Secretaria Municipal da Saúde
Coletivo apoia a expressão artística de usuários de Caps e Cecco
Na última sexta-feira (29) o coletivo Cuca Tantã fez sua estreia em um evento realizado na Casa de Cultura do Butantã. O grupo, cujo nome formal é Coletivo Único de Criação Artística do Butantã, é integrado por usuários do Centro de Convivência e Cooperativa (Cecco) Parque Previdência, do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Álcool e Drogas Butantã e do Caps adulto Butantã, todos equipamentos da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
Estruturado este ano, o coletivo reúne cerca de 15 artistas que buscam, a um só tempo, produzir artisticamente, apreciar e compor o trabalho um do outro, expressar-se, reconhecer-se e ser reconhecidos como artistas e também gerar renda com sua arte.
O primeiro evento do Cuca Tantã teve café de boas-vindas, roda de apresentação dos artistas com o tema “A arte cura”, exposição de artes plásticas intitulada “A arte CUCA”, com trabalhos de cinco artistas, apresentação da peça “Puxada de rede” e até uma roda de samba com a participação especial de frequentadores do Caps Santana.
Reuniões semanais
Segundo a gestora do Cecco Parque da Previdência, Vanessa Caldeira, o marco da criação do coletivo foi a inscrição dos trabalhos de 10 artistas para o Prêmio Arthur Bispo do Rosário, promovido pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo e voltado especificamente a usuários de serviços de saúde mental no Estado de São Paulo.
A partir da experiência de preparar e inscrever os trabalhos com o suporte da equipe do Cecco e do Caps AD, a criação do coletivo foi uma consequência natural. Hoje, o grupo, que é coordenado pelos dois serviços da SMS e também tem apoio do Programa Vocacional da Secretaria Municipal de Cultura, reúne-se às sextas-feiras no Cecco para discutir formas de continuar produzindo e viver de sua arte, como a participação em editais públicos e feiras de arte que acontecem pela cidade.
“Havia uma demanda forte desses artistas por estratégias para que possam viver do seu trabalho, mas ao mesmo tempo sem ter que se enquadrar em um esquema de emprego formal e respeitando suas particularidades”, conta Vanessa, acrescentando que, se o Cuca Tantã une os artistas em torno de um objetivo, por outro lado seus perfis são bem diversos, com diagnósticos clínicos que vão da depressão à bipolaridade, além de casos de dependência química.
Mandalas e xilogravuras
Giovanni Felipe Paiva Moreira, 27, mora em Santana do Parnaíba e todas as sextas-feiras se desloca de moto até São Paulo para participar do coletivo de artistas no Cecco Parque Previdência. “Era o que eu estava buscando, pois quero gerar renda e no Cuca Tantã pensamos em caminhos para isso de forma conjunta”, diz o jovem, que desenha mandalas coloridas usando compasso e as transpõe para vários suportes, incluindo camisetas.
Claudio Alessandro de Souza, 52, conhecido como Cadu, conta que trabalhava como ator até 2010, quando foi atingido por uma depressão profunda. “Eu atuava em comédias, ainda por cima, e tive que abandonar o teatro”. Depois de um período de grande dificuldade e isolamento, em 2020 ele buscou ajuda no Caps AD Butantã, onde passou a ter acompanhamento.
Ao mesmo tempo, Cadu procurou outras formas de expressão artística. Acabou por se encontrar na xilogravura, técnica que consiste em gravar imagens em suporte de madeira para depois reproduzi-las em papel ou outro suporte; nascia assim a Xilogravuras do Benedito, em homenagem ao seu avô. “Eu comecei produzindo imagens que me remetiam ao universo dele e à minha infância, no interior de São Paulo, e depois passei a retratar também histórias de outras pessoas”, relata o artista.
Ele pontua que integrar o Cuca Tantã tem sido importante de várias maneiras: “Ele nos ajuda a organizar e direcionar a nossa produção de uma forma bem prática, e ao mesmo tempo, por meio da interação com os outros artistas, nos permite saber onde estamos em relação à nossa própria arte”. Hoje, diz Cadu, ele aguarda com empolgação as reuniões de sexta-feira, que ganharam grande importância em sua vida.
A gerente Vanessa diz que a intenção é colocar as artes do coletivo no mundo. “Vamos pensar em coisas como marca, identidade visual, produtos que possam ser criados coletivamente pelos artistas e lhes permitam viver de sua arte; mas, para além da questão da geração de renda, ser reconhecidos como artistas muda seu lugar no mundo, os ajuda a reorganizar-se psiquicamente”, comenta a gestora. citando o trabalho pioneiro da psiquiatra Nise da Silveira, que revolucionou o tratamento de distúrbios mentais no Brasil por meio da arte.
Mais sobre os Ceccos
Localizados preferencialmente dentro de parques públicos, centros esportivos, comunitários e praças em todas as regiões da cidade, os Ceccos são espaços alternativos de acolhimento e cuidado para além dos consultórios e equipamentos convencionais de saúde. Estes equipamentos estão abertos à população em geral, incluindo as pessoas em situação de rua e outros públicos em situação de vulnerabilidade.
Entre as atuações clínicas e sociais, os Ceccos funcionam de portas abertas para aqueles que ingressam espontaneamente e também para os que chegam indicados por outros serviços de saúde. Neles, a promoção à saúde se dá por meio do encontro das diferenças, da desconstrução de estigmas e produção da autonomia.
Atualmente, existem na capital 23 Ceccos, que, ao longo de 2023, realizaram um total de 77.098 atividades; em 2024, até o mês de setembro, já foram mais de 65 mil atividades realizadas, com públicos diversos.