Secretaria Municipal da Saúde
Cuidados paliativos: total atenção ao ser humano
Dar alívio à dor, ao sofrimento de um paciente cuja vida pode estar por um fio, ameaçada por uma doença grave; ter compaixão não apenas por ele, mas também por seus parentes. Esses são alguns dos princípios dos Cuidados Paliativos. Trata-se de uma assistência que cuida integralmente do ser humano – abrangendo aspectos físicos, espirituais, sociais e jurídicos – para garantir uma vida de qualidade até que ela chegue ao fim. Por todos esses múltiplos aspectos, tal assistência exige a atuação de uma equipe multidisciplinar. Além disso, difere do tratamento curativo não por ser passivo, mas pelo seu foco: a pessoa – e não a doença da qual ela é vítima. Na capital, há 12 anos o Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM) oferece à população a Hospedaria de Cuidados Paliativos. O HPSM é voltado exclusivamente a servidores (e dependentes) municipais.
Apesar de distintas, em se tratando de doenças potencialmente fatais, o ideal é que essas duas abordagens terapêuticas sejam utilizadas em conjunto para assegurar o bem-estar do paciente desde a fase inicial da doença. Porém, quando a enfermidade não responde mais ao tratamento curativo, são aplicados, exclusivamente, os cuidados paliativos.
A medicina paliativa é ativa. Além da assistência humanizada, exige técnica e habilidade para diagnosticar e prognosticar (prever o desenvolvimento) a respeito das doenças. Assim, o médico saberá lidar com mudanças no quadro clínico dos pacientes e irá prevenir sintomas e complicações, mas sempre com delicadeza, sem utilizar procedimentos agressivos.
Para fornecer suporte às pessoas que se encontram em fase terminal – possuem apenas meses ou semanas de vida -, foi criada, em junho de 2004, a Hospedaria de Cuidados Paliativos do HSPM. Localizada no bairro da Aclimação, na região central da cidade, trata-se de uma casa espaçosa, aconchegante, com jardim – em nada remete ao ambiente mórbido de alguns hospitais – e dez leitos que, no total, já abrigou 585 pacientes.
Lá, a equipe multiprofissional é integrada por psicólogos, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistente social e assistente espiritual. A atuação de voluntários e dos próprios familiares dos hóspedes também fortalece o potencial do tratamento de seus entes queridos. No dia a dia, existem atividades programadas como leituras de histórias, massagens e trabalhos manuais. Além disso, nenhuma data comemorativa passa em branco: aniversários são sempre sinônimos de festa.
Boa comunicação
A boa comunicação entre profissionais, pacientes e familiares é um ponto fundamental para atingir os focos dos cuidados paliativos: a qualidade de vida e a dignidade da pessoa vítima de doença crônica em estágio avançado até os seus últimos dias, a partir do alívio da dor e do sofrimento. “Eu brinco que nós temos duas orelhas e uma boca para ouvir mais do que falar. Cada um dos integrantes da equipe tem que estar preparado para ouvir, pois o paciente é o único capaz de dizer o que o faz sofrer e ele irá desabafar com quem mais se identifica”, explica Dalva Yukie Matsumoto, médica oncologista e coordenadora da Hospedaria do HSPM.
Ela frisa também a necessidade de “ouvir com os olhos”, referindo-se à comunicação corporal, muitas vezes mais eloquente que a oral. “Às vezes, o paciente está cabisbaixo, estático. O profissional deve estar atento e ter sensibilidade para lidar com esses sinais”, afirma Dalva.
Outro princípio norteador da medicina paliativa é a ortotanásia: a morte correta. Na prática, significa deixar a morte ocorrer naturalmente, sem tentar prolongar o processo de morrer através do uso de quaisquer instrumentos disponíveis para esse fim, tendo em vista que tal conduta só implicaria no maior sofrimento do paciente – isso é justamente o que se tenta evitar.
Estender esse modo natural de lidar com o falecimento para o enfermo e seus familiares exige uma boa assistência psicológica e espiritual, pois a ideia de perder a vida ou uma pessoa amada é sempre dolorosa e, para muitos, inaceitável. A Hospedaria do HSPM fornece assistência familiar pós-morte. Uma semana após o óbito, a equipe entra em contato com a família para averiguar seu estado e oferecer auxílio em todos os âmbitos necessários. Nessa situação, é preciso lidar com questões jurídicas relativas ao funeral, à tutela e à previdência sobre as quais os parentes podem não ter conhecimento.
Sobrevida
Estudos internacionais comprovam que além de trazer conforto, os cuidados paliativos aumentam a sobrevida de pacientes com câncer – quando aplicados desde seu diagnóstico. Um teste clínico realizado com 207 pacientes em rês centros de pesquisa dos Estados Unidos, por iniciativa do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, demonstrou que a taxa de sobrevida de pacientes amparados pelo tratamento paliativo imediatamente era de 63%. Naqueles que esperaram três meses para receber o mesmo tipo de cuidado, esse número caiu para 48%, ou seja, a medida de sobrevida é 15% mais alta para quem adere à assistência paliativa.
História
Conforme alguns historiadores, já na antiguidade (4000 a.C. a 3500 a.C) teve início a filosofia que baseou os princípios paliativos. Na Idade Média (século 5 ao 15 d.C.), durante as Cruzadas, hospices – que inspiraram hospedarias como a do HSPM – eram comuns em monastérios, locais que abrigavam doentes, pobres, órfãos e mulheres em trabalho de parto.
A médica inglesa Cicely Saunders fundou o St. Christopher´s Hospice, o primeiro serviço a oferecer cuidado integral ao paciente, desde o controle de sintomas, alívio da dor e do sofrimento psicológico. Até hoje, o local é reconhecido como um dos principais serviços no mundo em Cuidados Paliativos e Medicina Paliativa.
No Brasil, os cuidados paliativos são reconhecidos apenas como uma área de atuação e não como uma especialidade médica. Entretanto, os Profissionais da área conquistaram muitos avanços nesse âmbito. O Prof. Marco Túlio de Assis Figueiredo abriu os primeiros cursos e atendimentos com filosofia paliativista na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP/EPM. Em 2004, foi fundado o Instituto Paliar, uma organização de ensino voltada para a capacitação em assistência paliativa que oferece inúmeros cursos de pós-graduação para os profissionais de saúde que almejam um aprofundamento na área.
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