Secretaria Municipal da Saúde
Médica cubana do Programa Mais Médicos agradece moradores pela boa receptividade
'É lindo poder trabalhar com a população se aprimorar como médico e ser humano atender os que necessitam', afirma a médica Rosa Maria Mitil
Texto e foto por Felipe Aires
A médica cubana Rosa Maria Mitil atua na UBS Jardim Três Corações, em Capela do Socorro (zona Sul). Dizendo-se realizada em sua profissão, na entrevista que se segue ela fala sobre o programa médico em Cuba, comparou a saúde pública no Brasil e Cuba e como é atuar no Programa Mais Médicos e aproveitou para agradecer a população e os colegas de trabalho pelo apoio durante este tempo que está no Brasil. “Levarei pra sempre o Brasil no meu coração”, afirmou.
Confira a entrevista:
Como você decidiu ser médica?
Bom, minha inspiração foi familiar. A medicina me atraiu por causa da interação com a população. Fui amadurecendo a ideia de ser médica e, também, porque, em Cuba, ser médico é uma ótima oportunidade de viver melhor.
E em Cuba, como é a formação do médico?
É bem difícil, como em qualquer lugar. Estudamos muito, principalmente no primeiro ano, quando aprendemos o ciclo básico. O segundo ano também é complicado, já que mal temos contato prático, é tudo mais na base da teoria. Estudei muito, o tempo todo.
Você é especializada em qual área da medicina, como se deu seu interesse por essa área e como foi sua trajetória na área médica?
Fiz residência em medicina da família. Prevenção é o que eu mais gosto de fazer. Entrei na faculdade em 1990 e me formei em 1997. Especializei-me por três anos, mas temos um programa em Cuba que torna obrigatório fazer medicina da família. Muitos permanecem nessa área, outros acabam seguindo outro caminho. Trabalhei na Venezuela de 2003 a 2008, logo após terminar minha especialização e, sem dúvidas, foi uma experiência muito proveitosa.
Pensa em mudar de área?
Na verdade, não! Gosto muito da minha área e desejo continuar nesse caminho. É lindo poder trabalhar com a população, se aprimorar como médico e ser humano, atender os que necessitam. Não é nada fácil, posso afirmar. Porém, é extremamente gratificante.
Você faz parte de qual edição do Programa Mais Médicos e como você conheceu o Programa?
Vim através da segunda edição do Programa. A diferença da primeira turma para a segunda é de um mês apenas. O contato com o Programa Mais Médicos começou em agosto de 2013 através de diretores que avisaram da oportunidade. Sempre trabalhei com a saúde pública.
Como funciona o programa de saúde pública em Cuba? É muito diferente do Mais Médicos?
Em Cuba há um posto médico que fica dentro das comunidades. A primeira entrada de qualquer paciente é através desse posto médico. A partir daí, de acordo com a avaliação do quadro, o paciente é enviado para algum especialista. O médico que trabalha nesse posto tem que morar dentro da comunidade.
Há muitos brasileiros estudando medicina em Cuba. Você estudou com algum?
Quando fiz faculdade não estudei com nenhum brasileiro, mas, hoje, tem mesmo muitos brasileiros estudando medicina em Cuba.
Por que você decidiu vir para o Brasil?
Decidi encarar esse desafio porque seria muito bom para o meu currículo. Cuba é muito pequena, tem poucas doenças, queria aprender mais. Gosto de estar sempre aprendendo. O lado financeiro também pesou. Mas são os novos conhecimentos o meu maior combustível. Além disso, o Brasil precisava de ajuda e penso que temos que contribuir com o povo.
Sente-se adaptada ao novo país?
Assim que descobri o programa já comecei a pesquisar sobre o Brasil. Não fazia ideia que aqui precisava de médicos. Daí em diante me interessei por tudo que fosse relacionado ao país e agora estou aqui, feliz e realizada. O começo foi bem difícil. Somente 400 médicos vieram para ver como seria a aceitação por aqui. Falar o português é muito complicado também. Quando cheguei fui para Belo Horizonte, recebi aula de protocolo médico, de português e como funciona o SUS.
Por que escolheu São Paulo? O que te atraiu?
Na verdade, não escolhi vir para São Paulo. Acabei vindo pra cá por questão do destino mesmo. Chegando aqui pude escolher em qual região gostaria de trabalhar. Como não tinha a menor ideia de qual escolher, optei pela região Sul. Depois escolhi em qual UBS trabalhar. Fiz a escolha correta. São Paulo é muito grande, mas aqui na UBS Jardim Três Corações são os brasileiros que têm que se adaptar aos cubanos, já que estamos em cinco.
Após o término do seu contrato, no fim de 2016, você pretende continuar morando no Brasil?
Olha, levarei pra sempre o Brasil no meu coração, mas pretendo voltar para Cuba. Adoro morar aqui, mas Cuba é o meu lugar, minha família está lá e sinto que tenho muito o que fazer pela população cubana também.
Por fim, você gostaria de mandar algum recado para os brasileiros?
Sim! Gostaria de agradecer toda a receptividade na qual receberam a mim e aos meus companheiros cubanos. Agradeço a todos que me ajudaram, aos médicos brasileiros deste posto. Adoro trabalhar com eles e são extremamente competentes. Fico muito contente com o trabalho desenvolvido aqui. Acho que o Programa Mais Médicos é uma boa oportunidade de dar acesso a uma saúde pública de qualidade pra população mais carente, mas acho, também, que pode ficar ainda melhor em alguns aspectos. Mas o importante é que o caminho está sendo trilhado.
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