Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

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Segunda-feira, 4 de Abril de 2022 | Horário: 12:57
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SMC Em Foco: Giba, o Bom Velhinho da SMC

Na primeira edição do boletim interno da SMC, conheça o nosso colega Gilberto De Nichile

 

Aos 84 anos, o jornalista Gilberto De Nichile, tomando café com leite e comendo um pão na chapa em um boteco da Líbero Badaró, revela o segredo para continuar na ativa e com bom humor depois de, em suas próprias e irreverentes palavras, “já ter passado do prazo de validade”. A receita é simples e inusitada: “sexo e arroz integral”, afirma, categórico, divertindo-se com a constatação.

Giba, para os mais íntimos, já dedicou metade de sua vida à Secretaria Municipal de Cultura (SMC), trabalhando na pasta há mais de quarenta anos, e não tem intenção de parar. “Cada dia para mim é interessante”, revela. “O que mais gosto daqui são os personagens com os quais vamos convivendo - são todos pessoas interessantes, artistas, que fogem do padrão”.

O próprio Gilberto também já tentou ser artista: ao mesmo tempo em que cursou jornalismo, fez faculdade de artes cênicas, tendo se apresentado em diversas peças dirigidas por Alfredo Mesquita, criador e diretor da Escola de Arte Dramática. Entre as apresentações, está inclusive uma montagem de Macbeth, apresentada no Teatro Francisco Nunes, em Belo Horizonte, em 1962. Durante essa época, também chegou a apresentar as suas “peças da escola”, como afirma modestamente, no Theatro Municipal, e foi protagonista de Tio Vânia, de Tchekov. Gilberto, entretanto, desistiu de ser ator para se dedicar inteiramente ao jornalismo e para ter mais tempo para namorar. Em 1963, chegou a ser escalado para a peça Sorocaba, Senhor, com direção de Antônio Abujamra, na qual atuaria ao lado de Sérgio Mamberti. Entretanto, ficou doente, talvez de nervoso, pouco antes da estreia, e desistiu de vez dos palcos.

Gilberto viu o Centro Cultural São Paulo (CCSP), um dos maiores símbolos culturais da cidade, ser erguido do zero, e trabalhou com todos os secretários e secretárias de cultura homenageados na Galeria do 8º andar do Edifício Sampaio Moreira, desde o primeiro da lista, Sábato Magaldi. Chegou na Prefeitura na gestão do prefeito Olavo Setúbal, em 1976, para trabalhar na assessoria de imprensa de seu gabinete. Naquela época, era recém-casado, e não tinha ainda os seus dois filhos. A ideia era ficar na Prefeitura por apenas seis meses.

O “seu Giba” é um homem de muitas facetas. Gosta de jogar tênis, bilhar e participa de caminhadas e de torneios de boliche. Também arrisca passos de samba, forró, bolero e até tango, em jantares dançantes com a sua esposa. Vira e mexe ele dá entrevistas e tem sua cara estampada nos jornais - em 2021, saiu na capa do jornal Agora, e, em 2022, na Folha de S. Paulo - por cuidar do relógio de sua família: o Relógio De Nichile, na Praça Antônio Prado, em frente ao Farol Santander. O relógio monumento é tombado pelo CONPRESP, da SMC, e fica no coração do centro histórico, local que Giba considera o mais bonito da cidade.

Recém-curado de um câncer, seu Giba revela pensar na vida um dia de cada vez. “Vou continuar fazendo as mesmas coisas. Não deixei de fazer nada do que fazia há anos atrás”, afirma. “Enquanto tiver forças para isso, vou tocando. Quando não der mais, babau!”. Giba só não tem ânimo mais para viajar novamente para o exterior, em especial por conta da alta do dólar. Também, ele já conheceu diversos lugares do mundo, principalmente na Europa, para onde se mandou, em sua mocidade, com 500 dólares no bolso, largando de impulso tudo para o alto - inclusive o emprego de jornalista no Jornal do Brasil, desgostoso que estava com a morte de sua namorada, também jornalista, em um acidente de carro. Foi nessa época, no velho continente, que Gilberto fingiu ser jardineiro para ganhar uns trocados, arrumou uma namorada espanhola, engraçou-se com a patroa dela, que praticamente o adotou e o levou a conhecer lugares turísticos maravilhosos da França, Inglaterra, Portugal, Itália, Suíça e Espanha.




Foi graças a sua falecida namorada, que o Giba assumiu sua segunda profissão, a de psicólogo. Quando estavam juntos, ela, uma vez, preocupada com o jeito com que ele levava a vida, ordenou: “Giba, vai fazer terapia!”. Desde então, o Gilberto passou por mais de dez psicólogos, mas como contestava a orientação de cada um, resolveu pesquisar diretamente na fonte: formou-se também em Psicologia e atende pacientes até hoje. O jornalista, que acredita se encaixar na definição de “introvertido melancólico” de Hipócrates, mistura no atendimento aos seus pacientes as correntes freudiana, psicologia cognitiva e o psicodrama.

Gilberto também é escritor, tendo publicado os livros O Sorriso de Gioconda (Independente) e 10 Contos de Natal (Editora Scortecci). Todo mês, ele tem como exercício escrever uma pequena história para a oficina de contos que participa no Clube Pinheiros, sempre animando os colegas, algumas vezes os chocando. A criatividade para as histórias, inusitadas e por vezes politicamente incorretas, vem da observação das pessoas. Giba se considera uma coruja, calado e de olhos bem abertos, buscando no cotidiano as inspirações para as suas narrativas.

Sempre simpático, seu Giba traz bolo toda a semana para a sua equipe, variando o sabor. Até quando não pode vir, ele deixa um encomendado para os colegas. Gilberto sempre cumprimenta a todos, mas não estranhe se ele saudar o autor deste texto mostrando o dedo do meio: a piada interna é por conta de um dos contos do mais recente livro de Gilberto, no qual o Papai Noel se enfeza e manda todos às favas. Giba diz se identificar com o personagem: “Com toda certeza, sou contra toda essa baboseira de Natal”, afirma o autor de contos natalinos. “O Papai Noel daquele livro é o anti-Papai Noel”, completa. Gilberto, de certa forma, pode ser identificado com o personagem em questão: ele é, afinal, o bom velhinho da SMC.

Por Gabriel Fabri

 

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