Prefeitura de São Paulo

Por Kalleb Barboza

No CAPS Adulto III Parelheiros a iniciativa de criar o “Fábrica de Aromas” vem desde 2015 mudando para melhor a vida das participantes do projeto. Nele, quatro usuárias da unidade se especializaram na produção e comercialização de sabonetes artesanais, com a proposta de resgatar temas campestres da região de Parelheiros e utilizar essências florais e embalagens rústicas para acondicionar o produto.

A ideia é transformar materiais simples, como glicerina, extrato glicólico, corante, essência e laurel, em lindos sabonetes feitos com produtos naturais. As fragrâncias mais pedidas pelos clientes são a de aveia e a de maracujá com chia, que é esfoliante. Já o produto mais ousado é a mistura de cereja com avelã – que também tem obtido grande aceitação do público.

As usuárias se reúnem no CAPS III Parelheiros quatro vezes por semana, sempre as segundas, terças, quartas e sextas-feiras, pois são responsáveis por todas as etapas do trabalho, que envolve desde o planejamento, até a compra de matéria-prima, produção, venda e participação nas reuniões da rede de economia solidária. A comercialização acontece nas feiras de Economia Solidária, fóruns de saúde e no próprio CAPS.

Atualmente o grupo conta com quatro usuárias, que dividem os lucros da venda dos produtos entre si. Segundo Luciana Pereira Augusto, gerente do CAPS há quase cinco anos, desde que o ‘Fábrica’ começou, a vida das usuárias mudou muito. “Para algumas delas ter o dinheiro para poder pagar a conta de luz do mês, por exemplo, já era um grande feito, parecia até que era um grande salário”.

Autoestima nas relações sociais

O Fábrica de Aromas já fez e continua fazendo bastante diferença na saúde e empoderamento das suas integrantes, seja recolocando- as no mercado de trabalho, seja melhorando sua vida social e a interação com as pessoas, como afirma Luciana: “Algumas delas chegaram a dizer, às vezes com palavras muito fortes: ‘quando cheguei aqui, eu não era nada’; ‘não me sentia gente; depois que comecei a participar, eu me sinto alguém de novo”.

Hoje, os ganhos obtidos com esse trabalho podem ser vistos, claramente, na maior autonomia, iniciativa, independência financeira e protagonismo de cada usuária, pois criou um lugar de pertencimento e de valor social, que tem viabilizado a inserção dessas artesãs do sabonete na sociedade.

A usuária Andréia Siqueira, que está há mais tempo no grupo, conta como tudo melhorou em sua vida desde que entrou no Fábrica de Aromas há quase um ano:“Esse trabalho funciona também como uma terapia, porque faz a gente ocupar a mente, a acreditar em nós mesmas, produzir e criar. Pessoas com problemas emocionais e mentais são capazes de produzir, de serem vendedoras”, disse ela referindo-se ao fato de também estar trabalhando como revendedora de cosméticos.

Sua colega, a usuária Sandra Repozatti, nota mudanças em si mesma, assim como seus vizinhos e familiares: “A autoestima aumenta, a gente começa a se sentir útil fazendo o sabonete e os meus familiares também ficam felizes, pois estou produzindo alguma coisa, não estou em crise, estou trabalhando em vez de dar trabalho. Minha relação com a sociedade melhorou muito, todo mundo me conhecia como a Sandra que tem problemas mentais, mas agora as pessoas me respeitam mais e notam uma grande diferença na minha vida”.

Cristiane de Oliveira, assistente social do CAPS Parelheiros, que também integra a equipe do ‘Fábrica’, conta o caso de uma paciente que quando fazia parte do projeto de geração de renda, produzia em sua própria casa e vendia na UBS Vargem Grande. Ela não está mais no grupo, mas continua produzindo. Assim como a Andréia que expandiu os horizontes e vende panos de prato e é revendedora de cosméticos.

Dificuldades e potencialidades

Segundo a terapeuta ocupacional Giovana Crispim, funcionária do CAPS que acompanha a produção do grupo, o produto tem validade de seis meses a partir da data de fabricação.

Tanto o prazo de validade – que impede o grupo de acumular sabonetes – quanto o fluxo de caixa insuficiente para aumentar a produção (que poderia levar à expansão do projeto) acabam impedindo o empreendimento de crescer, alçar novos voos. “Teve um congresso voltado para a saúde mental, em que as usuárias tiveram a oportunidade de participar vendendo seus produtos. No primeiro dia, elas venderam tudo, mas como não tinham mais produtos, não puderam voltar para vender no dia seguinte. Não havia estoque porque elas não tinham dinheiro”, analisa Luciana, que acompanha a formação do grupo desde o início.

Outro ponto importante para a expansão do projeto Fábrica de Aromas são as feiras solidárias que permitem a venda dos produtos produzidos e que não dependem do CAPS para acontecerem. “A organização das feiras se dá em outra instância. O Fábrica só não cresce, porque a gente precisa ampliar os espaços de venda. Se o grupo vende, consegue comprar matéria-prima. Se não vende, não compra”, conta a gerente do CAPS, que conclui: “se tivéssemos um patrocínio seria fantástico, mas a gente também depende dos espaços de venda”.

O papel do CAPS

O CAPS Adulto III Parelheiros é um serviço territorial e público que oferece cuidados em saúde mental para pessoas com transtornos mentais graves e persistentes.

Caracteriza-se como um serviço especializado que contempla as ações de atendimentos individuais (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros) e em grupo ou oficinas terapêuticas e visitas domiciliares, de acordo com as necessidades dos usuários e seus familiares.

Além disso, o CAPS compõe uma rede de cuidados e inclusão social, articulando outros equipamentos da saúde, de outras secretarias e recursos comunitários existentes no território.

Serviço

CAPS Adulto III Parelheiros

Rua Terezinha do Prado de Oliveira, nº 100 – Jardim Novo Parelheiros.