Secretaria Municipal da Saúde
Saúde alerta para os perigos das noites mal dormidas
Por Maria Lúcia Nascimento
A Semana do Sono serve para alertar a população sobre os riscos que as noites mal dormidas podem trazer à saúde. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 45% da população mundial sofre com algum tipo de distúrbio do sono. A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo conta em sua rede com profissionais que auxiliam no diagnóstico e tratamento desse problema. Vale lembrar que a Unidade Básica de Saúde (UBS) é a porta de entrada ao Sistema Único de Saúde (SUS) municipal. Para saber qual a UBS mais próxima da sua casa, acesse o Busca Saúde.
“É durante o sono que as vivências são armazenadas em nossa memória, os hormônios se autorregulam e as células se regeneram. A isso denominamos ‘busca contínua do equilíbrio homeostático’ (estabilidade dinâmica ou equilíbrio das funções do organismo e de suas reações químicas)”, explica o psiquiatra da área técnica de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da SMS, Elko Perissinotti.
O especialista destaca ainda que uma boa noite de sono promove melhora na memória, ajuda a equilibrar o cortisol (glândulas suprarrenais) e vários hormônios importantes, como o do crescimento para a criança. “Dormir bem traz melhor disposição e energia para as atividades da vida diária", acrescenta Perissinotti.
Sem dúvida, dormir é vital para a saúde. O sono, contudo, é um exemplo de função fisiológica cerebral/mental por vezes prejudicada, o que provoca a incapacidade de repousar adequadamente ou insônia, que pode se apresentar sob três tipos:
1- Insônia inicial ou dificuldade de “desligar”;
2- Intermediária (acordar várias vezes);
3- Final (despertar muito precoce).
Para implementar uma rotina saudável do sono, recomenda-se não manter o cérebro em intensa atividade após as 18h, não ingerir alimentos/bebidas excitantes (café, refrigerantes, energéticos), não discutir graves problemas familiares durante o jantar ou que interfiram nas atividades do Sistema Nervoso Central e/ou no Centro das Emoções (sistema límbico) e evitar bebidas alcoólicas que podem provocar falsa-boa-qualidade do sono. “A acupuntura, o relaxamento neuromuscular (com recursos da ioga ou meditação) e a massagem (tipo especializado para cada caso) são mais recomendáveis para se obter uma noite bem dormida”, indica o psiquiatra.
Evolução do sono
O sono evolui em fases ou ciclos, de leves a profundos. Há o sono mais lento, há o sono REM (sigla em inglês para Rapid Eye Movement, ou “movimento rápido dos olhos”, na tradução) - que é dividido em três fases ou estágios, de acordo com a progressão da sua profundidade - , e há o sono não REM. O sono REM se caracteriza pela atividade cerebral mais rápida. É a fase em que ocorrem os sonhos. "Esses estágios se repetem, em média, quatro vezes por noite de sono", destaca o especialista.
Com os avanços recentes de estudos/pesquisas sobre o sono, é sabido que como evolui em cerca de quatro ciclos completos por noite, cada um com sua função específica, recomenda-se não dormir menos de oito horas por noite. “Em caso de extrema impossibilidade, nunca dormir, rotineiramente, menos de seis horas por noite, uma vez que teremos menos poder de concentração focal diurna e os reflexos não serão tão ágeis (por exemplo, dirigir veículos), aí surgem os nocivos abusos de cafeína e energéticos. O rendimento escolar e/ou no trabalho acaba sendo frequentemente inferior”, alerta o médico.
Perissinotti também adverte quem, por conta de distúrbios do sono, pode causar danos a si próprio ou a outrem como cirurgiões e caminhoneiros, por exemplo. São profissionais que vivem constantemente sob forte ameaça de hipertensão, infarto, derrame, tiques nervosos psicogênicos, bruxismo (ranger de dentes) diurno e/ou noturno. Com o passar dos anos, as noites mal dormidas podem gerar outras consequências: mau humor frequente, comportamento agressivo, facilidade para o abuso de todas as drogas lícitas ou ilícitas, diminuição do grau de empatia e compaixão, comprometimento da atenção dirigida/voluntária e espontânea/involuntária. "Grosso modo, não seria recomendável tentar ‘ter um banco de horas de sono’ para recuperar o ‘sono perdido’, dormindo horas a mais, uma ou duas vezes por semana, o que é feito por muitas pessoas. O ritmo/ciclo diário está sendo constantemente rompido", avisa.
O médico recomenda que todos devem iniciar por um bom exame de saúde geral, seguido por um de saúde profissional e, em seguida, saúde do relacionamento familiar. "Lembrar-se de que nada adiantam as atitudes saudáveis, se há um problema de saúde denominado apneia do sono (detectável pela polissonografia), mais comum nos ‘roncadores contumazes’. Diagnosticada a doença e tratada, a melhora relatada pelo paciente é altamente satisfatória", destaca.
Colchão e travesseiros
Sabe-se, hoje, que os tipos de colchões e travesseiros devem ser ergonômicos, adequados ao peso da pessoa, à situação anatômica da coluna cervical (relação colchão-travesseiro) e ao restante da coluna.
Sintomas e distúrbios do sono
Segundo o médico, alguns sintomas que indicam noites mal dormidas são: sonolência diurna, dificuldades em manter o foco atencional, perda ou diminuição da força física, preguiça, certa impulsividade e irritabilidade. Distúrbios do sono como roncos, pesadelos constantes, síndrome das pernas inquietas (que requer cautela quando se usa antidepressivos), hipersonia (excesso de sono), narcolepsia (adormecer abruptamente durante o dia), terror noturno (geralmente gritos), sonambulismo e sonilóquio (falar durante o sono) também podem, inicialmente, ser avaliados por anamnese, pelo clínico geral, em UBS.
De acordo com o resultado da avaliação, ele poderá solicitar exames e, dependendo da situação, referenciar para algum especialista como neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo, otorrinolaringologista, odontólogo, psiquiatra e, atualmente, especialista em medicina do sono. “As causas geralmente são multifatoriais: fatores genéticos, biológicos e ambientais. Ao se observar um ou dois sinais de sono disfuncional, como os relatados acima, consulte um especialista”, ressalta o psiquiatra.