Secretaria Municipal da Saúde
Onda de calor de fevereiro elevou número de mortes em 30%, diz estudo
'O alerta partiu do serviço funerário junto com o pessoal do PRO-AIM. A partir daí iniciamos o estudo', disse Patrícia Carla
Por Keyla Santos e Mariana Bertolo
Foto Edson Hatakeyama
A Coordenação de Epidemiologia e Informação (Ceinfo) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) lançou, em workshop promovido pela Gerência de Vigilância em Saúde Ambiental (Gvisam/Covisa), o Boletim Ceinfo. O documento é dividido em duas partes. Na primeira são analisados os temas “A onda de calor de fevereiro de 2014 e o Excesso de mortes no município de São Paulo”, onde foi possível observar que o número de mortes cresceu 30% nas duas primeiras semanas de fevereiro deste ano. A segunda parte foi desenvolvida pela equipe de Vigilância em Saúde Ambiental da Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa), que abordou o tema “Programa Vigiar no município de São Paulo: ondas de calor e poluição atmosférica”.
De acordo com uma das responsáveis pelo estudo da Ceinfo, Patrícia Carla dos Santos, a equipe do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade (PRO-AIM) recebeu um alerta do Serviço Funerário Municipal. “O alerta partiu do serviço funerário junto com o pessoal do PRO-AIM. A partir daí iniciamos o estudo”, disse.
O estudo foi apresentando com base no alto índice de mortes nos primeiros dois meses de 2014, mais especificamente nas semanas de dois a 15 de fevereiro. Neste período, a cidade de São Paulo apresentou uma forte onda de calor e baixa umidade, características climáticas que ameaçam a saúde humana. Dados climatológicos do município foram fornecidos pelo Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura de São Paulo (CGE) e pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG) e o número de mortes pelo Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo (PRO-AIM).
O material traz análise da comparação das mortes na cidade para o período de dezembro de 2013 a fevereiro de 2014, onde houve, de acordo com dados do CGE, aumento de temperatura do trimestre de dezembro a fevereiro em relação aos anos anteriores. Os meses de janeiro a fevereiro de 2014 tiveram as maiores médias de temperatura desde 1933 e foi o segundo verão mais seco desde o mesmo ano. A média de temperatura do período foi de 24, 1ºC.
Nas duas primeiras semanas de fevereiro (2 a 15) houve aumento de 30% do número de mortes em relação ao mesmo período de dois anos anteriores (2013 e 2012). Foram 3.228 óbitos, uma média de 230 mortes/dia. O esperado para o período é de 2.485 óbitos, com média de 177 mortes/dia, houve excesso de 743 óbitos.
Entre as principais causas das mortes estão as doenças do sistema nervoso, doenças do aparelho geniturinário e transtornos mentais e comportamentais. Essas características foram observadas em todas as faixas etárias, com destaque para os menores de um ano e idosos.
Segundo Margarida Tenório Lira, coordenadora da Ceinfo, é importante transmitir aos cidadãos as medidas que devem ser tomadas diante de uma onda de calor. “A população deve ficar alerta à hidratação, à necessidade de refrescar os ambientes. O estudo também traz orientações para os serviços de atendimento da rede assistencial, para os profissionais ficarem alerta. A Ceinfo é responsável por identificar os efeitos adversos à saúde – neste caso foram as mortes – e articular com as áreas que são responsáveis por emitir o alerta e orientar a população”, disse.
Ondas de calor e a poluição atmosférica
A análise da Vigilância e Saúde Ambiental da COVISA através do Programa Vigiar no município de São Paulo: ondas de calor e poluição atmosférica, mostra que os efeitos das ondas de calor causam vulnerabilidade para a saúde dos paulistanos. Os resultados apresentados sugerem que as mudanças climáticas tendem a aumentar as ameaças à saúde humana.
“Na cidade de São Paulo, assim como nas grandes cidades do mundo, é importante considerar evidências relacionadas à associação das ondas de calor e elevação dos níveis de ozônio e outros poluentes e isto está diretamente relacionado aos agravos a saúde e o excesso de mortalidade”, explicou o doutor Nelson Figueira, gerente da Vigilância Ambiental da Covisa.