Secretaria Municipal da Saúde
Mônica Calazans conta a emoção de ter sido a 1ª vacinada contra a covid-19 no Brasil
Mônica segura o comprovante de vacinação: ela foi a primeira brasileira a receber a vacina contra a covid-19 (Foto: Governo do Estado de São Paulo)
Ao se tornar a primeira pessoa no Brasil vacinada contra a covid-19, na tarde do último domingo (17), a enfermeira Mônica Calazans, 54 anos, ganhou não apenas imunidade, mas também notoriedade. Ela soube que havia sido a escolhida para receber a primeira dose da Coronavac, a vacina produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac, poucas horas antes enquanto fazia plantão na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Emílio Ribas, onde trabalha desde o início da pandemia, no ano passado.
“Foi uma imensa surpresa. Recebi a notícia com muita alegria e emoção, é claro, mas também como uma grande responsabilidade de ser um exemplo e representar todos os brasileiros naquele momento”, relata. Além do Emílio Ribas, ela atua também na rede municipal de saúde desde 2018, no Pronto Atendimento (PA) São Mateus, onde deu início à carreira de enfermeira após concluir a graduação, aos 47 anos de idade.
É no PA São Mateus, inclusive, que ela diz ter vivenciado alguns dos momentos mais dolorosos da pandemia. “Como lá é feito apenas o atendimento inicial e os pacientes precisam ser transferidos para hospitais com estrutura de covid-19, é muito triste quando coloco alguém na ambulância e falo para os familiares que não podem acompanhar mais, que vão fazer contato por telefone e atualizar o estado em breve. Nesses segundos, sempre passa pela minha cabeça que aquele momento pode ser o último que aquela pessoa verá seu familiar, porque a gente não sabe como vai ser a evolução da doença. Isso para mim é diário e é o que mais me marca.”
Vocação para salvar vidas
Mesmo tendo perdido alguns colegas para a covid-19 - felizmente nenhum deles no PA São Mateus - e o Brasil sendo o país com o maior número de enfermeiros vítimas da doença no mundo - foram, até o momento, 519 óbitos, segundo o Observatório da Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) -, Mônica afirma que nunca pensou em parar de trabalhar na linha de frente da pandemia, apesar de ser do grupo de risco por ter diabetes, hipertensão e obesidade. “É uma questão de determinação e de responsabilidade, nunca tive medo pois meu propósito é ajudar as pessoas. Fiquei muito triste por amigos meus terem morrido por causa da covid-19, mas isso só alimentou mais minha vontade de continuar salvando vidas.”
Histórico: Mônica recebe a primeira dose da vacina contra a covid-19 e abre a campanha de vacinação no país (Foto: Governo do Estado de São Paulo)
Quando começou sua carreira profissional no Hospital das Clínicas (HC), em 1985, trabalhava como escriturária, e após algum tempo, percebeu que a parte administrativa não era desafiadora suficiente. Por isso, resolveu fazer um curso para ser auxiliar de enfermagem e passou em 1998 no concurso público do HC, onde trabalhou até 2018, quando, já formada em enfermagem, ingressou no PA São Mateus contratada pela Fundação ABC.
Sua garra para estudar e sua trajetória vitoriosa inspiraram o irmão Marcos Paulo, 44 anos, a seguir os mesmos passos e se tornar técnico em enfermagem. “Ele sempre gostou da profissão, mas resolveu atuar na área porque dizia que admirava meu jeito de trabalhar”, relembra, orgulhosa. Foi ao vê-lo em estado grave com covid-19 que ela decidiu ser voluntária da terceira fase dos testes clínicos da Coronavac - como ela havia tomado placebo, não estava imunizada ainda, por isso foi escolhida para tomar a primeira dose da vacina no país. “Meu irmão ficou 21 dias internado e especialmente os últimos sete dias de tratamento foram muito sofridos para nossa família. Em alguns momentos, a gente achou que ele não fosse sobreviver. Graças a Deus ele saiu dessa sem nenhuma sequela, voltou a trabalhar normalmente e seguiu a vida”, celebra.
Os holofotes da fama repentina mudaram a rotina da profissional. “Muitas pessoas estão ligando, pedindo informações, parabenizando. Eu não estava acostumada com isso, tenho uma vida normal! Hoje [segunda-feira, 18 de janeiro] foi um dia que o telefone não parou, tentei atender a todos da melhor forma possível, porque, afinal, represento os brasileiros que tanto esperam pela vacina.”
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Entre os pontos positivos e negativos provocados pela repercussão, ela diz só filtrar o que é bom. “Não quero dar audiência para as pessoas que querem manchar a minha imagem e a da vacina. Agora estou muito exposta, é uma coisa que não tenho como controlar, a opinião é de cada um, mas absorvo somente as coisas positivas.”
Ela acredita que todos serão vacinados como previsto e que o Brasil vai se recuperar com o tempo. Depois que tudo acabar, Mônica diz que quer aproveitar ao máximo o tempo com as pessoas que gosta, abraçando, beijando. Até lá, pede que todos continuem seguindo as medidas de higiene e proteção, para que possamos voltar à vida normal o quanto antes.
Samba no pé e maratonista de série
Paulistana, Mônica vive em Itaquera, na zona leste de São Paulo, com o filho Felipe, de 30 anos de idade. A família é um pilar muito importante na vida da enfermeira, que ajuda a cuidar de sua mãe, Denize, de 72 anos, também moradora da zona leste.
Mônica é apaixonada por maratonar séries e filmes e diz que principalmente durante a pandemia, quando não pôde sair para “bater perna”, explorou ao máximo essa paixão. Outro amor é o Carnaval. Ela conta que desfilou algumas vezes em escolas de samba e que é fã da Vai-Vai. Corintiana, também adora assistir a partidas de futebol e torcer para o seu time do coração.
Mônica com o filho Felipe e a sobrinha Ana (Foto: Arquivo Pessoal)