Secretaria Municipal da Saúde
Saúde respiratória nunca precisou de tantos cuidados como agora
Por Maria Lúcia Nascimento
Com a pandemia por coronavírus, ainda que a maioria dos infectados apresente quadros leves ou assintomáticos, pacientes com doenças respiratórias crônicas estão entre os mais vulneráveis à covid-19. Somam-se a eles os portadores de outras doenças crônicas, como hipertensão e diabetes e os que sofrem com o tabagismo.
De acordo com a pneumologista Vera Costa Brito, do Ambulatório de Especialidades (AE) Alto da Boa Vista, alterações no metabolismo de doenças crônicas, como hipertensão arterial, diabetes ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), podem desencadear uma série de eventos bioquímicos que levam a um aumento da expressão do gene ACE-2, responsável por codificar uma proteína a qual o vírus se conecta para infectar as células pulmonares.
“Foi um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP), com a hipótese que o aumento na expressão do ACE-2 e outros genes facilitadores de infecção faz com que esses pacientes tenham uma quantidade maior de células afetadas pelo vírus SARS_CoV-2 e consequentemente desenvolvam um quadro mais severo da doença", explica especialista. Para os doentes crônicos, segundo ela, é fundamental manter o tratamento de base já em uso e aumentar os cuidados preventivos à infecção.
Parar de fumar, tomar vacina contra a gripe, isolamento social tudo ajuda a evitar a doença, que pode ser grave para essas pessoas.
DPOC é pouco diagnosticada e muito letal
O surgimento do novo coronavírus aumentou também a necessidade de manter o tratamento das principais doenças pulmonares em atenção. "A pneumonia é a mais frequente dessas doenças, também a tuberculose. Porém, as mais prevalentes são a asma e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)", explica a pneumologista do Hospital Dia Campo Limpo, Denise Eri Onodera Vieira.
A DPOC é uma das doenças que mais vem chamando a atenção dos especialistas no Brasil neste momento de pandemia, pois envolve dois problemas no pulmão: enfisema pulmonar e bronquite crônica.
O enfisema pulmonar é caracterizado por destruição dos alvéolos, estruturas que realizam as trocas gasosas, e das vias aéreas, causando uma limitação na passagem de ar, perda da elasticidade dos pulmões e a diminuição da realização das trocas gasosas.
Já a bronquite crônica é uma resposta inflamatória exagerada e anormal das vias aéreas às partículas inaladas de forma corriqueira e persistente. Em casos mais graves, leva à perda de peso e redução da massa muscular. “O quadro é crônico e tende a ser progressivo e, muitas vezes, evolui para incapacidade funcional respiratória", esclarece a médica.
O baixo índice de diagnóstico e o grande número de pessoas afetadas resultam em alta letalidade. "A DPOC atinge cerca de 14,9% da população acima dos 40 anos. São cerca de 7 milhões em todo o país, geralmente tabagistas. Essa é a quarta causa de morte no mundo, tem grande impacto social e econômico, cerca de 50% dos pacientes são diagnosticados quando os sintomas já se encontram em estágio moderado ou grave. Em São Paulo, 7 em cada 10 pessoas acometidas não são diagnosticadas, cerca de 15% dos que já fumaram desenvolvem a doença. São 40.000 mortes anuais em todo o país, conforme a Saúde municipal.
Causas e sintomas
Segundo a pneumologista da SMS, Denise Eri Onodera Vieira , aproximadamente 80% dos casos de DPOC são decorrentes da fumaça do tabaco, e em baixa escala por material particulado inalatório e gases irritantes no ambiente ocupacional, como asbesto, partículas de carvão, sílica, cobre, entre outros. "Uma causa a se considerar também é a poluição ambiental e contato com fogão a lenha. A limitação ao fluxo de ar causada pelo enfisema leva a dificuldade para respirar (dispnéia), inicialmente aos grandes esforços e, com o avançar da doença, evolui para dispnéia aos mínimos esforços", esclarece a especialista.
Sintomas comuns são tosse, expectoração crônica e chiado no peito (broncoespasmo), além da piora da falta de ar, associada a piora no aspecto da secreção e tosse e/ou febre.
Prevenção, tratamento em dia e isolamento social para preservar vidas
O diagnóstico da DPOC é feito pela função pulmonar, procedimento no momento suspenso em todo o mundo devido ao risco de contaminação pela covid-19, além de exames de imagem, como tomografia e raio-X.
A especialista Vera Costa Brito diz que “a ameaça é global de uma doença com virulência alta e letalidade importante, podendo levar ao colapso do nosso sistema de saúde. Os pacientes já com comprometimento pulmonar prévio são mais suscetíveis à covid-19, não temos testes em grande escala.”
Portanto, quanto menor a circulação de pessoas em locais públicos, mais se consegue preservar esses pacientes vulneráveis serem afetados pela covid-19.
Os tratamentos das doenças pulmonares devem ser mantidos e o afastamento social respeitado, assim como a adoção das medidas de higiene e vacinação contra a gripe.
E vale lembrar que para evitar doenças pulmonares, o primeiro passo e o mais importante deles é parar de fumar. Além disso, medidas de proteção no ambiente de trabalho para evitar a inalação persistente e continua aos poluentes ocupacionais são essenciais. "No tratamento, é fundamental o acompanhamento médico precoce para diagnóstico e interrupção na evolução da doença, o que melhora a qualidade de vida do indivíduo, além da intervenção do especialista aos agravamentos dos pacientes e controle das medicações broncodilatadoras inalatórias. Outro recurso no tratamento é a Fisioterapia Respiratória e, nessa época de pandemia, manter as medicações de base e o isolamento social.”
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