Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Segunda-feira, 8 de Fevereiro de 2010 | Horário: 12:05
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Automóveis são atores do teatro do ERRO Grupo

O grupo estréia AUTODRAMA, intervenção urbana que se constrói através da ação de quatro carros em pleno trânsito da cidade
O ERRO Grupo, coletivo sediado e fundado em Florianópolis desde 2001, estreou em Porto Alegre (RS) a intervenção urbana AUTODRAMA participando do Fórum Social Mundial 10 anos.

No próximo dia 10 de fevereiro, ao meio-dia, o coletivo traz sua performance para a Praça Dom José Gaspar, na região central.

AUTODRAMA, contemplada pelo Prêmio FUNARTE Artes Cênicas na Rua - 2009, promovido pela Fundação Nacional de Artes, circulará por diversos percursos urbanos de 13 cidades de duas regiões brasileiras (Sul e Sudeste), abrangendo os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, respectivamente nos municípios de Florianópolis, São José, Biguaçu, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, Itapema, Antônio Carlos, Canoas, Porto Alegre, Curitiba, São José dos Pinhais, Campinas e São Paulo.
 

AUTODRAMA

 
AUTODRAMA consiste em uma interferência urbana construída através da utilização de quatro carros de som que propagam textos dramáticos dialogando entre si e atuando em movimento por um local específico da cidade, assim como por suas ruas próximas. A dramaturgia da peça foi realizada a partir de releituras e cruzamentos de quatro peças teatrais, Macbeth de Shakespeare, Mateus e Mateusa de Qorpo Santo, Ascensão e queda da cidade de Mahagonny de Brecht, e Fuenteovejuna de Lope de Veja, entrelaçados a textos de leis burocráticas, filosóficos e de auto-ajuda.

Durante a ação, AUTODRAMA ocorre em uma rótula, largo ou praça da cidade que comporte um bom fluxo de veículos e pedestres, o cenário e adereços de cena são integrados aos automóveis que, em trânsito, são meios de atuação e de propagação sonora. A praça, rótula ou largo, e ruas próximas, se transformam em palco e estacionamento para os quatro carros atores e integrantes da ação.

O ERRO Grupo com AUTODRAMA busca a reflexão sobre o habitat urbano criando um deslocamento dos mecanismos de marketing e propaganda para fomentar um questionamento político, social, ambiental e cultural. Ao propagar gravações de diálogos dramáticos realizados por atores , através das trilhas sonoras e da movimentação desses carros em avenidas e ruas da cidade, a peça cria caminhos e espaços dramáticos de conflito e de relações entre os carros, as pessoas, os transeuntes, o teatro e a cidade, apropriando-se das possibilidades oferecidas pela performance-art, das extensões do corpo em ações artísticas e subvertendo estratégias contemporâneas de comunicação.

Ao explorar a rua, AUTODRAMA busca questionar, subverter e oferecer novas ferramentas para fins culturais e de propagação de conhecimento na apropriação de meios tecnológicos utilizados pelo marketing. Ao se inserir nos tráfegos urbanos e se diluir nas vias públicas, oferecendo um contato pouco usual com uma obra artística, AUTODRAMA se justifica pela necessidade do ERRO em aproximar arte e vida, de entender a cultura como algo inerente à vida e, portanto, em se apropriar estrategicamente de formas inseridas no cotidiano das pessoas, para re-significar tanto o lugar sacramentado da arte quanto sua interferência nos fluxos urbanos.

AUTODRAMA causa contraste entre a frieza dos automóveis e a potência existencial dos diálogos sonoros que contemplam situações de tráfego e relações humanas. Durante a intervenção, problemáticas existencialistas das estruturas dramatúrgicas elaboradas e propagadas por carros sonoros enfrentam o caos urbano. O diretor teatral Pedro Bennaton, que concebeu AUTODRAMA junto à atriz e dramaturga Luana Raiter, afirma: "É tarefa do ator contemporâneo abusar das extensões midiáticas e subverter os meios de comunicação para inserir-se e agir no cotidiano, pois, sua presença física se torna diferente da caracterização normal de um ato teatral, constrói outras possibilidades como a de motoristas de automóveis que se tornam atores ao criarem no espaço urbano cenas particulares com estruturas dramáticas".

O ERRO Grupo com o objetivo de expor as possíveis extensões do corpo na contemporaneidade propõe com a obra, como ressalta Luana Raiter: "Incorporar, dentro do que entendemos por teatro, ferramentas midiáticas que atuam na ampliação da presença, e, no caso de AUTODRAMA, automóveis como formas manipuladas pelo ator que possibilitam a ação urbana através de outros meios, além dos habituais. Afinal os carros, são objetos que manipulamos e vemos serem manipulados em nosso cotidiano, seus movimentos revelam as personalidades de seus motoristas." Em AUTODRAMA as portas para a comunicação urbana ficam abertas, e é criada uma nova forma de se relacionar com a rua e humanizar o futuro frio de estradas cada vez maiores e carros por todos os lados.
 

ERRO Grupo

 
O ERRO nasceu no ano de 2001 em Florianópolis SC - Brasil, a partir do objetivo de seus integrantes de experimentar a arte como intervenção no cotidiano das pessoas e sua interdisciplinaridade de conceitos e áreas de linguagem. O grupo, através da construção de situações , pesquisa a união das linguagens artísticas, o performer, a invasão do espaço público e a diluição da arte no cotidiano. Nessa prática situacional, o ERRO interfere nos fluxos cotidianos, na paisagem urbana e nos meios de comunicação, procurando outros modos de viver e de inserção na cidade.

Ao longo de sua pesquisa o ERRO Grupo foi contemplado pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, em 2006 e 2007, para a montagem dos espetáculos Desvio (2006), Enfim Um Líder (2007) e Escaparate (2008), pelo Prêmio Interferências Urbanas 2008, do Governo do Estado do Rio de Janeiro, com a obra Segredo: A Arte de Manobrar 2008 e pelo Prêmio Franklin Cascaes de Cultura 2008. Além disso, destaca-se a participação do ERRO Grupo no projeto Palco Giratório 2004 do SESC Nacional, no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (em 2005 e 2007), no Riocenacontemporanea 2007, no projeto EmCena Catarina 2003 do SESC-SC, na programação da galeria La Peña em Austin, Texas, no 6º Encuentro Corpolíticas en las Américas em Buenos Aires, em 2007 e no 7º Encuentro Ciudadanias en Escena em Bogotá, em 2009, ambos encontros organizados pelo Hemispheric Institute of Politics and Performance (New York University).

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