Secretaria Municipal da Saúde

Quinta-feira, 14 de Novembro de 2024 | Horário: 14:00
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Hospital Menino Jesus adota dieta cetogênica para pacientes com crises epilépticas

Alterações como a restrição de carboidratos altera perfil metabólico das crianças e leva à redução de crises em casos de epilepsia de difícil controle
A foto mostra a fachada do Hospital Infantil Menino Jesus, que pertence à Prefeitura do Município de São Paulo. A entrada possui um letreiro em letras douradas com o nome do hospital, e o prédio tem várias janelas protegidas por estruturas verticais de madeira ou metal na cor marrom claro. Acima da entrada há uma estrutura curva, com uma área azul cobrindo parte superior. Há algumas plantas à direita da imagem.

Há três anos o Hospital Municipal Infantil Menino Jesus iniciou um trabalho direcionado às crianças com crises epilépticas de difícil controle medicamentoso envolvendo essencialmente a alimentação. Por meio do Ambulatório de Epilepsia de Difícil Controle, a instituição passou a oferecer suporte à adoção de dieta cetogênica para estas crianças, com resultados surpreendentes.

“Minha filha tinha de seis a 10 crises por dia, e com a dieta passou a ter de uma a três por semana, e às vezes nenhuma, o que a transformou em uma criança mais ativa, já está falando algumas palavras, e também permitiu que passasse a frequentar a escola pela primeira vez”, relata Andreza dos Santos, 40, mãe de Eloá Vitória, de 5 anos. A menina, que tem um quadro de paralisia cerebral, microcefalia e epilepsia de difícil controle (síndrome de West), foi introduzida na dieta cetogênica há pouco mais de dois anos.

Com resultados amplamente documentados para pacientes epiléticos, a dieta cetogênica se caracterizada por ser rica em gordura, pobre em carboidratos e com quantidade controlada de proteínas. Desta forma, promove uma mudança no “combustível” utilizado pelo cérebro, que passa a utilizar gordura como fonte principal de energia, o que por sua vez aumenta a produção de corpos cetônicos e reduz a excitabilidade neuronal, promovendo o controle das crises.

Andreza conta que a princípio ficou um pouco assustada com a mudança na dieta e com o desafio em prepará-la e introduzi-la no cotidiano da família. “Achei que ia ser uma coisa muito complexa, mas no dia a dia foi tranquilo, é uma dieta rápida de aprender, saudável e saborosa, eu mesma aderi”, comenta a mãe de Eloá, que, com a imersão na dieta cetogênica e os resultados alcançados, virou referência para as outras famílias acompanhadas pelo ambulatório.

“Temos um grupo de conversa, e eu também posto nas redes sociais algumas receitas que preparo, para incentivar as outras mães”, conta Andreza. Segundo ela, os pratos preferidos de Eloá são quiche de pera, brócolis com peixe e donuts de couve com frango, todos preparados com a utilização de um leite especial para dieta cetogênica.

Nutricionista orienta e dá apoio às famílias

O Ambulatório de Epilepsia de Difícil Controle do HMIMJ é coordenado pela neuropediatra e neurofisiologista Luciana Midori Inuzuka Nakaharada que atua há 18 anos no Menino Jesus e é responsável pelo Serviço de Epilepsia e Neurofisiologia. A médica, cujo mestrado foi dedicado à dieta cetogênica, ressalta que a adesão deste método para o tratamento da epilepsia de difícil controle só foi possível a partir do trabalho em conjunto com a nutricionista Jéssica de Oliveira Magrini.

É Jéssica que, a partir da indicação da terapia cetogênica pela médica, formula os cardápios para as crianças – na prática, as idades variam de 1 a 19 anos, além de fornecer as orientações no dia a dia. Segundo ela, a primeira providência das famílias é comprar uma balança de cozinha, uma vez que todos os ingredientes são pesados e controlados. A nutricionista também fornece uma lista de substituição de alimentos a ser seguida.

Uma vez adotada a dieta, as famílias são instruídas a fazer controles diários do número de crises, além do nível de cetose, aferido pela urina ou pelo sangue, e nível glicêmico da criança, uma vez que a dieta restringe carboidrato e pode haver episódios de hipoglicemia. “Duas a três vezes por semana eu envio mensagens pedindo as aferições da  glicose no sangue e cetose, além das anotações do número de crises e duração de cada uma, para fazer ajustes, se necessário”, comenta a nutricionista, que diz sentir-se feliz pelos resultados alcançados.

“O Pedro tinha de 17 até 35 crises diariamente, e depois da dieta praticamente não tem mais crises fortes; está mais feliz, comunicativo, tranquilo, é praticamente outro menino”, relata Fernanda Meireles de Oliveira Brum, 45, mãe de Pedro, de 4 anos e 6 meses, que foi diagnosticado com epilepsia com apenas um mês de vida. A família aderiu à dieta cetogênica em 2023. "O desafio maior foi a disciplina de horário e quantidade de cada alimento, que precisa ser pesado a cada preparo, mas com o suporte da nutricionista, sempre disposta a tirar dúvidas e auxiliar na superação das dificuldades, a adaptação foi bastante tranquila”.

Graças ao suporte da equipe, o ambulatório reporta resultados positivos: das oito famílias que iniciaram o acompanhamento para controle da epilepsia, sete permanecem, e todas alcançaram uma redução significativa do número de crises nas crianças, que varia de 70%, no mínimo, a mais de 90%, como no caso de Eloá. Além disso, o controle alcançado com a dieta permitiu, em muitos casos, a redução de alguns medicamentos, o que resulta em menos efeitos colaterais e mais qualidade de vida.

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