Secretaria Municipal da Saúde
“Superidosos” da capital são assistidos por equipes de Estratégia Saúde da Família

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), pessoa idosa é aquela que possui 60 anos ou mais nos países em desenvolvimento, e 65 anos ou mais em países desenvolvidos. Essa classificação, no entanto, tende a ser revista a partir da constatação, por um lado, de que boa parte das pessoas com 60 anos ainda está no mercado de trabalho, e de que a longevidade da população tem aumentado. Na rede municipal de saúde, por exemplo, pacientes 90+ são uma realidade. E até 100+ e incríveis 110+, como é o caso de Julita, Sebastiana e Elena, assistidas por equipes de atenção básica nas zonas sul e norte da capital.
Aos 114 anos, Elena Marcelina de Jesus é acompanhada pela equipe multidisciplinar da Unidade Básica de Saúde (UBS) Recanto dos Humildes e da Unidade de Referência em Saúde do Idoso (Ursi) Carandiru, na zona norte. A “superidosa”, nascida em 13 de agosto 1910, possivelmente é a moradora mais velha de São Paulo e uma das pessoas mais longevas do mundo. Elena nasceu em Jequié, na Bahia, e veio para São Paulo em 2005, trazida pelo filho Antonio Balbino Santos, adotado por ela juntamente com sua mãe biológica.
Thiago da Mata, assistente social da UBS, explica que, por não sair mais de casa, dona Elena recebe cuidados semanais de prevenção e promoção à saúde e fortalecimento dos vínculos familiares. “Nós integramos a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e há três anos damos suporte a ela, à sua família e à cuidadora”. Ele conta que, apesar de ser domiciliada, a idosa não tem nenhuma doença crônica e faz uso apenas de um remédio fitoterápico para a insônia. Mas, por conta da sua idade, a equipe de Saúde da Família realiza visitas semanais com o suporte de geriatra da Ursi.
Aos 22 anos, ou seja, 92 anos mais jovem que dona Elena, Gabriel dos Santos Rocha é o agente comunitário de saúde (ACS) que representa a UBS nos cuidados com a idosa. “Ela nunca se queixa de doença, só reclama da insônia e da dor nas costas. É uma honra poder estar junto de uma pessoa que vive tanto tempo”, comenta Gabriel, chamado de “anjo” por ela.
Para manter a saúde, dona Elena diz que gosta de comer “de tudo” e não precisa tomar remédio, embora tenha o hábito de mascar folha de boldo. Enquanto trabalhava, dona Elena foi lavadeira, por décadas. “Eu trabalhava demais, lavava roupa, engomava, passava ferro, trabalhava de limpar casa, apanhar verdura, capinar. “Não tinha tempo pra namorar, não. Não tinha tempo para mais nada.”
Mesmo assim, com essa vida pesada, dona Elena diz ter sido feliz. E quando perguntada sobre o que gostaria de fazer nos dias de hoje, a resposta surpreende. “Cuidar de arrumar casa”. E passear? “Não, cachorro que anda muito só toma pancada, bem faz quem está na sua casa em paz”, filosofa, a lavadeira, que durante quase a vida toda também foi benzedeira.
Autonomia
Na zona Sul, no Jardim Ângela, vivem dona Julita Alves dos Santos, de 110 anos, e Sebastiana Xavier de Andrade, que completou 111 anos no último dia 19 de abril. Além da longevidade com cabeça boa e boa saúde, dona Julita e dona Sebastiana têm em comum a vida simples, as famílias numerosas, o bom humor e a doçura.
Dona Julita teve cinco filhos, 14 netos, 14 bisnetos e três tataranetos. E apesar da idade, tem apenas o diagnóstico de hipertensão e faz uso regular da medicação e de vitaminas “que criança toma”. Nunca ficou doente, só operou um mioma, e se queixa de uma fraqueza nas pernas, que “deve ser da idade”. Já dona Sebastiana teve 11 filhos, todos de parto normal, em casa, “uns já morreram”, lamenta, indicando o número quatro com a mão, mas retoma a alegria ao dizer que tem 20 netos, mais de 30 bisnetos e cinco tataranetos.
Apesar de não se conhecerem, Julita e Sebastiana moram há mais de 50 anos a cerca de 500 metros (sinuosos) uma da outra e são usuárias da mesma Unidade Básica de Saúde (UBS), a Jardim Herculano, desde a inauguração do equipamento, em setembro de 1985.
A Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa (Ampi) aplicada pela equipe da UBS mostra dona Julita com “idoso saudável” e Sebastiana como “idoso pré-frágil”. Hoje, devido à idade avançada, embora se mantenham ativas e com um grau invejável de autonomia (dona Sebastiana mora sozinha, inclusive), as duas são atendidas em domicílio de forma quinzenal, seja pela equipe Multi da UBS (que abrange serviço social, psicologia, fisioterapia e nutrição) ou pela equipe de Estratégia Saúde da Família (ESF). Os profissionais cuidam da vacinação, da coleta de exames laboratoriais e consulta de rotina, com o suporte das agentes comunitárias de saúde (ACSs).
Nonagenários e centenários
Segundo a gerente da UBS, Laina Ramos, a unidade atende dezenas de “superidosos”: são 63 pacientes com mais de 90 anos e quatro com mais de 100 anos, entre os quais Julita e Sebastiana, além de 3.500 pessoas com mais de 60 anos. “É uma honra termos uma população significativa de idosos, que recebem atenção das seis equipes de ESF, além da equipe multiprofissional e dos cirurgiões dentistas”, comenta.
O assistente social Fábio Correia de Araújo também considera “um privilégio” dar suporte aos idosos, população com a qual trabalha há 20 anos, três deles na UBS Jardim Herculano. “Também oferecemos fisioterapia e acompanhamento psicológico, com foco na saúde mental”, explica Fábio, para quem idosos como Julita e Sebastiana. “trazem muita inspiração, e nós levamos essa motivação conosco e para os demais”, afirma.
De acordo com o Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade da Coordenação de Epidemiologia e Informação de São Paulo (Pro-Aim/Ceinfo), a longevidade média na região de Perus, onde vive dona Elena, é de 62,1 anos; no Jardim Ângela, onde vivem Julita e Sebastiana, a longevidade média é de 61,5 anos. Ou seja, elas estão com pelo menos 50 anos a mais do que a média da população ao redor.
* A foto de abertura desta matéria mostra dona Sebastiana com a gestora Laina e o assistente social Fábio.
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