de São Paulo. Em seu apartamento, havia 28 livros raros. Segundo a polícia, 13 foram furtados do Museu Nacional, no Rio, e dois eram da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, onde foi estagiário.
Segundo a PF, as peças podem ser da Fundação Biblioteca Nacional, do Arquivo Geral da Cidade, do Museu Nacional e da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio; da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo; e do Instituto Geográfico e Histórico, na Bahia.
Oliveira e os outros integrantes da suposta quadrilha, Marcos Perreira Machado, Edina Raquel de Souza Cordeiro e Iwaloo Cristina Santana Sakamoto, chegaram ao Rio na manhã de quinta, segundo a PF. Oliveira foi preso no centro.
Machado, Cordeiro e Sakamoto foram presos num hotel, com as peças raras, após irem à Fundação Casa de Rui Barbosa, em Botafogo. Segundo a polícia, o objetivo eram mais furtos.
O grupo foi encaminhado ao sistema prisional do Estado e já está em carceragens da Polinter. As obras seriam negociadas com brasileiros e estrangeiros. Até a conclusão desta edição, a Folha não conseguiu ouvir os acusados nem seus advogados.
O mau estado do material achado indica que era uma espécie de "lixão", segundo a diretora do Arquivo Geral da Cidade do Rio, Beatriz Kushnir. "Muitas coisas já deviam estar havia bastante tempo com o Laéssio, porque estão em decomposição e com marcas de fungos", disse.

Peças resgatadas são "lixão", diz especialista

DA SUCURSAL DO RIO

O mau estado do material encontrado pela Polícia Federal indica que ele era uma espécie de "lixão". A expressão foi usada pela diretora do Arquivo Geral da Cidade do Rio, Beatriz Kushnir, não para diminuir a importância do achado, mas para ressaltar que já não está mais com a quadrilha de Laéssio Rodrigues de Oliveira o que de melhor foi furtado.
Kushnir foi chamada pelo delegado Alexandre Saraiva às 20h30 de quinta-feira para conferir o material. "Muitas coisas já deviam estar havia bastante tempo com o Laéssio, porque estão em decomposição e com marcas de fungos", contou a historiadora.
As gravuras de Debret e Rugendas, aparentemente as peças mais valiosas do lote, têm fungos e cortes, o que pode explicar não terem sido repassadas. Esses furtos são encomendados por colecionadores e não ficam por muito tempo com os ladrões. Podem parar também nas mãos de leiloeiros, como no caso de dez livros e três gravuras da Biblioteca Mário de Andrade, de São Paulo, que haviam sido leiloados pela Babel Livros, no Rio, e foram recuperados no ano passado.
"O importante é que o delegado Saraiva intensificou a campanha, como tinha prometido, e o Laéssio foi preso. Acho que será possível mapear agora para onde foram as obras e quem são os colecionadores que fazem as encomendas", disse Kushnir.
Ela começará na segunda-feira a identificar o que pertence ao arquivo que dirige. Em junho de 2006, no feriado de Corpus Christi, ladrões retiraram do prédio cerca de 2.000 fotografias, além de cartões-postais, gravuras, revistas, livros raros e mapas. Não foi arrombada uma porta sequer. E nada foi recuperado até hoje.
Na Biblioteca Nacional, também sem arrombamentos, sumiram 949 peças, incluindo 751 fotos, perda avaliada em R$ 7,5 milhões. Uma pequena parte foi recuperada. O Museu Nacional recuperou mais de 200 gravuras arrancadas de seus livros. As perdas foram descobertas em 2004 e a PF chegou a Laéssio como um dos ladrões.
A pedido da PF e sem valor de perícia, Kushnir avaliou que os jornais antigos de São Paulo encontrados podem ser do acervo da Biblioteca Mário de Andrade e revistas de teatro, do Museu do Teatro, do Rio. E há exemplares da "Revista da Semana" com o carimbo da Biblioteca Nacional. Procurados pela Folha, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional e o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia disseram aguardar um contato da PF para se manifestar. Um representante da Mário de Andrade virá ao Rio na segunda ver o material.