Secretaria Municipal da Saúde
De motoboy consciente a socorrista, Marcelo conta como as ruas o ensinaram a proteger vidas no trânsito

Em 2025, de janeiro até o dia 11 de maio, 96 pacientes foram internados em hospitais municipais por causa de acidentes com motocicletas. Desses, 46% aguardam por cirurgias de reparação dos danos em decorrência desses episódios no trânsito. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) registrou 5.603 ocorrências com motociclistas no mesmo período. “Quando eu trabalhava como motoboy, nos anos 1990, em uma empresa de entregas, reagi contra a imposição por um padrão de capacetes de uma marca para todos os motociclistas, que não protegia a gente, era uma casca de ovo. Tinha de usar macacão verde e capacete verde. Como morriam até dois motoboys por semana nessa empresa, que tinha uns 500 trabalhando, eu propus que usássemos os nossos próprios, que eram de melhor qualidade”, contou o atual socorrista do Samu, Marcelo Veronez, de 52 anos, durante sua primeira participação no Programa do Jô, na Globo, em 2008.
A empresa se recusou a atender o pedido dele e, em um dia de trabalho, quando presenciou um acidente grave no Elevado Costa e Silva e ajudou o colega de profissão, que havia tido a perna decepada, foi chamado pelo contratante, que o repreendeu por ter recolhido do asfalto a perna do motociclista durante o socorro à vítima. Diante disso, o então motoboy resolveu denunciar as condições de trabalho na empresa e, por esse motivo, foi demitido.
Foram alguns anos em que trabalhou como motorista de ambulância privada, depois fazendo bicos, até 2004, quando começou no Samu da capital como condutor. Desde 2023, Marcelo compõe a equipe responsável pela coordenação das Unidades Rápidas de Atendimento por Motociclista (Urams). Com sua expertise, tem contribuído significativamente para o fortalecimento e a qualificação desse serviço, em operação desde 2010. As Urams contam com 160 profissionais de enfermagem em atividade, todos capacitados pelo Núcleo de Educação Permanente (NEP) do Samu. Sua consciência sobre a importância da prevenção dos acidentes cresceu e virou poesia que Marcelo transformou em rap. “Escolhi esse ritmo porque é uma música das periferias, de onde são os motoboys em São Paulo”, explica.
Quando prestou o concurso para o Samu, ele já estava na mídia, porque divulgava sua música na internet. Aliás, foi assim que a produção do Programa do Jô o encontrou. Sua trajetória e as histórias que viveu também foram contadas no livro Coletivo Canal Motoboy, de 2010, pela editora Aeroplano. Vendeu 7.500 exemplares no lançamento e manteve o perfil nas redes sociais. Desde 2015, Marcelo decidiu se dedicar apenas ao serviço público, onde se esforça pelo melhor atendimento para os paulistanos que precisam do serviço de urgência e emergência. “Trabalho para que se salvem e respeitem as vidas das pessoas, porque, quando eu sair, esse será meu legado.” Marcelo sempre usou a sabedoria das ruas para defender os direitos dos colegas motociclistas e pregar a paz no trânsito. “Motoqueiro sangue bom, anda, anda, e nunca bate. Anda até de viatura, mas não anda de resgate...” é uma das letras do CD independente que lançou em 1998, e vendeu 19 mil unidades.
Q+
Marcelo resgata animais em situação de rua, desde 2016. Ele cuida e procura encaminhá-los para a adoção responsável. Os que não encontram um lar, ficam com ele. A despeito da profissão que o mantém em movimento, na vida ele prefere outra toada, mais tranquila. Nas horas vagas, pratica surf em Itanhaém, litoral sul do estado, na Praia dos Pescadores.
GENTE.DOC
O boletim Saúde Mais Perto/Gente tem uma versão em vídeo publicada no canal da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), no YouTube. Para conhecer mais sobre os protagonistas dessas histórias inspiradoras no SUS da cidade de São Paulo, aponte a câmera do seu celular para o QR Code ao lado. Nesta edição, saiba um pouco mais sobre o Marcelo pelo link:
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