Secretaria Municipal da Saúde
Traumas oculares podem levar à cegueira
Por Maria Lúcia do Nascimento
A maioria dos traumas oculares é irreversível. Eles ocupam o segundo lugar em todo o mundo e podem provocar cegueira unilateral. A advertência é da médica oftalmologista Denise de Freitas, da Escola Paulista de Medicina. “Se pensarmos que a catarata é uma cegueira reversível e que se for operado o paciente volta a enxergar, com os traumas oculares não ocorre o mesmo”, afirmou Denise durante palestra sobre traumas oculares, realizada no último dia 15, no Museu Afro Brasil, no parque do Ibirapuera. Na ocasião, foi discutida a importância da campanha Abril Marrom – mês de prevenção e combate à cegueira – e que ainda está em processo de aprovação pela Prefeitura.
Durante o evento, a oftalmologista explicou que a maioria dos traumas não ocorre por acaso. “Existem os grupos de risco como crianças, operários que trabalham sem proteção no olho, idosos e esportistas em geral”, afirmou Denise. “Além da deficiência visual, o trauma envolve uma série de custos e desgastes para uma pessoa, não só pela hospitalização, mas porque ela tem de parar de trabalhar, estudar”, disse. A médica alerta ainda para os problemas ocasionados pela mutilação ou pela desfiguração: “Os pacientes, em sua maioria jovens, passa a ter problemas emocionais, sociais e de autoestima, quando, por exemplo, sofre uma queimadura por uma explosão”.
Cuidado com as crianças
Crianças são vítimas comuns de acidentes. Em uma brincadeira aparentemente inocente, com uma faca pontiaguda, por exemplo, ela pode bater essa faca no rosto e perfurar o olho. “A mãe que cozinha com o filho no colo, e bem próximo ao fogão, ou guarda facas e garfos em uma gaveta baixa, está propícia a, indiretamente, provocar um trauma bem grave no olho da criança”, afirmou Denise.
Outro trauma ainda muito frequente é provocado por pais que fumam dentro de casa, com o cigarro na altura ideal para a criança queimar o olho. “É possível ver, com nitidez, a queimadura do cigarro na córnea da criança”, informou a médica. Produtos de limpeza também oferecem muito perigo aos pequenos. “Não guarde esses químicos ao alcance de uma criança, criança especial ou adulto especial, pois ela pode manusear o produto e levar à face”, advertiu.
Alguns trabalhos, segundo a médica, mostram que qualquer criança pequena, dentro de casa, com um cão um pouco mais violento, certamente será agredida. “Uma foto de uma criança com um dobermann, por exemplo, é inadmissível. Pelo comportamento, hoje ele está manso, mas amanhã pode estar feroz. Já a criança, sem noção, puxa o rabo do animal, a orelha e, sem dúvida, o cão ataca. Portanto, não coloque a criança em risco, pois nunca se sabe o que vem depois que o cão sofre algum movimento de mudança de humor. Quando achamos que vai acontecer um trauma, temos que atuar e evitar, imediatamente!”, ressaltou a médica.
Acidentes oculares
Os acidentes oculares ocorrem normalmente no trabalho, em casa, no trânsito e no esporte. “A pescaria é o esporte número um em riscos, porque as pessoas que vão pescar, geralmente não usam proteção”, afirmou a oftalmologista. A prática do squash, por exemplo, está submetida a uma lei que obriga o atleta a utilizar óculos de proteção. “A bolinha do squash é menorzinha, e entra perfeitamente na região da órbita, o que provoca uma explosão no olho”, disse Denise.
Outro esporte que pode acarretar acidentes oculares, caso não haja cuidados relativos à proteção é o paintball. Isso porque trata-se de uma atividade praticada com uma arma de cujo cano é lançada uma bolinha do tamanho de um olho. “Não dá para proibir a criançada de praticar esse esporte, eles adoram”, ponderou a médica. “Nos EUA, porém, ninguém joga paintball sem proteção. Esse esporte é um dos grandes causadores de fratura no rosto e, é claro, no olho”, disse a médica.
Fogos de artifício e queimaduras
Denise adverte ainda que a perda visual por trauma com fogos de artifício é severa. “Eu vivo tentando fazer com que algum político escute o médico, para que fogos de artifício só possam ser manuseados por pessoas credenciadas. Eles têm uma química que queima e, além de queimar, faz a contusão pela explosão no olho. É muito difícil recuperar um olho que sofreu queimadura por fogos de artifício”, afirmou. A médica ressaltou ainda que as queimaduras oculares são muito frequentes, extremamente graves e consideradas uma emergência pela oftalmologia. “Quando cai um produto químico no olho, nós chamamos de emergência ocular, o que põe o paciente em risco de morte. É a bateria do carro que espirra, o alvejante que também espirra no olho da dona de casa, enfim, são inúmeros os produtos que podem provocar lesões oculares, irreversíveis”, disse.
Perigo no trabalho
O trabalho praticado em condições inadequadas, sem proteção ocular, também é considerado um problema sério tanto para trabalhadores rurais quanto para os urbanos. “Os corpos estranhos, produtos químicos que são espirrados, impõem um grande risco ao olho. Problemas com quem está escrevendo com uma lapiseira, vira, e bate com a ponta no rosto de um colega, também se constituem mais um risco. Você nunca acha que vai acontecer, mas acontece, com frequência”, relata.
No trânsito, use o cinto
O uso do cinto de segurança contribuiu muito para a diminuição dos acidentes oculares. Muitos, porém, ainda se esquecem de utilizá-lo. "Dirigir alcoolizado é outro problema grave. Mas estudos mostram que a maioria dos acidentes, com alcoolizados ou não, ocorre próximo à casa dos motoristas. Como estão chegando, a pessoas relaxam, tiram o cinto e batem em uma árvore do lado de casa, provocando traumas no rosto e no olho. Não se deve relaxar apenas por estar chegando em casa”, advertiu.
Por fim, a médica esclarece que o grande problema do trauma ocular é restaurar o olho, que tem uma estrutura perfeita. “Mas quando ocorre corte, para fazer com que as lentes intraoculares fiquem no foco é muito difícil. Por isso, na prevenção, nós identificamos os fatores e tentamos atuar de maneira que eles não aconteçam. Prevenir é fundamental”, lembra a especialista.
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