Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa
SP pode 'tombar' trovas do Largo de S. Francisco
Fabiane Leite
“Onde é que mora a amizade, onde é que mora a alegria? No Largo de São Francisco, na Velha Academia.” Não se sabe quando exatamente os alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo de São Francisco, no centro, começaram a fazer e cantar trovas como essa. E nem há certeza sobre a autoria dos versos que desde o século 19 falam da faculdade, de professores, de amor e de política. Mas não há quem já não tenha pelo menos ouvido os cantos nos corredores e festas da escola das arcadas - referência às estruturas do prédio da faculdade, que completa 180 anos em agosto.
As trovas estão na fila de registro de patrimônio imaterial da capital, cujo programa de proteção e conservação foi instituído pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM) em 21 de maio deste ano, com base em projeto do vereador Chico Macena (PT). O registro corresponde ao tombamento aplicado a casas e edifícios históricos, mas só vale para bens impalpáveis, como uma festividade.
Outra tradição paulistana que está à espera de se tornar patrimônio imaterial ocorre perto da Igreja de São Genaro, na Mooca, zona leste. Lá, os cantos são outros: música italiana que acompanha as pizzas napolitanas e pratos de macarrão servidos há 33 anos na Festa de São Genaro, padroeiro de Nápoles, na Itália, e do bairro. O evento, comemorado em setembro, reúne mais de 100 mil pessoas durante 13 dias.
Os dois pedidos de registro são de 2006, anteriores à lei que instituiu o programa, e já tramitam no Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) - o mais adiantado é o da Festa de São Genaro. A decisão final caberá ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp). Segundo Walter Pires, diretor do DPH, com o programa a Prefeitura pretende criar uma estrutura para avaliação do patrimônio imaterial, com historiadores e antropólogos, o que vai acelerar as análises.
Os primeiros estudos sobre patrimônio imaterial começaram com Mário de Andrade, que chefiou o Departamento de Cultura da capital e promoveu missões de pesquisas folclóricas, coletando objetos, músicas e outras expressões da cultura nacional. Um decreto do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso ampara esse tipo de registro no País desde 2000 - há 11 bens imateriais registrados, nenhum da capital.
O professor de Direito Processual Civil da Faculdade do Largo de São Francisco, Carlos Alberto de Salles, foi quem encaminhou o pedido sobre as trovas. Desde pequeno ouvia as canções de quatro versos e mesmo ritmo. O pai e o avô de Salles se formaram na faculdade, assim como ele. “Achei que fosse interessante esse tipo de tombamento como registro de uma época”, afirmou Salles.
Na Mooca, o pároco da igreja de São Genaro, Pascoale Priolo, torce ao lado de uma das mais antigas colaboradoras da festa, Capitulina Tonet, de 71, responsável pelos ingredientes das iguarias italianas. O pedido de registro de patrimônio imaterial foi feito pelo vereador e conselheiro do Conpresp Juscelino Gadelha (PSDB), que viveu no bairro. “O registro valorizaria muito nosso trabalho”, disse Capitulina. Toda a renda do evento é destinada a uma creche para 50 crianças mantida pela igreja.
QUADRINHAS
Exemplos de trovas famosas entre os alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco que podem se tornar patrimônio imaterial
Famosos
Se o elefante voasse,
Seria o rei dos insetos
Mas como o elefante não voa
Não é o rei dos insetos
Atribuída ao ex-presidente da República Jânio Quadros (1917-1992)
Provocação
Que faculdade é essa
“Mal” e sem compostura
Em vez de ensinar Direito
Ensina corte e costura
“Dedicada” aos estudantes da faculdade rival Mackenzie
Pindura
Garçom, tira a conta da mesa,
Põe um sorriso no rosto
Seria muita avareza
Cobrar do XI de Agosto
“Aplicada” pelos integrantes do Centro Acadêmico para
pendurar a conta no restaurante no 11 de agosto, o célebre Dia do Pindura
Divertida
O homem é mesmo o diabo
Não há mulher que o negue
Mas todas elas procuram
Um diabo que as carregue
COLABOROU SÉRGIO DURAN
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