Secretaria Municipal da Saúde

Sexta-feira, 27 de Novembro de 2015 | Horário: 13:09
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Psiquiatra do CAPS M’ Boi Mirim esclarece dúvidas sobre sonambulismo

Disfunção do sono é muito comum na infância, mas pode ser controlada com as medidas corretas

 Por Felipe Aires


O sonambulismo é uma disfunção do sono. A pessoa realiza ações motoras, vocais ou fisiológicas enquanto dorme. Tal ocorrência é comum na infância, porém, pode surgir durante toda a vida, com características diferentes. Quem explica é Patrícia Gouveia Ferraz, psiquiatra do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) M’Boi Mirim, na zona sul. “O sonambulismo é uma condição razoavelmente frequente, mas que causa preocupação por ser mais impactante nas crianças. Elas fazem coisas que as famílias, muitas vezes, não sabem compreender ou o quê fazer. Pode ocorrer ao longo de toda a vida sintomas de sonambulismo, que é uma alteração comportamental do sono. Na vida adulta tem características diferentes da infância, mas é possível o surgimento durante toda a vida. Existem duas categorias de sonambulismo: neurológico ou comportamentais do sono. Há o terror noturno no sono também, que são sustos durante o sono. Sonambulismo é uma alteração do comportamento e está relacionado a fase REM, que é a mais profunda do sono”, afirmou Patrícia.

 
O Portal da Secretaria Municipal de Saúde conversou com a psiquiatra. 


Quando percebemos que a pessoa é sonâmbula?

São comportamentos reincidentes e que prejudicam o processo natural do sono. Existem outros distúrbios do sono, que aparecem até antes do sonambulismo. Todos os distúrbios do sono se anunciam ao longo do desenvolvimento. Para ter confirmação tem que trazer prejuízo e ser frequente. Déficit atencional, por exemplo, pode estar relacionado a algum distúrbio de sono.


É hereditário?


Sim, todos os transtornos mentais do desenvolvimento têm vertente hereditária. Família com pessoas que têm histórico de distúrbios do sono têm mais chances de seus herdeiros também terem uma maior pré-disposição (a esses distúrbios).


A rotina pode ajudar a desencadear?

Há fatores que ajudam. Na prática, e no CAPS, temos uma frequência de atendimento elevada. Rotina ruim, crianças mal estimuladas, falta de momentos lúdicos, de interação, dinâmicas familiares, tudo isso afeta e aumenta muito a possibilidade de uma criança ter distúrbios do sono. Crianças que são colocadas em função de adulto muito precocemente são muito afetadas também.


É mais comum no sexo masculino ou não tem ligação?


A literatura aponta que a imensa maioria dos transtornos disfuncionais da infância, tanto adaptativo quanto acadêmico, aparecem mais em meninos. Porém, quando aparecem em meninas, a gravidade é mais significativa. Isso é muito curioso. Uma menina com um problema deste acaba sofrendo mais que um menino.


Existe diferença entre criança e adultos com relação ao sonambulismo?


Existe. E são muitas. Não só no aparecimento, mas também no impacto na vida. Um adulto de 40, 50 anos, que tem esse problema, sofre um impacto um pouco menos danoso do que ao longo do desenvolvimento. Claro que o adulto terá obesidade, prejuízo no trabalho etc. Mas a criança pode ter um prejuízo cognitivo do desenvolvimento que pode trazer sequelas irreparáveis no futuro.


Existem muitos mitos. Um deles é que acordar a pessoa pode levar a curar ou prejudicar. Tem algum fundo de verdade?


Não. O que acontece é que, dependendo do grau que a pessoa se encontra, ao ser subitamente acordada, já que o cérebro está acordado, ela pode entrar num estado de confusão e que, por um mecanismo de autodefesa, pode se tornar mais agressiva. A recomendação é que se for para acordar um sonâmbulo, que faça com calma. Mas não vai curar e nem prejudicar.


O sonâmbulo possui alguma rotina quando se encontra no estado de sonambulismo?


Não necessariamente. É randômica, aleatória.


Como é feito o tratamento nas crianças?


Ele passa pela indicação medicamentosa. Se estiver impactando na qualidade de vida do adulto, tem que ter investigação mais aprofundada. Alguns sedativos ajudam a não deixar o sonâmbulo apresentar esse problema. Para as crianças não é o ideal, pois elas estão em desenvolvimento e isso pode interferir no futuro. Tem que ser feito como muito critério e os riscos têm que ser avaliados diante dos benefícios. A investigação é uma prática diária. E de extrema importância para todos. Dormir bem faz bem para a saúde. Convido todos a darem mais atenção às questões da qualidade de sono. Uma pessoa que dorme bem, que tem as horas necessárias e que tem um conjunto de ações saudáveis relacionadas ao dormir, com certeza tem uma qualidade de vida melhor. Se está apresentando algo prejudicial relacionado ao sono, tem que estudar e verificar.

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