Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Vila Itororó: famílias vão ter de sair

Fonte: Jornal da Tarde
Governo desapropriou área. Associação é contra

GABRIELA GASPARIN, gabriela.gasparin@gurpoestado.com.br

A contragosto, as quase 80 famílias que vivem na Vila Itororó, no Bexiga, região central de São Paulo, terão de deixar suas casas. O secretário de Estado da Habitação e presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), Lair Krhenbühl, assinou ontem a escritura de aquisição de um prédio, no mesmo bairro, no valor de R$ 1,07 milhão, que será o novo endereço dos moradores da vila. Depois de desocupada, a área será restaurada pelas secretarias Estadual e Municipal de Cultura, que transformarão o local e em um novo centro cultural para a cidade.

No entanto, os moradores afirmam que não deixarão a vila, hoje em situação precária. Cerca de 250 pessoas vivem nas 37 casas e um casarão que compõem o conjunto. 'Eles terão de reencarnar, porque nessa encarnação não vão conseguir tirar a gente daqui', afirmou a presidente da Associação de Moradores e Amigos da Vila Itororó, Antonia Souza Cândido, 45 anos, moradora do local há 27 anos.

Há um ano e meio, a CDHU procura os moradores para negociar a saída, desde que o então prefeito José Serra assinou um decreto que tornou a área de utilidade pública.Propostas como cartas de crédito e imóveis em áreas afastadas foram oferecidos em troca das casas da vila.

Mas os moradores só aceitam deixar o local em troca de um imóvel de qualidade compatível e próximo ao Centro. 'Este lugar (Vila Itororó) ainda não caiu porque estamos cuidando dele', afirmou a auxiliar de enfermagem Irene Lima, 45 anos, moradora da vila há 11. O pai dela, Dojival Calichio, 68 anos, chegou a colocar paralelepípedos, limpar o terreno e pintar a escada da parte central da área. Antonia quer que o governo negocie com os moradores uma maneira de restaurar as casas, tombadas nos anos 90, sem tirá-los de lá. 'O País tem um déficit habitacional gritante. Deixar pessoas sem casa para fazer um projeto cultural é utopia', disse.

O governo, no entanto, garante que não voltará atrás. O próximo passo, após a compra do prédio, é entrevistar os moradores sobre a demanda de reformas no edifício para abrigar as famílias. Após essa etapa, uma licitação para as obras deve ser feita, de acordo com a CDHU. Não há prazos para a finalização.