Secretaria Municipal da Saúde

Terça-feira, 11 de Março de 2025 | Horário: 10:00
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Câncer colorretal tem incidência associada a hábitos de vida

Março Azul Marinho alerta para fatores de risco como alimentação pouco saudável e sedentarismo

O câncer colorretal é a terceira neoplasia mais frequente no Brasil, depois dos cânceres de mama e de próstata. De acordo com um estudo realizado, entre outras instituições, pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz e pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), nos últimos 30 anos a doença registrou um aumento de 20% na América Latina.

O câncer colorretal engloba os tumores que têm origem na região do intestino grosso conhecida como cólon, no reto, que é a parte final do intestino localizada logo antes do ânus, e também no próprio ânus. Entre os sintomas mais comuns da doença aos quais é importante prestar atenção estão sangue nas fezes, mudanças no hábito intestinal, como diarreia ou prisão de ventre, dor abdominal e ao evacuar, perda de peso, cansaço e fraqueza constantes.

Esta neoplasia possui incidência e desfechos diferentes nos países, de acordo com múltiplos fatores, entre os quais o padrão alimentar da população (quanto maior o consumo de alimentos industrializados e ultraprocessados maior a incidência), além da precocidade do diagnóstico e tratamento.
No Brasil, em 2025, a expectativa é de que sejam registrados 45.630 novos casos de câncer colorretal, sendo 23.660 casos entre mulheres e 21.970 entre homens, segundo as estimativas do Inca, o que corresponde a uma incidência de 21,10 casos por 100 mil habitantes. Na cidade de São Paulo, de acordo com o Boletim CEInfo em Dados, da Coordenação de Epidemiologia e Informação da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), em 2023 morreram 1.386 pessoas em decorrência da doença, sendo 724 mulheres e 662 homens. 

Fatores de risco comportamentais
Para conscientizar a população sobre a importância de manter hábitos de vida saudáveis, consultar o médico periodicamente e ficar atenta a sinais e sintomas do câncer colorretal, em 2020 foi adotada no Brasil a campanha Março Azul Marinho, liderada por entidades médicas como Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed) e Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). 

Entre os principais fatores de risco comportamentais e ambientais para o câncer colorretal estão sedentarismo, sobrepeso, alimentação pobre em fibras e rica em carnes processadas e vermelhas, exposição à radiação, ao tabagismo e ao alcoolismo. 

De acordo com o inquérito Vigitel, Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, do Ministério da Saúde, em 2023 apenas 21,4% dos moradores das capitais brasileiras consumiram a quantidade recomendada de frutas e hortaliças recomendada por dia (5 porções), enquanto 40% dos adultos declararam ser fisicamente ativos no tempo livre.

Prevenção
A detecção precoce do câncer colorretal aumenta consideravelmente as chances de cura. Por isso, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia recomenda que o rastreamento seja feito a partir dos 45 anos, através de exames de sangue oculto nas fezes e colonoscopia.

No que diz respeito aos hábitos de vida, é importante tomar cuidados como: 
●    evitar carnes processadas e salgadas, como presunto, mortadela, bacon, linguiça e salsicha, além de reduzir o consumo de carne vermelha;
●    consumir mais frutas, legumes, verduras e grãos, além de cereais integrais, como arroz, aveia, cevada e trigos;
●    praticar atividade física regularmente;
●    manter o peso adequado;
●    evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas;
●    não fumar e evitar locais onde outras pessoas estejam fumando.

Diagnóstico e tratamento
No município de São Paulo, o diagnóstico de câncer pode ser feito em todos os equipamentos de saúde, começando pelas unidades básicas de saúde (UBS), Hospitais Dia (HD) e hospitais municipais, com encaminhamento para diagnóstico final e tratamento nos centros oncológicos que integram a Rede de Oncologia do Município de São Paulo. Estão sob gestão municipal o Hospital Municipal Dr. Gilson de Cássia Marques de Carvalho, o Hospital A.C. Camargo, o Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), o Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graacc) e o Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci). 

No Hospital Municipal Dr. Gilson de Cássia Marques de Carvalho (Vila Santa Catarina), referência em tratamento oncológico na rede municipal de saúde, todos os meses dão entrada 35 pacientes com câncer colorretal. A faixa etária mais acometida ainda é acima de 50 anos, mas a coordenadora médica da oncologia do hospital, Vanessa Montes, diz que a frequência de pacientes jovens tem aumentado. “Em 2024 eles representaram cerca de 15% dos casos iniciais com este diagnóstico”, pontua a coordenadora, acrescentando que, entre estes pacientes, hábitos alimentares pouco saudáveis, sedentarismo e obesidade costumam ser características comuns.

Atualmente, o hospital, que é administrado pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e abriga o Centro de Alta Tecnologia em Diagnóstico e Intervenção Oncológica Bruno Covas, possui cerca de 1.100 pacientes que tiveram câncer colorretal em fase de acompanhamento. Esta etapa prossegue por cinco anos após o tratamento da doença, que pode envolver cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, dependendo do estágio do câncer. 
A coordenadora de enfermagem em oncologia do hospital, Maria Aparecida Machado, conta que, desde 2016, cerca de 500 pacientes passaram por cirurgia no Centro Oncológico Bruno Covas, dentro de um protocolo para recuperação acelerada que se baseia na atuação de uma equipe multidisciplinar envolvendo médicos, enfermeiros, nutricionistas e fisioterapeutas. “Com isso, conseguimos reduzir em um dia o tempo médio de internação após a cirurgia”, explica a profissional, enfatizando que o trabalho da equipe multidisciplinar também tem um forte caráter de conscientização para a importância de adotar hábitos saudáveis.

Paciente passa por duas cirurgias oncológicas 
O aposentado José Casteluci, 68, foi admitido no ambulatório do Vila Santa Catarina em outubro de 2023, encaminhado com diagnóstico de tumor no cólon (parte do intestino grosso) e metástase no estômago. Em dezembro do mesmo ano, o paciente, cuja mãe e irmã faleceram em decorrência de câncer, realizou uma gastrectomia parcial, cirurgia que remove parte do estômago, indicada para tratar tumores que não comprometem todo o órgão. Depois, em fevereiro de 2024, iniciou o tratamento com quimioterapia.  

Após o tratamento do tumor gástrico, José foi encaminhado ao tratamento do câncer do cólon. Em novembro de 2024, passou por uma retossigmoidectomia robótica, cirurgia de alta tecnologia que remove parte do reto, cólon e partes finais do intestino com auxílio de um robô, seguindo o protocolo de recuperação acelerada nos cuidados pós-operatórios. Após uma peritonite, inflamação da membrana que reveste a cavidade abdominal, realizou uma colostomia para a colocação de uma bolsa coletora. 

Hoje, o paciente diz que tem acompanhamento ambulatorial pelo hospital, inclusive com consultas à nutricionista. “Além do tratamento ao câncer, que considero excelente, com uma equipe de profissionais muito competentes, o suporte no pós-cirúrgico me levou a mudanças de hábitos na alimentação, por exemplo; eu comia muita carne gorda, hoje consumo mais frutas, legumes e verduras”, conta José, que se considera muito otimista com o prognóstico do tratamento.

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