Secretaria Municipal da Saúde

Terça-feira, 9 de Agosto de 2016 | Horário: 14:59
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Maternidade Cachoeirinha realiza cirurgia de alta complexidade inédita

Mulher de 40 anos com endometriose com infiltração intestinal foi submetida a laparoscopia

Por José Antônio Leite

 

O Hospital Municipal e Maternidade Escola de Vila Nova Cachoeirinha (HMEC) (zona Norte) há anos faz cirurgias de alta complexidade. Em julho, o hospital elevou ainda mais seu padrão de excelência ao realizar, pela primeira vez, uma laparoscopia de alta complexidade em um caso de endometriose com infiltração intestinal. A cirurgia foi possibilitada pela utilização de equipamentos modernos, recentemente adquiridos pelo hospital, e pela capacitação de seus profissionais em cirurgias de alta complexidade.

A endometriose é uma doença crônica, provocada pela migração do tecido que reveste a cavidade uterina, o endométrio, para outras partes do corpo, principalmente para o abdome, além de ovário, ligamentos uterinos, bexiga e intestino. Atinge mulheres a partir da primeira menstruação e pode se estender até a última.

É provável que você tenha uma amiga ou parente que esteja ou já tenha passado pelo problema. Hoje, segundo a Associação Brasileira de Endometriose, a doença afeta cerca de seis milhões de brasileiras. Entre 10% a 15% delas em idade reprodutiva (13 a 45 anos) podem desenvolvê-la e 30% tem chances de ficarem estéreis.

Sintomas

Os principais sintomas da endometriose são dor e infertilidade. Algumas mulheres sofrem dores incapacitantes. Elas podem se manifestar como cólica menstrual intensa, dor pélvica/abdominal à relação sexual, a chamada “dor no intestino” na época das menstruações ou, ainda, uma mistura desses sintomas.

A laparoscopia possibilita tanto o diagnóstico como o tratamento da paciente. O procedimento é realizado por meio de pequenas incisões no abdome, e a introdução de instrumentos endoscópicos para a visualização, e, se for o caso, para a retirada das lesões. A laparoscopia também permite a coleta de material para avaliação histológica e o tratamento cirúrgico das lesões.

O ideal é que seja realizada após o término da fase de avaliação, por meio dos métodos de imagem. Com eles, permite-se que o diagnóstico e o tratamento possam ser feitos de maneira integrada – e evitando, assim, múltiplos procedimentos. Uma de suas vantagens é que a cirurgia envolve um menor tempo de hospitalização, anestesia e recuperação, além de permitir uma melhor visualização dos focos da doença.

Para falar sobre a cirurgia realizada na Maternidade Cachoeirinha, conversamos com o médico Geraldo Maurício Jerônimo de Nadai, gerente assistencial do hospital.

Pergunta: O que é uma endometriose com infiltração intestinal?

Nadai – A endometriose é uma doença crônica, inflamatória, estrogênio-dependente, que ocorre durante o período reprodutivo da vida da mulher. Caracteriza-se pela presença de tecido endometrial, glândula e/ou estroma, fora da cavidade uterina. Pode ocorrer de a endometriose infiltrar e lesionar o segmento intestinal. Em alguns casos pode comprometer ovários e peritônio.

P – Quais problemas podem ser ocasionados com esse tipo de endometriose?

N - A paciente tem muita dor, pode ter infertilidade e, quando atinge o intestino, pode conduzir a uma obstrução intestinal.

P – Quais fatores possibilitaram ao hospital realizar essa cirurgia?

N - Até julho deste ano, estávamos operando casos de endometriose profunda, mas que se limitavam ao aparelho reprodutor. A abordagem do intestino é um pouco mais complexa, pelos riscos que podem acarretar e pela necessidade de instrumentos especiais. E também pela necessidade de ter uma parceria com um proctologista com experiência laparoscópica. Passa a ser uma cirurgia proctológica. Houve uma conjunção de fatores que possibilitaram essa cirurgia. Hoje, o hospital conta com um grupo que realiza cirurgia proctológica com grande experiência. Também conseguimos investimento da Prefeitura em equipamentos.

P - Que tipo de equipamentos são essenciais para um cirurgia como essa?

N – Além do material básico, como monitores que propiciem imagens de qualidade, há a necessidade de trabalharmos com grampeadores especiais, que levam a uma cirurgia mais rápida e mais seguras.

P
- Como funcionam esses grampeadores?

N – É um equipamento descartável, introduzido pelo reto em direção à lesão localizada no intestino. A lesão é marcada e isolada. Ao chegar a ela, o grampeador a retira e fecha o local onde havia a lesão.

P - Quanto tempo leva uma cirurgia como essa?

N – Hoje, conseguimos realizar essa cirurgia entre duas horas e meia a três horas. Antes, levávamos cerca de cinco horas.

P - Mas, antes da chegada desses equipamentos e da capacitação dos profissionais envolvidos, esse tipo de cirurgia não era realizada aqui. Os pacientes tinham de ser encaminhados a outros locais.

N – Sim. Poucos hospitais – públicos ou privados – na capital estão em condições de realizar esse procedimento. Além do HMEC, a Santa Casa, o Hospital Pérola Byington e o Hospital São Paulo. Entretanto, a fila de espera para este procedimento é sempre demorada.

P - Quais outras vantagens para a mulher que faz essa cirurgia aqui na Maternidade Cachoeirinha?

N – A endometriose que atinge o intestino em escava retro uterina é muito difícil, pois está numa região de difícil acesso. Com a laparoscopia, por uma questão de anatomia, você consegue abordar e chegar à região – há um campo visual muito melhor. Por via laparoscópica – isso para qualquer cirurgias, ginecológicas ou não –, você deixa menos sequelas do que em uma cirurgia aberta. Ela é muito menos agressiva. Você, além disso, preserva mais a paciente. Por exemplo, num caso que pode ocorrer com uma endometriose: uma lesão, atingindo o ovário, você consegue delimitar até onde vai a lesão. Assim, pode-se isolar a lesão e preservar o ovário sadio.

P – Em quanto tempo a paciente recebe alta?

N - A recuperação é muito mais rápida. Conseguimos dar alta após um dia. Em uma semana ou dez dias a pessoa retoma suas atividades normais. Assim, também há o ganho em termos de leito hospitalar.

P – O medo da infertilidade é muito comum entre as mulheres com endometriose. Essa cirurgia preserva nelas a capacidade de engravidar?

N – Sim, ela preserva muito mais a fertilidade.

P - Qual é o perfil da pessoa que realizou a cirurgia aqui no Hospital cachoeirinha?

N – Ela tem cerca de 40 anos e sentia muita dor, tinha uma qualidade péssima e vida. Esperou muito tempo – inclusive na rede privada - para fazer a cirurgia.

P - Qual o caminho para uma munícipe que necessite realizar uma cirurgia como essa?

N – Desde 2012, temos um serviço específico para endometriose. A UBS avalia a usuária. Caso haja dúvidas sobre a necessidade da cirurgia, ela é encaminhada ao núcleo de Endometriose do HMEC. Há cerca de três anos fazemos testes especiais para detectar endometriose e a necessidade de cirurgia. Caso seja necessário, há agendamento da cirurgia.

P - A perspectiva do hospital é fazer quantas cirurgias como essa nos próximos meses?

N – Temos a perspectiva de realizar entre duas e três cirurgias como esta por mês.

P - Qual a perspectiva de número de cirurgias como esta para 2016?

N – Potencialmente, cerca de 30 casos.

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