Secretaria Municipal da Saúde

Segunda-feira, 4 de Julho de 2016 | Horário: 12:39
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Médico cubano da UBS Figueira Grande, na Zona Sul, conta sua experiência no Brasil

Profissional faz parte do ‘Programa Mais Médicos’ e está no país há dois anos

Por Felipe Aires


Para conhecer um pouco mais sobre o trabalho realizado pelos profissionais do Programa Mais Médicos, conversamos com o médico cubano da saúde da família Yuri Nieto Ojeda, que trabalha na UBS Parque Figueira Grande, no Jardim São Luiz, na Zona Sul.


Ojeda chegou ao Brasil em 2014 e, antes da experiência brasileira, esteve na Venezuela realizando trabalho semelhante. Seu interesse no Brasil se deu porque, segundo ele, seria uma experiência enriquecedora em sua especialidade: a saúde da família. “Tenho enraizado em mim essa vontade de ajudar e acolher. No Brasil, aprendi uma nova maneira de lidar com os pacientes e também pude implantar, na unidade, alguns métodos que trouxe de Cuba. É um aprendizado mútuo, onde todos saem ganhando”, disse.


Para um médico cubano trabalhar no Programa Mais Médicos é preciso que ele tenha experiência internacional, faça um curso básico de português e passe por uma capacitação de um mês. Nessa capacitação, Ojeda conta que as aulas de português passam a ser intensivas, incluindo uma prova que, caso o profissional não atinja uma nota boa, será reprovado e impossibilitado de atuar no programa. “Fiquei um mês em Fortaleza [Ceará]. Vim com a 4ª turma, até então a maior, com 4 mil médicos. Infelizmente, não aproveitei aquela bela cidade, pois estudava dia e noite. Mas foi válido e aprendi demais”, lembra.


Superando as dificuldades


Ao recordar-se da chegada à UBS Parque Figueira Grande, o médico conta o cenário que encontrou. “A equipe era bem carente da figura do médico. Lembro que no início fiquei assustado com a quantidade de gente para atender e os poucos profissionais que tínhamos, mas sabia que se houvesse organização seria possível atender todos. Começamos nos organizando e sempre tive o apoio do meu gerente e toda a equipe. Hoje, posso dizer que temos um trabalho solidificado”.


Outro problema relatado por Ojeda foi a dificuldade para entender o português. “Apesar de toda capacitação que recebi e esforço pessoal para aprender bem a língua, ainda assim, o começo foi complicado. Hoje é engraçado lembrar que os pacientes e a equipe me ensinavam o nome de algumas coisas relacionadas à saúde, enquanto eu lhes explicava através de gestos (mímica). Outra situação curiosa era com relação aos remédios. A fórmula é universal, mas os nomes são diferentes. Por isso, alguns pacientes me falavam que tomavam remédios com nomes que eu nunca tinha visto, e aí tinha que olhar toda a posologia para entender do que se tratava. Hoje eu encaro com naturalidade e até acho engraçado”, disse.


Sobre as diferenças dos respectivos sistemas de saúde de Brasil e Cuba, Ojeda salienta que são semelhantes, mas com peculiaridades que fazem toda a diferença, e que o ideal é buscar mesclar. “No Brasil, nós temos os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), que realizam um trabalho corpo a corpo muito importante. Nossos agentes aqui da unidade são nota mil. Só tenho elogios a eles. Possuímos, também, liberdade para exercer a medicina. Isso permite com que eu me aprofunde no estudo do paciente. É preciso seguir todo o protocolo médico existente e isso serve no mundo todo. Em Cuba, a saúde funciona muito bem, por isso, busco trazer tudo que há de bom lá para cá e vice-versa”.


‘Adoro atender meus pacientes’


O tempo de Ojeda no Brasil está acabando. Ele tem apenas mais seis meses de programa. O cubano prefere não pensar nisso e se emociona ao falar sobre sua equipe e pacientes: “Honestamente, prefiro não pensar nisso. Outro dia a equipe tocou no assunto que faltavam seis meses para eu ir embora e a ficha foi caindo para todos nós. O clima ficou carregado de emoção e preferi não falar mais sobre isso. Vai ser difícil para todos, tenho certeza. Fui muito bem aceito pela comunidade e adoro atender meus pacientes. Minha chegada foi uma luz no final do túnel para a unidade. É duro pensar que, provavelmente, não verei nunca mais nenhuma dessas pessoas que marcaram minha vida e minha história”, finalizou.

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