Secretaria Municipal da Saúde
Precisamos perder a mania de não levar o TOC tão a sério
Terapeuta Patrícia Malengo, no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Adulto III Paraisópolis
Por Renan Cacioli
De acordo com uma das definições da palavra “mania”, trata-se de “hábito estranho, incomum e geralmente repetitivo”. No dia a dia, costumamos associá-la a algo engraçado, leve, que não prejudica ninguém. Porém, quando passa a comprometer a rotina da pessoa a ponto de incapacitá-la, a tal da mania pode receber um nome mais complexo: Transtorno Obsessivo-Compulsivo, o popular TOC.
No entanto, mesmo quando se fala em TOC, o imaginário popular geralmente remete a um costume qualquer, um mal menor. “A palavra mania é muito perigosa, ela pode incidir em outros diagnósticos. O TOC causa sofrimento psíquico, está habituado a um ritual que, se não for efetuado, provoca sensação de algo negativo, trágico. Esse ritual pode ser um comportamento ou pensamento obsessivo”, explica Patrícia de Camargo e Melo Malengo, terapeuta ocupacional especializada em psicopatologia.
Ou seja, dando um exemplo prático: se você gosta da casa sempre em ordem, organizada, e não pode ver nada fora do lugar, isto é perfeitamente normal. Agora, caso passe um pano pelo mesmo lugar repetidas vezes e, ainda assim, na sua mente, aquele local continua sujo, é sinal de que está na hora de procurar ajuda.
“A característica principal é que esse pensamento ou comportamento vai causar uma disfuncionalidade. Não tem a ver com deixar quarto organizado ou com você funcionar de uma maneira mais rígida. O TOC é excesso”, diz a profissional.
Segundo o psiquiatra Edmundo Clairefont Dias Maia, assessor de Saúde Mental da Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) Norte, estudos epidemiológicos atuais apontam para a prevalência do TOC em torno de 2,3% da população em geral. Apesar de poder surgir na infância, o transtorno frequentemente só é diagnosticado mais tardiamente, em razão do desconhecimento dos sintomas pelos familiares e mesmo pelos clínicos generalistas.
“Fatores educacionais, como ênfase na disciplina e nos deveres a serem cumpridos, podem reforçar a tendência ao exagero da responsabilidade e da culpa, aspectos bastante exagerados em paciente com TOC ou quadros similares”, afirma o psiquiatra.
Como procurar ajuda?
A rede pública de saúde em São Paulo oferece tratamento a portadores desse distúrbio em diferentes graus. A porta aberta é o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Dentro dele, há tratamento medicamentoso e acompanhamento multidisciplinar. O objetivo é diminuir o sofrimento psíquico, favorecer a compreensão do quadro que acometeu essa pessoa e ajudá-la a se instrumentalizar para lidar com as características do transtorno, ou seja, entender por que faz isso e como pode fazer diferente.
Quando o quadro é mais ameno, a manutenção do caso pode acontecer nas próprias Unidades Básicas de Saúde (UBS), com acompanhamento clínico que pode ser compartilhado com um psiquiatra do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).
O TOC tem cura?
“Não é a maior incidência, mas existem casos leves em determinadas faixas etárias em que você tem o desaparecimento dos sintomas. Mas, na grande maioria, o que acontece é o controle da doença”, afirma a terapeuta Patrícia de Camargo.
É comum, também, a associação deste transtorno com outras doenças, como a depressão (66%); fobia simples (22%); fobia social (18%); transtornos do comportamento alimentar (17%); dependência de álcool e drogas (14%); transtorno do pânico (12%); Síndrome de Tourette (doenças dos tiques motores e vocais) (7%).
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