Secretaria Municipal da Saúde

Segunda-feira, 25 de Novembro de 2024 | Horário: 14:00
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Ceccos promovem integração e acesso ao mundo do trabalho

Equipamentos da Rede de Atenção Psicossocial articulam-se com o território para oferecer desde atividades físicas a oficinas e encaminhamento para iniciativas de economia solidária
A imagem mostra uma atividade ao ar livre em um espaço comunitário identificado como Centro de Convivência e Cooperativa - CECCO Previdência, conforme indicado na placa visível na parede do fundo. Essa parede está decorada com murais coloridos de flores e outros desenhos vibrantes.  À direita, uma mulher de cabelo castanho e blusa preta está em pé, aparentemente envolvida em trabalhos manuais, como tricô ou crochê, com fios e materiais sobre uma mesa. À esquerda, um grupo de pessoas está sentado em cadeiras de plástico branco, participando da atividade ou observando. Ao fundo, há uma área arborizada e um ambiente acolhedor com vegetação, reforçando o aspecto comunitário e descontraído do espaço.

A Rede de Atenção Psicossocial (Raps) possui, além dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) um tipo de equipamento voltado especificamente a promover a convivência entre diferentes públicos, incluindo pessoas com transtornos mentais. Há 35 anos, os Centros de Convivência e Cooperativa (Ceccos) são espaços alternativos de acolhimento e cuidado para além dos consultórios e equipamentos convencionais de saúde.   

Vale lembrar que a lei nº 10.216/2001 tornou-se um marco ao definir os direitos em saúde das pessoas com transtornos mentais e deixando claras diretrizes no seu atendimento dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), como o respeito à cidadania e também que estes pacientes devem ser tratados preferencialmente em serviços comunitários de saúde mental, com a internação ocorrendo só em último caso. É dentro deste contexto que ganhou força a implantação Raps e serviços como os Ceccos e Caps.

Localizados preferencialmente dentro de parques públicos, centros esportivos, comunitários e praças em todas as regiões da cidade, os Ceccos estão abertos à população em geral, incluindo as pessoas em situação de rua e outros públicos em situação de vulnerabilidade. Entre as atuações clínicas e sociais, os Ceccos funcionam de portas abertas para aqueles que ingressam espontaneamente e também para os que chegam indicados por outros serviços de saúde. Neles, a promoção à saúde se dá por meio do encontro das diferenças, da desconstrução de estigmas e produção da autonomia.

Atualmente, existem na capital 23 Ceccos, que, ao longo de 2023, realizaram um total de 77.098 atividades; em 2024, até o mês de setembro, já foram mais de 65 mil atividades realizadas, com públicos diversos.

“Somos um espaço de inclusão”, afirma a gerente do Cecco Parque Previdência, Vanessa Andrade Caldeira. O espaço que ela administra está localizado dentro do Parque da Previdência, na zona oeste da capital. Ali, em meio à natureza, com o envolvimento de psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e assistentes sociais, são realizadas oficinas voltadas à saúde e bem-estar e convivência, como atividades físicas, práticas integrativas e complementares em saúde (Pics), atividades artísticas, além de espaços para a troca de saberes e fazeres artesanais. 

Vanessa explica que o Cecco também realiza atividades socioculturais, com acesso aos bens culturais e circulação pela cidade como os passeios, apresentações e visitas a exposições e coletivos do território que trabalham com arte, cultura e saúde. “Esse movimento transforma os sujeitos, a cidade e o preconceito em relação às pessoas com deficiência ou em sofrimento psíquico”, enfatiza. 

Frequentadores participam de iniciativas de geração de renda
Os Ceccos também incentivam e apoiam os frequentadores a terem independência financeira, reconhecimento e desenvolvimento social por meio de iniciativas de qualificação profissional e de geração de renda. Dentro desta característica, o Cecco Parque Previdência é um dos equipamentos que compõe o Grupo Condutor do Trabalho e Saúde do Butantã, que mapeia no território as ofertas de vagas para pessoas com deficiência além de cursos e bolsas. 

Ao mesmo tempo, o equipamento incentiva o território a identificar pessoas acompanhadas pela rede de saúde que estejam com dificuldades para ter uma renda, seja em função de deficiências, por estarem em grande vulnerabilidade social, sofrimento psíquico ou em situação de violência. “A discussão realizada dentro do grupo condutor por profissionais de diferentes serviços constrói, juntamente com os sujeitos, seu projeto para gerar renda”, diz a gestora do Cecco Parque Previdência.  Segundo ela, por estar articulado de forma intersetorial e em rede a outros órgãos e equipamentos no território, o Grupo Condutor consegue encontrar caminhos para capacitação, para vagas de emprego ou auxílio ou mesmo na idealização de um empreendimento.

O Ponto de Economia Solidária do Butantã, vinculado à Secretaria Municipal da Saúde (SMS), é um dos locais onde as pessoas que recebem auxílio voltado às questões profissionais podem trabalhar. Implantado em 2016 como parte da rede de inclusão voltada a pessoas em situação de vulnerabilidade social, o Ponto de Economia Solidária é voltado à organização econômica a partir do trabalho coletivo, apoiando o desenvolvimento de projetos de geração de renda a partir de empreendimentos solidários. 

“Sabemos que para os pacientes de saúde mental o emprego formal pode ser um grande impeditivo e os empreendimentos de economia solidária pode resgatar essa dimensão do trabalho, com maior respeito à adaptação dessas pessoas. Por isso, dizemos que é uma estratégia importante de reabilitação”, complementa Vanessa.

Independência financeira
Com diagnóstico de esquizofrenia, dois frequentadores do Cecco Previdência participam de um novo empreendimento, o lava a seco de carros instalado no Ponto de Economia Solidária, Comércio Justo, Cooperativismo Social e Cultura do Butantã. Atualmente, já adaptados com uma nova rotina de trabalho, eles contam histórias de superação e conquistas, por meio das relações sociais e também pela independência financeira.  
Tiago Cássio, 38, chegou ao Cecco Previdência encaminhado pela Unidade Básica de Saúde (UBS), em 2019, por recomendação da psicóloga. O diagnóstico de esquizofrenia não o impediu de avançar. Passou por oficinas de pintura em tecidos, participou do bloco Bibitantã, fez terapia comunitária, entre outras atividades. “Eu me identifiquei com as pessoas que frequentavam o Cecco, fiz amizades. Antes eu tinha problemas de relacionamento e depressão, hoje estou mais feliz, as pessoas aqui são parecidas comigo”, diz Tiago.

Em 2022, após participar do grupo Trabalho e Ação no Cecco, ele se interessou em montar um empreendimento coletivo de lavagem a seco. O frequentador conta que o equipamento viabilizou a capacitação de todo o grupo, e sua vida teve um novo rumo. “Tudo que acontece no lava a seco é decidido conjuntamente por todos os funcionários; escolhemos até o nome do empreendimento em conjunto: "Katu ará", que significa bom dia em tupi”, comenta. “Atualmente, consigo até contribuir financeiramente com a minha família, compro coisas que quero, vou ao cinema com os amigos do Ponto de Economia Solidária.”  

Também foi no empreendimento que Maurício Tsuyoshi Yashoshima, 49, recuperou suas perspectivas em relação ao trabalho. Ele era estudante de licenciatura de Matemática na Universidade São Paulo (USP) quando os primeiros sintomas do transtorno mental apareceram. Não terminou a faculdade devido ao diagnóstico de esquizofrenia. Ao ser encaminhado ao Cecco, participou da mesma oficina que o colega Tiago. Mais tarde, foi convidado a compor o empreendimento do lava seco. Sente-se bem trabalhando, criou laços de amizade e, enquanto continua com acompanhamento psicológico e psiquiátrico, faz planos para o dinheiro que recebe no trabalho. “Quero reformar a casa onde moro com a minha mãe”, conta.
 

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