Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Uma capela com arte

Fonte: Jornal da Tarde
Igrejinha no Alto do Ipiranga guarda um tesouro

Gilberto Amendola, gilberto.amendola@grupoestado.com.br

As reviravoltas políticas do País trataram de esconder, dos próprios paulistanos, um verdadeiro tesouro. Poucos devem saber que, dentro de uma escola dominicana de teologia, localizada no Alto do Ipiranga, Zona Sul, encontra-se uma pequena capela chamada Cristo Operário - e que nessa capela estão guardadas obras de arte relevantes, inclusive três murais assinados pelo pintor Alfredo Volpi.

Além um Cristo geométrico e operário, Volpi contemplou as paredes da capela com a Sagrada Família e um Santo Antônio pregando para um cardume de peixes. Os vitrais laterais também foram pintados por ele. São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João estão representados ali.

Assim como Volpi, outros artistas deixaram suas marcas por lá. A pia batismal e os castiçais do altar são, por exemplo, de Elizabeth Nobiling. As esculturas de São João Batista e Nossa Senhora são obras de Moussia Pinto Alves. Enquanto alguns murais foram pintados por Yolanda Mohalyi.

Com um acervo tão rico, por que a Capela do Cristo Operário continua um mistério para a maioria dos paulistanos? Só a história dos padres dominicanos e de uma certa fábrica de móveis pode explicar tamanho desconhecimento.

Em 1947, o padre dominicano João Batista voltou ao Brasil depois de uma temporada como operário na França. Nesse período, ele também foi militante de um movimento chamado Economia e Humanismo, fundado pelo padre Louis-Joseph Lebret, durante a 2ª Guerra Mundial. Sua cabeça estava repleta de conceitos como cogestão empresarial e participação dos lucros.

Não demorou para que ele decidisse implantar aqui uma empresa aos moldes de sua crença. Em 1954, na Rua São Daniel, 119, nascia a fábrica de móveis Unilabor. A empresa cresceu em torno de uma comunidade carente e seguiu à risca o preceito de que os frutos do trabalho coletivo deveriam pertencer a todos os operários envolvidos e suas famílias.

A empresa deu certo. Uma loja da marca foi inaugurada na Rua Augusta - que na época era um dos lugares mais chiques de São Paulo. Os móveis da Unilabor eram reconhecidamente modernos e avançados para época.

É claro que a empreitada tinha um viés religioso. No mesmo local da fábrica foi construída uma capela, batizada de Cristo Operário (por motivos óbvios). Ali, era o local de reunião e meditação dos funcionários da Unilabor. É claro que, como tudo na Unilabor, a capela também servia de palco para reflexões políticas e sociais.

Artistas importantes da década de 50, como Alfredo Volpi, sensibilizaram-se com o projeto social da Unilabor e colaboraram com a decoração da capela. Foi criado assim um espaço onde os operários poderiam vivenciar suas experiências religiosas e artísticas. “O Volpi e outros artistas nunca ganharam nada por esses trabalhos. Tudo foi feito por prazer e devoção”, disse frei Osvaldo Rezende.

Obras de arte quase foram perdidas

Depois de restaurada, capela recebe visitantes aos sábados e domingos, só pela manhã

A fábrica de móveis Unilabor foi um sucesso. Pelo menos até o malfadado ano de 1964. Depois do golpe militar, a vida dos dominicanos e daquela empresa de inspiração socialista tornou-se inviável. Os militares não viam com bons olhos esse tipo de gestão participativa e popular. Indiretamente, trabalharam para que o negócio quebrasse. Uma série de taxas, tarifas e impostos surgiu de repente no horizonte da Unilabor. Em 1967, a empresa não resistiu. Era o fim de um sonho. “Os dominicanos eram vistos com desconfiança. “Nossa atuação política era oposta ao regime”, disse frei Osvaldo.

Quase tudo foi destruído. A única construção que resistiu foi a capela do Cristo Operário. Ainda assim, a falta de cuidado e a ação do tempo foram implacáveis.

Até o ano passado, os murais de Volpi e as obras de outros artistas estavam irreconhecíveis. Não fosse a chegada da Escola Dominicana de Teologia, todo o acervo estaria irremediavelmente perdido.

Felizmente, os dominicanos conseguiram recuperar o espaço. Um minucioso trabalho de restauro foi realizado no local. Até o início de junho, a Capela do Cristo Operário estará aberta aos interessados em religião, história ou arte.

Por ora, a capela está recebendo visitantes apenas aos sábados e domingos de manhã, por volta das 10h. O endereço é Rua São Daniel, 119, dentro da Escola Dominicana de Teologia. Vale a pena.

ALFREDO VOLPI

Mural Cristo Operário
Mural Sagrada Família
Mural Santo Antônio
Vitral São Mateus
Vitral São Marcos
Vitral São Lucas
Vitral São João

GERALDO DE BARROS

Vitral da Sacristia
Armários da Sacristia

YOLANDA MOHALYI

Mural Anunciação de Nossa Senhora
Mural Pomba da Paz
Mural Árvore da Vida

MOUSSIA PINTO ALVES

Escultura São João Batista
Escultura Nossa Senhora

ROBERT TATIN

Pia de Água Benta

ELIZABETH NOBILING

Pia Batismal
Castiçais do Altar
Luminárias

GIODOMENICO DE MARCHIS

Objetos para culto