Secretaria Municipal da Saúde

Terça-feira, 27 de Setembro de 2016 | Horário: 15:02
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Primavera traz flores e abelhas a São Paulo

‘Enxames viajantes’ podem buscar novos lares em imóveis

Chegou a Primavera. Setembro é mês de flores, novos frutos e todas as mudanças que o clima e as canções nos ensinaram a perceber. Mas uma das novidades da estação pouca gente conhece: os enxames viajantes. Trata-se de um fenômeno natural, que leva colmeias de abelhas e vespas a se expandir e procurar outros locais para se estabelecer. A capital de São Paulo é um de seus destinos. E sua casa pode estar no roteiro. Caso isso aconteça, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de São Paulo, órgão ligado à Coordenação de Vigilância em Saúde (COVISA), aconselha a manter a calma. Não tente destruir o enxame, já que eles não tendem a ser agressivos antes de formarem o ninho - a não que sejam molestados. Para resolver o problema, o órgão pode ser acionado pelo telefone 156 ou pelo site da prefeitura (http://sac.prefeitura.sp.gov.br/) para que equipes das Supervisões de Vigilância em Saúde (SUVIS) possam realizar o atendimento.

Os chamados enxames viajantes ocorrem com mais frequência entre os meses de setembro e fevereiro, quando as temperaturas aumentam. São motivados pelo aumento da população de insetos, fator que pode resultar na eventual escassez de alimento ou espaço na colmeia. É o sinal para que a abelha-rainha saia do ninho com metade das operárias e alguns zangões. Antes disso, uma nova abelha-rainha é produzida para comandar os que permaneceram. A colônia antiga segue, então, em busca de um novo local para se instalar. “Elas [abelhas] podem percorrer grandes distâncias para encontrar um novo habitat”, afirma Rafael Salim Nassar, biólogo CCZ-SP.

Segundo ele, no Brasil, as abelhas que oferecem maior risco de acidentes são as Apis Mellifera, espécie exótica conhecida como abelha africanizada, oriunda da hibridização de abelhas europeias e africanas. Durante sua jornada em busca de um lar, o enxame pode parar algumas vezes para descansar, podendo permanecer por mais de 24 horas no local. Caso o lugar não seja apropriado para instalação do ninho, as abelhas continuam a se deslocar.

Faça sua parte

Para as abelhas Apis mellifera, os locais prediletos para formarem os ninhos são os ambientes fechados, tais como frestas que dão acesso ao interior de muros, postes de energia elétrica, forros de casas, inservíveis jogados em terrenos (sofás, caixas, etc) ou árvores. É responsabilidade dos munícipes não permitir o acesso, através da manutenção de sua propriedade em condições sanitárias que dificultem a presença de animais sinantrópicos que possam comprometer a preservação da saúde pública (Art. 19, § 2º do Código Sanitário do Município de São Paulo de 2004). Sendo assim, não deixe de fiscalizar seu imóvel, eliminando objetos inservíveis, vedando frestas em paredes e telando as saídas de tubulações.

Segundo Nassar, as abelhas e vespas se defendem apenas quando são molestadas ou encurraladas. “Caso a pessoa perceba a presença em algum lugar da sua casa de um enxame viajante, local passível de isolamento, deva isolar a área e esperar por até 48 horas. Caso as abelhas não abandonem o local – pois a parada pode ser apenas uma escala para outro destino -, o morador não deve tentar mata-las. A Prefeitura deve ser chamada para tentar fazer o controle”, disse o biólogo. A zoonoses realiza apenas o controle de ninhos instalados, uma vez que as abelhas podem se afastar até 6 quilômetros do ninho para buscar alimento (ficam apenas voando). O controle só é efetivo quando realizado no ninho. Portanto, antes de acionar a Prefeitura, identifique o local de instalação do ninho.

Nassar informa que, entre os locais que mais procuram o CZZ-SP para o controle de abelhas e vespas estão as regiões das SUVIS da Lapa/Pinheiros (zona Oeste), Vila Mariana/Jabaquara, Mooca/Aricanduva (zona Sudeste), Santo Amaro (zona Sul) e Pirituba (zona Norte). Mensalmente, a zoonoses atende, em média, 922 chamadas solicitando retirada de enxames e ninhos instalados de abelhas ou de vespas.

Mas saiba que nem todas as abelhas e vespas são peçonhentas (capacidade de inocular veneno). Algumas espécies não oferecem risco à saúde, mas todas são importantes para o meio ambiente, pois são as principais responsáveis pela polinização, processo que garante a produção de frutos, sementes e a reprodução de diversas plantas. Por isso, preservá-las é um ato de consciência ecológica.

Uma longa viagem

A história das abelhas Apis melliferas no Brasil começa no início do século 19, quando os imigrantes trouxeram os primeiro ninhos da Europa. A Apis mellifera européia, porém, não estava acostumada ao clima tropical, o que resultou em uma produção reduzida de mel.

“Na década de 50, o Governo Federal solicitou à Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro (SP) que encontrasse uma saída para a situação da baixa produção de mel. O professor Warwick Estevam Kerr, geneticista da universidade, então, recomendou importar Apis mellifera, que embora fossem mais agressivas produziam mais mel”, informou o biólogo.

Em meados da década de 50 do século 20, algumas das rainhas africanas foram trazidas para o Brasil. Objetivo: realizar cruzamentos entre europeias e africanas. Assim, se chegaria a indivíduos menos agressivos e mais produtivos. O que os cientistas não esperavam é que algumas abelhas africanas escapassem do apiário de Rio Claro. O resultado foi que tais abelhas se espelharam pelo território nacional. Em dez anos, elas avançaram sobre a América Central e chegaram aos Estados Unidos. “Por isso, o que temos no Brasil, não são abelhas europeias nem africanas, mas abelhas africanizadas”, disse o biólogo.

 

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