Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa
SMC Em Foco: William não morreu!
Naquela mesa tá faltando ele
e a saudade dele tá doendo em mim
(Sérgio Bittencourt)
No dia 19 de março de 2021, depois de passar alguns dias entubado no Hospital de Brasilândia, William Silva de Moraes, não resistiu mais e partiu. Era mais uma das centenas de vidas que a Covid-19 ceifava diariamente naquela fase crítica da doença. Partiu sozinho, sem direito a choros, velas e coroas, enterrado às pressas num caixão simples. Tinha 32 anos de idade.
Perplexos e consternados, seus colegas do VAI – Programa de Valorização de Iniciativas da Secretaria Municipal de Cultura, onde ele era coordenador, só souberam do falecimento do Will, como era conhecido, dias depois e, além do vazio que se instalava no local, o que mais sentiam era não terem podido se despedir dele com o carinho e dignidade que ele merecia.
Agora, um ano depois que ele se foi, para compensar esse sentimento de perda, os funcionários da casa resolveram prestar uma homenagem ao companheiro. Reunidos em volta de seu retrato, com lágrimas saudosas e sorrisos dos bons momentos que passaram juntos, relembram fatos marcantes da carreira de William na Prefeitura.
O Will está vivo
Para a advogada Juliana da Conceição, que trabalha na Assessoria Jurídica da SMC e tinha sua mesa ao lado da do homenageado, William continua vivo.
- Vocês podem não acreditar, mas cada vez que eu entro na sala e olho para a mesa onde ele ficava, sinto a presença do Will, com o seu sorriso cativante, sua fala mansa, seu cabelo afro, suas calças de cores vivas e suas camisetas com mensagens otimistas. E se me sinto estressada, como às vezes acontece, lembro de seus conselhos de paz: “Calma, querida”, “uma coisa de cada vez”, “a pressa é inimiga da perfeição”. E, para matar a saudade, abro o meu celular e leio a mensagem que ele deixou nele: “As pessoas que nós gostamos, deixamos voar!”
Deixar voar
- Deixar as pessoas voar, essa era a preocupação primeira de William na realização de suas tarefas, ratifica Renato Adriano Rosa, hoje ligado ao Museu Afro Brasil, mas que, durante alguns anos, o teve como companheiro de programação cultural do Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes.
Renato informa que o William nasceu e foi criado na comunidade periférica da Cidade Tiradentes. Desse modo, sentia por experiência própria os anseios e necessidades daquela população carente. – Para o Will, a criação do Centro Cultural era uma oportunidade de trazer aquela gente toda para o mundo dos livros, da música, do teatro, do circo e das artes em geral. Por isso dentro de nossa programação de ocupação daquele espaço, sempre procuramos prestigiar os grupos locais instigando o potencial de seus artistas. Como ele dizia: “Todos nascemos com asas, mas sem contato com as oportunidades, a maioria permanecerá no chão”.
A pessoa certa
Neide Almeida, também funcionária do VAI, lembra que foi graças a ela que o William ingressou na área cultural: - No início da formação do Centro Cultural Cidade Tiradentes eu era a encarregada de fazer as entrevistas aos postulantes ao cargo de programador cultural. Havia uns vinte candidatos, mas ao entrevistar o Will me apaixonei imediatamente por ele e cheguei à conclusão que, embora viesse da área da Saúde, era a pessoa certa para o lugar certo. Um ponto para mim!
Dar voz às minorias
A mesma filosofia de ocupação dos espaços culturais do Centro Cidade Tiradentes William trouxe para o VAI quando assumiu o cargo de Coordenador na Supervisão de Pluralidade Cultural, lembra Gisele Lopes de Oliveira, técnica de acompanhamento de programas, que interagiu profissionalmente com ele desde o tempo do Centro Cultural Tiradentes.
- Seu objetivo era dar voz aos coletivos culturais negros e as outras minorias excluídas e, pouco a pouco ele ia conseguindo isso, algo que, mesmo depois de sua partida, tentamos dar continuidade.
Mais do que um colega de trabalho, Will era para Gisele um amigo e um confidente. – Quando o conheci passava por um período de gravidez problemática. Pois ele me amparou durante todo o processo de gestação e até me ajudou a escolher o nome do meu filho: Airo, que quer dizer felicidade em Iorubá.
Sobrecarregado
Companheira de mesa de William no VAI, Juliana Benvenutti, Coordenadora de Fomento à Centros da Periferia, acompanhava de perto a rotina do colega: - No seu amor pelo que fazia e no interesse sempre voltado ao outro, ele se sobrecarregava: sempre estendia a hora do expediente e ainda fazia faculdade a noite, cursando o último ano de História da Arte na Unifesp.
Primeiro o outro
Foi essa preocupação excessiva com o outro que acabou levando-o, acredita Thais Reis, também assessora do VAI. – Ele queria resolver os problemas de todo o mundo. Foi o que aconteceu quando soube que a mãe havia contraído a Covid-19. No desespero de encontrar uma vaga para interná-la, entrou em contato com muita gente contaminada e acabou pegando a doença também. E o mais triste é que seu esforço foi em vão, com poucas semanas de diferença, lá se foram mãe e filho. Muito triste!
A você, William
Encerrando o encontro, Thais faz uma constatação: Nos reunimos hoje para fazer a despedida da qual o Will era merecedor, mas não a teve. Mas, como verificamos, não há necessidade dizer adeus já que todos ainda o sentimos vivo nesta sala. Por isso, proponho que nos juntemos ao lado de seu retrato e, erguendo nossas taças imaginárias, façamos um brinde ao querido colega:
- Um Viva a você, Will, que sempre estará conosco!
- Vivaaaa!!!
Por Gilberto De Nichile
Fotógrafa: Jeniffer Estevam
Produção: Ivani Yara dos Santos
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