Secretaria Municipal da Saúde

Segunda-feira, 16 de Dezembro de 2024 | Horário: 11:00
Compartilhe:

Linha de cuidado do Hospital Infantil Menino Jesus reduz complicações por traqueostomia 

Treinamento dos pais para realizar manutenção em casa resulta em menos reinternação e também agiliza processo de “desmame” do procedimento
A imagem mostra a fachada do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, localizado em São Paulo. O prédio possui uma arquitetura moderna com varandas onduladas e detalhes em tons de azul. Em primeiro plano, há duas placas redondas destacando o nome do hospital e sua administração pela Prefeitura de São Paulo, em parceria com o Sírio-Libanês. Há também uma grande árvore com folhagem verde, que complementa a paisagem urbana.

Desde março, o Hospital Municipal Infantil Menino Jesus (HMIMJ) já realizou sete decanulações em pacientes com traqueostomia, ou seja, a retirada da cânula, dispositivo inserido no pescoço do paciente para facilitar a entrada de ar nos pulmões. Para muitos pacientes, a reversão da traqueostomia pode significar a retomada de rotina normal para si mesmos e também suas famílias.

Avaliar quais pacientes podem fazer o “desmame” da traqueostomia e realizar a decanulação são passos que integram a Linha de Cuidados da Traqueostomia, e fazem parte das atribuições da médica Carina Fussuma, cirurgiã crânio-maxilo-facial e otorrinopediatra especialista em vias aéreas que integra a equipe do HMIMJ desde março.

Carina conta que atualmente cerca de 40 crianças traqueostomizadas são acompanhadas pelo Menino Jesus. “Estamos avaliando todos os pacientes, o objetivo é reverter a traqueostomia no maior número possível, se houver condições”, pondera a especialista, que vem introduzindo inovações no protocolo para que isso ocorra, como o treinamento dos pais para que realizem em casa a manutenção e os cuidados necessários com a cânula.

Bronquiolite é a principal causa no HMIMJ
A traqueostomia é um procedimento que cria uma abertura na traqueia, através do pescoço, para fornecer uma via alternativa de respiração quando a via aérea superior está obstruída ou comprometida, em decorrência de doenças como tumores, malformações ou mesmo lesões após intubações prolongadas, para permitir a passagem do ar para os pulmões. Na primeira infância, no entanto, Carina explica que existe uma outra causa recorrente: o agravamento de casos de bronquiolite, especialmente aqueles provocados pelo vírus sincicial respiratório.

“A bronquiolite atinge crianças saudáveis, sem problemas prévios de saúde, então mesmo quando há necessidade da traqueostomia, essas crianças têm alta assim que possível; reverter a traqueostomia, no entanto, pode levar até anos, uma vez que são necessárias algumas condições para isso, o que significa que a rotina da família será alterada, na medida em que a criança traqueostomizada requer vários cuidados”, explica a especialista.

Fazer a aspiração regular de secreções e até mesmo a ocorrência de acidentes como a retirada involuntária da cânula, em caso de crianças pequenas, são cuidados que as famílias precisam tomar, o que altera de forma importante suas rotinas. Além disso, pelas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Consenso Nacional de Traqueostomia, a cânula deve ser substituída pelo menos cada três meses, para evitar riscos e garantir mais qualidade de vida aos pacientes. 

LEIA TAMBÉM: Clima mais frio faz aumentar a circulação do vírus sincicial respiratório

Participação dos pais
Por isso, a linha de cuidado em traqueostomia do HMIMJ passou a enfatizar a importância da participação dos pais ou responsáveis nos cuidados com as crianças no ambiente familiar. Este ano, eles receberam treinamento para cuidados como a aspiração de secreções, para a troca da cânula a cada três meses e mesmo para intervir rapidamente caso a criança retire a cânula acidentalmente, o que poderia significar um risco de vida. 

A partir destes cuidados, o hospital conseguiu reduzir a zero o número de reinternações por complicações da traqueostomia. E, uma vez que não haja complicações, o processo de “desmame” pode ser avaliado, já que, entre outros impactos, a traqueostomia afeta o desenvolvimento da fala da criança, e, em virtude dos cuidados que necessita, pode representar dificuldades para a manutenção da criança na creche ou escola. Decanular, portanto, é um grande passo na retomada de uma vida normal. 

Para que a decanulação ocorra, são necessárias algumas condições, como que as vias aéreas superiores, acima da traqueostomia, estejam saudáveis, sem intercorrências nos últimos três meses, e sem secreção em grande quantidade na traqueia. “Caso elas ocorram, fazemos o processo gradualmente, com a oclusão progressiva da abertura da traqueia, para que a criança vá se acostumando a respirar normalmente, e, caso tudo corra bem, a retirada da cânula é feita no hospital, pela equipe. “Antes o procedimento era feito na sala de cirurgia e com anestesia, mas hoje fazemos no próprio leito, com a presença dos pais”, pontua Carina.

Denis Saint Felix foi um dos pais que puderam comemorar a reversão da traqueostomia no HMIMJ. Seu filho Petaquias, atualmente com dois anos, pode finalmente ouvir a própria voz e ir para a creche, depois de passar praticamente toda a vida traqueostomizado. “É um momento muito maravilhoso, não tenho nem palavras para explicar, porque o que nós passamos, eu e a mãe, é algo que não desejo para ninguém, foram mais de dois anos em que a mãe teve que ficar em casa direto; agora ela vai poder sair, trabalhar, e o Petaquias pode ir para a creche”.

O Hospital Municipal Infantil Menino Jesus conta com a administração do Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês (IRSSL) há 16 anos.  O Instituto nasceu com o propósito de fortalecer a atuação social voluntária da Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital Sírio-Libanês na saúde pública do Brasil, tendo como missão levar a excelência administrativa e operacional, já reconhecida no setor privado, às esferas municipais e estaduais do País.
 

collections
Galeria de imagens