Secretaria Municipal da Saúde
Cecco Bacuri promove ‘contação’ de história
Cristiane Guterres
Contar uma historia é uma arte. Pode ser também uma maneira de manter viva e fortalecer a memória de uma pessoa, de um bairro ou de uma instituição. Os pacientes do Centro de Convivência e Cooperativa Eduardo Leite Bacuri (Cecco Bacuri) descobriram que, por meio da “contração” de historia, podem manter viva a memória da unidade. Decidiram, então, começar a narrativa pela historia do nome da instituição. Promoveram uma grande apresentação para contar quem foi Eduardo Leite, o Bacuri.
O Cecco Bacuri é um serviço municipal de promoção de saúde. Propicia a inserção de pessoas em situação de vulnerabilidade psíquica e social através da arte, da saúde, da cultura e do trabalho. A oficina de arte interativa é uma das atividades que a unidade utiliza para desenvolver esse trabalho. Há alguns anos a oficina estabelece parcerias com museus e instituições de arte da cidade para desenvolver atividades com os pacientes.
Vítima da ditadura
Durante uma das oficinas realizadas com o Memorial da Resistência os pacientes descobriram que o Cecco tinha o nome de um militante de esquerda, morto no período da ditadura militar no Brasil. “Durante as nossas visitas ao Memorial da Resistência os pacientes começaram a questionar a ditadura militar, quem era o Eduardo Leite Bacuri e porque o Cecco tinha o nome dele. A partir daí eles quiseram fazer este trabalho, começando pela vida dele. A gente procura trabalhar as ideias que estão emergindo dos próprios pacientes”, explicou Teresa Maria dos Santos, terapeuta da unidade e coordenadora do grupo de arte interativa.
Até chegar na apresentação final, o caminho de pesquisas foi longo. Foram doze encontros desde o início do ano, quando as atividades começaram. A princípio, os pacientes aprenderam sobre o que é uma “contação” de história, quais as técnicas para envolver o público. Depois, iniciaram as pesquisas. Com a ajuda da equipe de educadores do Memorial da Resistência eles foram ao Arquivo do Estado de São Paulo, órgão gestor do acervo histórico documental, e tiveram acesso a documentos textuais e fotográficos, originais do período da ditadura militar.
Em uma outra etapa do trabalho eles receberam no Cecco a Jornalista Vanessa Gonçalves, autora do Livro Eduardo leite Bacuri. Durante a visita de Vanessa muitos ficaram emocionados ao descobrir que Bacuri morreu após mais de cem dias sob tortura nos escusos porões do regime militar brasileiro.
‘Também faço parte desta história’
Para alguns pacientes, participar da reconstrução desta história permitiu que eles encontrassem seu próprio lugar na história. É o caso de Vitalina, paciente da unidade e participante da oficina. “Eu também faço parte desta história. Não era guerrilheira, mas era o braço estudantil da luta; fui fichada por que eu era do grupo do Centro Acadêmico da PUC. Para mim isso tudo não é teoria, para mim foi na prática. Estou relembrando minha história”, contou ela.
Ao final do trabalho de pesquisa e aprendizado eles optaram por contar a história de Bacuri de uma maneira lúdica, sem lembrar os horrores que ele sofreu no fim de sua vida. Mas conseguiram envolver o público com a apresentação e receberam muitos aplausos.
“Esta atividade trouxe o resgate da identidade de cada paciente. Mostrou que nem toda história tem que ser boa ou bonita, que você passa por momentos difíceis e pode ultrapassar esses momentos. Há um estigma muito grande em cima da doença psíquica. Dá a impressão de que a pessoa doente parou no tempo e nunca mais vai ser feliz, e esse trabalho traz para eles um outro ponto de vista sobre a própria história”, finalizou Tereza.
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